É de toma diária, sabe a carne e poderá prolongar a vida canina por, pelo menos, um ano. Um comprimido desenvolvido pela startup norte-americana Loyal vai ser disponibilizado no mercado em 2025 e promete avanços significativos na longevidade dos cães. Mas não só.
No passado, esta empresa com sede em São Francisco, na Califórnia, angariou 125 milhões de dólares (cerca de 120 milhões de euros) em financiamento proveniente de empresas que, inicialmente, estavam interessadas em investir em projetos relacionados com a longevidade humana. Porém, esses testes levariam décadas, e as empresas perderam o interesse. Pelo que a opção foi, ao invés, investir na investigação da longevidade canina. Mas segundo Celine Haliou, fundadora e CEO da Loyal, a investigação desenvolvida pela empresa e que deu origem aos comprimidos para cães também beneficiará os seres humanos.
“Se descobrirmos como prevenir o declínio da saúde nos cães que está relacionado com a idade poderemos aproximar-nos de fazer o mesmo com os humanos, porque cães e humanos têm doenças relacionadas com a idade que são parecidas. Partilham ambientes e hábitos que não partilhariam com ratos de laboratório”, sublinha Haliou. O comprimido tem como objetivo atrasar e reverter as mudanças metabólicas associadas ao envelhecimento, reduzindo a fragilidade imunológica ao conter aumentos de insulina, relacionados com o envelhecimento. “Não estamos a criar cães imortais”, destaca. “Este fármaco aumenta a longevidade prolongando a saúde e diminuindo o ritmo do envelhecimento”, esclarece.
Nos Estados Unidos, há mais um laboratório a investigar o impacto de um fármaco que tem os mesmos objetivos, a rapamicina. O Dog Aging Project é o primeiro estudo de grandes dimensões com animais em ambientes naturais a sugerir que a administração de pequenas doses de rapamicina pode aumentar a esperança de vida dos cães. Através da regulação do metabolismo e do crescimento celular, consegue melhorar funções cardíacas e cognitivas dos animais.
“O nosso estudo está a anos de luz de qualquer coisa que tenha sido feita ou possa ser feita com humanos”, disse Daniel Promislow, investigador da Universidade de Washington e codiretor do Dog Aging Project. Daqui a quatro ou cinco anos, altura em que se espera que os resultados do estudo sejam revelados, Promislow prevê que a rapamicina possa dar aos cães três anos extra de vida saudável. O investigador também está confiante na capacidade das conclusões da investigação também servirem aos seres humanos. “Se tivermos sucesso com os cães, pode ser um ponto de viragem no nosso conhecimento de como dar às populações humanas alguma vida saudável extra”, disse Promislow.
Antes, é necessário saber quais os parâmetros de saúde que devem ser medidos nos humanos, para averiguar o impacto de diferentes fármacos nos problemas de saúde provocados pelo envelhecimento, de acordo com Jamie Justice. Para esta professora adjunta de gerontologia e medicina geriátrica na Universidade de Wake Forest, neste momento, o objetivo da ciência deve ser chegar a um consenso em relação a esses parâmetros. “Depois, o trabalho que produzirá os resultados mais entusiasmantes de todos — porque são aqueles que vamos poder levar para o mercado — podem começar”, disse Justice.