“A Intel anuncia que Pat Gelsinger se reformou da empresa após uma carreira distinta de mais de 40 anos e que saiu do conselho de administração, com efeitos desde 1 de dezembro de 2024.” É desta forma que arranca o comunicado da Intel, divulgado esta segunda-feira, sobre a saída de Gelsinger, o CEO da empresa há cerca de três anos.

Porém, a história que é contada pela Bloomberg e pela Reuters é outra: Gelsinger terá sido forçado a entregar o controlo por falta de confiança do conselho de administração no seu plano para revitalizar a empresa. Segundo fontes próximas, o board deu duas opções ao executivo — a reforma ou ser demitido.

O afastamento de Gelsinger acontece muito antes da conclusão do plano traçado para recuperar a liderança no mercado dos chips, um título que perdeu para a gigante TSMC, que fabrica os chips para a Nvidia. A empresa de Jensen Huang é uma rival da Intel e tem estado em particular destaque no mercado dos chips devido à febre da inteligência artificial, já que muitos dos modelos de IA são desenvolvidos recorrendo aos chips da Nvidia.

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Ao contrário da Nvidia, a Intel tem revelado algumas dificuldades no mercado da IA. A diferença de valor de mercado entre as duas tecnológicas é considerável: esta segunda-feira, a Intel fechou o dia com um valor de 103,21 mil milhões de dólares (98,3 mil milhões de euros), enquanto a Nvidia vale 3,395 biliões (trillion) de dólares, o equivalente a 3,23 biliões de euros.

O plano de revitalização de Gelsinger para a Intel também teima em não dar frutos. A 31 de outubro, quando a empresa revelou as contas do terceiro trimestre, comunicou ao mercado um prejuízo de 16,6 mil milhões de dólares (15,8 mil milhões de euros). Segundo o Wall Street Journal, foi a maior perda trimestral em 56 anos de história, e muito acima das estimativas dos analistas, que esperam perdas de 1,1 mil milhões de dólares (1,05 mil milhões de euros). Em parte, o valor foi justificado com os custos do plano de Gelsinger para a empresa.

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O executivo, de 63 anos, passou mais de 40 a trabalhar na Intel. Começou a trabalhar na empresa em 1979, quando ainda era um adolescente, e saiu apenas em 2009, para a VMWare, regressando em 2021 para assumir o cargo de CEO. Na despedida, referiu que a liderança da Intel foi a “honra” da sua vida. “Hoje é, claro, agridoce porque esta empresa tem sido a minha vida durante o principal da minha carreira laboral”, disse em comunicado. “Posso olhar para trás com orgulho e dizer que conquistámos muito juntos. Tem sido um ano desafiante para todos nós enquanto fazemos o que é necessário na atual posição da Intel para as atuais dinâmicas de mercado.”

A Intel nomeou dois executivos para partilharem o cargo de CEO enquanto o conselho de administração procura um substituto para Gelsinger. David Zinsner, o diretor financeiro da Intel, e Michelle Johnston Holthaus, até aqui CEO da Intel Products, vão assumir a liderança.