O fim de semana de dérbis podia deixar Benfica, Sporting ou FC Porto na liderança isolada da Primeira Liga. Ou seja, resumindo e baralhando, ninguém queria ou podia perder pontos se quisesse ter a chance de dizer adeus a 2024 e olá a 2025 no primeiro lugar absoluto da classificação. E os primeiros a ser colocados à prova eram os dragões, ainda este sábado, contra o Boavista.

24 horas antes de o Sporting receber o Benfica, o FC Porto defrontava os axadrezados e estava obrigado a ganhar para saltar para a liderança provisória da Liga e esperar por um empate em Alvalade para encerrar o ano na liderança. Os dragões tinham a possibilidade de chegar à quarta vitória consecutiva, sendo que não perdiam há mais de um mês, e Vítor Bruno tinha noção de que a equipa tinha de ultrapassar os próprios obstáculos antes de sonhar com o resultado ideal no dérbi lisboeta.

Ficha de jogo

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FC Porto-Boavista, 4-0

16.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: João Gonçalves (AF Porto)

FC Porto: Diogo Costa, Martim Fernandes, Nehuén Pérez, Otávio, Galeno (Iván Jaime, 67′), Stephen Eustáquio (Alan Varela, 67′), Nico González (Vasco Sousa, 80′), André Franco (Danny Namaso, 80′), Rodrigo Mora (Gonçalo Borges, 80′), Pepê, Samu

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Tiago Djaló, João Mário, Deniz Gül

Treinador: Vítor Bruno

Boavista: César, Pedro Gomes (Marco Ribeiro, 71′), Rodrigo Abascal, Filipe Ferreira, Augusto Dabó (Gonçalo Almeida, 61′), Sebastián Pérez, Miguel Reisinho, Ilija Vukotic (João Barros, 83′), Salvador Agra, Róbert Bozeník, Bruno Onyemaechi

Suplentes não utilizados: Tomé Sousa, Manuel Namora, Tiago Machado, Alexandre Marques, Diego Llorente, Tomás Silva

Treinador: Cristiano Bacci

Golos: Samu (31′ e 88′), Nico González (55′), Rodrigo Mora (59′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Miguel Reisinho (29′), a Martim Fernandes (41′), a Nehuén Pérez (41′), a Nico González (45+2′), a Otávio (61′), a Rodrigo Abascal (81′)

“Não tem a ver com reduzir a margem, a nossa margem está reduzida por não estarmos na posição em que queremos estar. O dérbi de Lisboa para nós serve de pouco se não fizermos aquilo que temos de fazer. Sabendo, claro que também há um dérbi em Lisboa. De resto, o que se passa fora da nossa casa não interessa. Olhar para o todo é o melhor para atacar o jogo de amanhã. São indicadores que servem para estarmos em alerta permanente, para perceber que o jogo de amanhã terá um nível elevado porque é um dérbi. Vamos ter de estar muito perto daquilo que o Boavista oferecer, ter cabeça fria, perceber que é um adversário com qualidade. É um dérbi e um dérbi tem de ser ganho”, atirou o treinador dos dragões.

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Ora, para além de não contar com o lesionado Francisco Moura, Vítor Bruno surpreendia e deixava Fábio Vieira de fora da ficha de jogo, lançando André Franco no onze inicial. Rodrigo Mora, depois das boas indicações deixadas contra o Moreirense na última jornada, mantinha a titularidade. Do outro lado, num Boavista que não vencia desde o início de novembro e que está em zona de despromoção, Cristiano Bacci tinha o crónico Bozenik como referência ofensiva, apoiado por Bruno, Miguel Reisinho e Salvador Agra.

Os primeiros instantes do jogo mostraram desde logo que o Boavista não ia procurar esconder-se, resguardando-se numa organização defensiva que permitia lançar o contra-ataque sempre que o FC Porto deixava mais espaço nas costas. Bruno até protagonizou a primeira oportunidade da partida, com um remate ao poste que acabou anulado por fora de jogo (7′), mas a verdade é que o dérbi andou muito afastado das balizas durante o quarto de hora inicial.

