A adoção de medicamentos biossimilares pelos hospitais regrediu entre 2021 e 2023, alerta a associação do setor, que identifica diversas barreiras ao aproveitamento das potencialidades destes fármacos no Serviço Nacional de Saúde.

Na Semana Mundial dos Medicamentos Biossimilares (Global Biosimilars Week), que decorre esta semana, a Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (APOGEN) afirma que “existem diversos fatores que comprometem o uso mais generalizado destas alternativas terapêuticas biológicas em diversos contextos clínicos”.

Citando dados do ‘benchmark’ da autoridade nacional do medicamento (Infarmed), a associação refere, em comunicado, que o mercado nacional de medicamentos biossimilares em contexto hospitalar continua a apresentar quotas de mercado heterogéneas com valores de utilização que variam entre os 5,1% e 100%.

A presidente da APOGEN, Maria do Carmo Neves, salienta que, “apesar de se terem mapeado os determinantes, barreiras e facilitadores da utilização de medicamentos biossimilares nos hospitais públicos com a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa”, os níveis de adoção regrediram cerca de 13 pontos percentuais (p.p.), entre 2021 e 2023.

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Para a responsável, estes dados refletem “um potencial inexplorado na eficiência, sustentabilidade do SNS e no acesso aos cuidados de saúde”.

Segundo Maria do Carmo Neves, a não adoção de mais biossimilares impede que “mais pessoas possam beneficiar de melhores cuidados de saúde (…), incluindo o tratamento com medicamentos biológicos”.

Considera por isso fulcral “reforçar o papel e a relação da Comissão de Farmácia e Terapêutica com os conselhos de administração dos hospitais do SNS, assim como promover esclarecimentos e orientações dadas pelo Ministério da Saúde, à medida que vão surgindo novos medicamentos biossimilares”, fármacos altamente similares ao seu medicamento biológico de referência, que só podem ser comercializados após expirar a patente.

“A literacia é essencial para assegurar a tomada de decisões informadas na prevenção, na melhoria da qualidade de vida e na melhor gestão dos recursos da saúde pública, pelo que a maior compreensão de aspetos científicos, económicos e clínicos dos medicamentos biossimilares vai melhorar a confiança e a aceitação destas terapêuticas”, defende no comunicado.

A APOGEN recomenda a formação dos profissionais nos hospitais do SNS sobre os medicamentos biossimilares, especialmente em novas áreas terapêuticas logo que estes fármacos estejam disponíveis.

Salienta que a atratividade do setor e o ‘pipeline’ de lançamento dos novos biossimilares no futuro são baixos no mercado europeu.

Segundo dados do setor, dos 26 medicamentos biológicos de referência cuja patente expira até 2032, apenas 33% irão ter alternativa nos fármacos biossimilares.

Para Maria do Carmo Neves, “esta é uma oportunidade perdida”, defendendo ser prioritária “a aplicação de políticas para acelerar a entrada e o desenvolvimento de biossimilares, a racionalização dos estudos clínicos e a dinamização das condições de mercado a fim de permitir a maior disponibilidade, acessibilidade e pluralidade de oferta”.

Introduzidos em 2008 em Portugal, os biossimilares são usados na diabetes, no cancro, nas doenças autoimunes e na oftalmologia, assegurando uma elevada qualidade, eficácia e segurança com a vantagem de serem mais custo-efetivos.