No mesmo dia em que o Manchester United iniciava uma nova era com a primeira conferência de imprensa de Ruben Amorim em Carrington, o Sporting começava também o seu novo ciclo com João Pereira. Um ciclo com o ponto comum em relação ao antecessor de arrancar na condição de adjunto tendo em conta que está à espera do certificado de nível III de treinador, um ciclo que pretende tornar “único” no sentido de respeitar o bom que o agora técnico dos red devils deixou mas colocando também o seu cunho pessoal. “É uma situação impossível de copiar porque as pessoas são diferentes. Claro que seria um erro tentar alterar tudo e temos ideias semelhantes à anterior equipa técnica mas pouco a pouco verão algumas diferenças”, explicava Tiago Teixeira, o número 1 (em termos teóricos) da equipa técnica, na antecâmara da estreia em Alvalade.

Para primeiro encontro, o contexto era favorável. Por um lado, o Sporting tinha pela frente uma eliminatória da Taça de Portugal em casa; por outro, defrontava o Amarante, da Liga 3, numa semana em que alguns dos habituais titulares jogaram pelas seleções e/ou fizeram viagens mais longas – e com isso havia outra margem para eventuais poupanças antes das receções ao Arsenal (terça-feira) e ao Santa Clara (dia 30).

“Estamos muito entusiasmados e motivados porque o primeiro jogo vai ser em Alvalade. Estamos preparados para este desafio. Em relação ao Amarante, é uma equipa da Liga 3 mas num contexto de Taça, onde estas equipas tentam superar-se. Vamos encontrar um Amarante semelhante ao que tem sido na Liga 3. Querem deixar uma boa imagem e não vão fugir muito ao que têm sido. Estão em segundo lugar, na Taça de Portugal têm o melhor ataque e o melhor marcador. Analisámos bem esta equipa, tem jogadores rápidos na frente, dinâmicas vincadas, pode jogar em dois sistemas ofensivos… Para este jogo vão querer apresentar coisas novas mas estamos preparados”, garantira Tiago Teixeira antes da estreia pela equipa A.

“Não posso adiantar o onze mas será em função do que aconteceu nestas semanas. Os que estiveram mais tempo connosco, outros que fizeram os 90 minutos nos dois jogos da seleção… Vai ser uma gestão cautelosa porque queremos ter todos os jogadores disponíveis. Não há jogos fáceis e a nossa preparação com o Amarante será a mesma do que para o próximo jogo, seja com Arsenal, Santa Clara ou outro. Respeitamos todos os adversários e o objetivo é sempre o mesmo. Só tivemos sete ou oito jogadores do plantel principal disponíveis, temos de fazer uma gestão. Mesmo quem não jogou, teve viagens desgastantes, muito longas, tudo pesa nas escolhas. A partir de sábado pensaremos no próximo jogo”, assegurara o técnico adjunto.

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Todos os olhos estariam agora centrados em João Pereira, que até no banco não poderia ter propriamente a mesma ação do que terá quando tiver as habilitações para surgir como técnico principal do Sporting. Mais do que isso, todos os olhos estariam também centrados nas bancadas, tendo em conta o desafio que foi sendo lançado desde a saída de Ruben Amorim para que os adeptos tenham também o seu “peso” para facilitar a passagem de testemunho na equipa A. Tudo, claro, com uma garantia: como se viu mais uma vez em Braga, com uma reviravolta épica na segunda parte de 0-2 para 4-2, os leões encontram-se numa temporada de “maturação” em que o coletivo atingiu os níveis mais elevados desde a chegada de Amorim em 2020.

Os 45 minutos iniciais foram um espelho disso mesmo, não tanto por uma questão de mostrar ser superior ao Amarante, que era o que todos esperavam, mas pela forma como encararam a partida de forma séria para não darem sequer a hipótese ao adversário de pensar em qualquer tipo de surpresa. E dentro de uma exibição coletiva muito positiva, num Estádio José Alvalade com mais adeptos do que é normal para um jogo de Taça de Portugal numa sexta-feira às 20h45 contra um adversário da Liga 3, Francisco Trincão não só mostrou que merece muito mais em termos de Seleção como provou que, seja com Marcus Edwards, Geny Catamo, Pedro Gonçalves ou Conrad Harder como terceira unidade ofensiva, tem de ficar sempre a jogar da direita para o meio. É assim que enche todo o campo, como aconteceu mais uma vez esta noite. É assim que as bancadas leoninas cumprem também aquilo que mostram na tarja fora dele: “Lado a lado”.