O ascendente dos dragões era claro, já que tinham mais bola e estavam quase sempre inseridos no meio-campo contrário, mas a verdade é que a equipa de Vítor Bruno não tinha capacidade (ou engenho) para contornar a muralha do Boavista. Durante grande parte do primeiro tempo, o jogo foi equilibrado, bem disputado e agressivo q.b, mas nenhuma das equipas tinha muita inspiração na hora de chegar perto da baliza adversária.

Samu assustou César pela primeira vez já depois dos 20 minutos, com um remate enrolado que passou ao lado (25′), e a verdade é que já não demorou muito a abrir o marcador: Nico abriu em Martim Fernandes na direita, o lateral tirou um cruzamento perfeito e rasteiro para o segundo poste e Samu, a toda a velocidade, apareceu a desviar para a baliza (31′). O golo marcou um antes e um depois na primeira parte, com o FC Porto a assumir o controlo absoluto das dinâmicas e o Boavista a resignar-se a defender, sem capacidade ou possibilidade de explorar as transições ofensivas.

Samu teve uma grande oportunidade para bisar, com um remate cruzado ao lado depois de receber no peito na área (40′), e o próprio Martim Fernandes ficou perto de aumentar a vantagem com um pontapé rasteiro que César defendeu (44′). Ao intervalo, apesar de não estar a realizar uma exibição brilhante, o FC Porto estava a vencer o Boavista no Dragão e demonstrava-se tranquilo e essencialmente eficaz, aproveitando da melhor maneira as raras situações de finalização que construiu.

Nenhum dos treinadores mexeu ao intervalo, apesar de Martim Fernandes, Nehuén Pérez e Nico já terem todos cartão amarelo, e o FC Porto prolongou para o segundo tempo o domínio que tinha demonstrando na ponta final da primeira parte. Nico teve a primeira grande oportunidade para aumentar a vantagem, num lance em que não enquadrou uma recarga (50′), e o Boavista mantinha a expressão ofensiva reservada ao contra-ataque, com Bozenik a atirar para Diogo Costa encaixar numa dessas situações (53′).

No espaço de pouco mais de cinco minutos, porém, tudo ficou resolvido. Nico aumentou a vantagem com assistência de Rodrigo Mora, atirando de primeira na área para bater César (55′), e o mesmo Rodrigo Mora assinou o momento mais especial da noite com um delicioso remate em jeito, de pé esquerdo, na sequência de um contra-ataque (59′). Cristiano Bacci reagiu com a primeira substituição, lançando Gonçalo Almeida, e Vítor Bruno colocou Alan Varela e Iván Jaime, com Martim Fernandes a passar para a esquerda da defesa e Pepê a recuar para o lado direito.

O FC Porto foi acumulando oportunidades, com Samu a permitir a defesa de César na cara do guarda-redes (65′) e Iván Jaime a atirar ao lado logo depois de entrar (69′), e o Boavista limitou-se a sobreviver. Vítor Bruno ainda teve tempo para lançar Gonçalo Borges, Danny Namaso e Vasco Sousa, permitindo a ovação do Dragão a Rodrigo Mora, e Samu fechou as contas ao bisar já à beira dos descontos com um remate forte na área na sequência de um canto (88′).

O FC Porto goleou o Boavista no Dragão e subiu à liderança provisória do Campeonato, com mais dois pontos do que o Benfica e mais três do que o Sporting, assistindo ao dérbi de domingo no sofá e à espera de um empate entre encarnados e leões. Rodrigo Mora voltou a ser titular, voltou a marcar e voltou a assistir, deixando um estádio inteiro aos pés de um rapaz franzino de 17 anos que está tornar-se uma das figuras da equipa de Vítor Bruno.