As alterações nas opções iniciais confirmaram-se mesmo, com João Pereira a mexer de forma previsível em sete nomes face ao último onze de Braga: Kovacevic entrou para a baliza; Ricardo Esgaio e Fresneda ficaram com as alas, sendo que no caso do espanhol voltou a ser testado à esquerda como Amorim fizera na Taça da Liga com o Nacional; St. Juste e Gonçalo Inácio regressaram para ganhar minutos de competição; Marcus Edwards teve a oportunidade de entrar no ataque mas mais descaído sobre a esquerda, ao contrário do que acontecia quando estava em simultâneo com Trincão; Conrad Harder substituiu de forma direta Gyökeres, que na terça-feira à noite voltou a fazer 89 minutos pela Suécia na goleada por 6-0 com o Azerbaijão em que marcou quatro golos e fez mais duas assistências. Mudaram os nomes também a pensar no encontro com o Arsenal, mantiveram-se as dinâmicas, só houve uma equipa em campo desde o minuto inicial.

Francisco Trincão deixou o primeiro aviso logo a abrir, com um remate forte em zona central que saiu por cima da trave (4′). No entanto, uma das “nuances” em relação ao que era mais habitual na equipa leonina não demorou a fazer a diferença: Marcus Edwards veio da esquerda mais para o meio, recebeu o passe de Daniel Bragança, passou por dois adversários em velocidade fazendo o slalom para dentro e rematou de pé direito para o 1-0 sem hipóteses para Didi (8′). Pouco depois, numa jogada em que a subida com bola controlada de Matheus Reis fez toda a diferença, Daniel Bragança recebeu após uma desmarcação de rutura na área e teve tempo para levantar a cabeça e oferecer de bandeja o 2-0 a Ricardo Esgaio na pequena área (15′). Se a tarefa do Amarante já desafiava o impossível, aí passava a ser uma missão perdida por mérito do Sporting.

A atitude da formação leonina fez toda a diferença para deixar exposta a enorme diferença de qualidade entre as equipas, sendo que a permanência de Trincão à direita mesmo com Edwards acabou por ajudar e muito a mais uma exibição de encher o olho do internacional português (que realizou apenas sete minutos na última concentração de Portugal). Quando a bola caía ali, havia magia, havia rasgo, havia futebol. Foi assim que, após mais uma grande jogada individual, o ala passou por dois adversários e atirou ao poste antes da recarga de Harder na pequena área em desequilíbrio ao lado (27′). Foi assim que, no minuto seguinte, o esquerdino assistiu Conrad Harder que avançou com bola e atirou cruzado para o 3-0 (28′). Houve mais oportunidades criadas, como uma em que Fresneda atirou por cima (38′), mas o intervalo chegaria com mais um golo de Edwards, que bisou após assistência de Bragança numa jogada iniciada por Ricardo Esgaio (45′).

Ao intervalo, a pensar ainda mais na receção ao Arsenal, João Pereira trocou St. Juste e Hjulmand por Geovany Quenda e Morita, mantendo as mesmas dinâmicas mas agora com Ricardo Esgaio como central mais à direita (que era basicamente um lateral porque Quenda quase não precisava de descer). Essa mexida deu ainda maior fulgor a Trincão, que encontrava espaço fértil pelo meio para desequilibrar e fazer (mais) a diferença a assistir e também a marcar, como aconteceu numa das primeiras oportunidades da segunda parte após combinação com Harder antes do remate cruzado que deixou Didi sem reação (57′). Com 5-0 e uma quebra em relação à intensidade e agressividade sem bola dos leões, estava na hora de haver a primeira estreia absoluta de João Pereira (João Simões) e mais uns minutos de competição para Gyökeres.

O sueco não demorou a deixar uma quase marca, ganhando uma falta em posição central perto da área para assumir a marcação do livre direto e rematar em força para o lado do guarda-redes para fazer a bola bater com estrondo no poste (75′). No entanto, as atenções começavam a ficar centradas já no que se segue, com tempo para que João Pereira promovesse mais uma estreia com a entrada do jovem madeirense Henrique Arreiol para o lugar de Daniel Bragança e para que Gyökeres atirasse mais um balázio ao poste da baliza de Didi em novo livre direto (82′). O teste não era complicado mas houve sinais positivos para o Sporting neste início de ciclo, a começar pelos cerca de 37.000 espectadores que marcaram presença em Alvalade.