O Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, vai repetir o concurso internacional para o cargo de diretor artístico, depois de o candidato vencedor do concurso lançado há dois meses, o realizador e encenador Tiago Guedes, ter recusado. O novo procedimento para a seleção da direção artística para o quadriénio de 2025-2028 deve abrir “no primeiro semestre de 2025”. A informação foi partilhada pelo TNSJ em comunicado esta segunda-feira, um dia antes de o atual diretor artístico, Nuno Cardoso, terminar o mandato.
Segundo o comunicado, o júri do concurso lançado a 14 de outubro, constituído por Pedro Sobrado (presidente do conselho de administração do TNSJ), Cláudia Leite (vogal do conselho de administração do TNSJ), Alexandra Moreira da Silva (professora universitária e investigadora teatral), Luísa Costa Gomes (escritora, dramaturga e tradutora) e Salvador Santos (produtor teatral e gestor cultural), deliberou, por unanimidade, a designação do realizador e encenador Tiago Guedes para a direção artística do teatro.
No entanto, “o candidato vencedor do concurso retirou a sua candidatura, invocando compromissos profissionais em 2025, que se revelaram inadiáveis e incompatíveis com o exercício das funções para que seria designado”, pode ler-se no texto enviado às redações. Tiago Guedes, 53 anos, realizador de filmes como A Herdade (2019) ou Restos do Vento (2022), trabalha como encenador desde 2006. Este ano, encenou a peça À Primeira Vista, de Suzie Miller — um dos 10 espetáculos que marcaram 2024 para o Observador.
Ao Observador, Tiago Guedes adianta que o motivo para a recusa em assumir o cargo foi a pré-produção do próximo filme, Trilogia de Jesus, com rodagem prevista para 2025. A longa-metragem de ficção, com produção da Leopardo Filmes, conta com um apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual de 650 mil euros. Alterações nas datas de produção tornaram “incompatível” a realização do filme em simultâneo com a direção do Teatro Nacional, explica o realizador e encenador.
Considerando que, nos termos do regulamento do concurso, não há lugar à seriação e ordenação das candidaturas não selecionadas na fase de decisão e nomeação, o Ministério da Cultura determinou, sob proposta do conselho de administração do TNSJ, a realização de um novo concurso para a direção artística em 2025, fez saber o Teatro Nacional São João, em comunicado. Cabe agora ao conselho de administração “apresentar à tutela, até 30 de abril, os elementos necessários para a abertura de um novo concurso”, consta no texto enviado às redações.
Até à conclusão do novo concurso, o Ministério da Cultura “determinou que a execução da programação artística é assegurada internamente pelas equipas do TNSJ”. Contactado pelo Observador, Pedro Sobrado, presidente do conselho de administração do TNSJ, não quis adiantar mais pormenores, nomeadamente sobre a possibilidade de designar uma direção artística interina.
Recondução de atual diretor artístico foi descartada
“Candidatei-me, mas o júri achou melhor outra proposta”, confirma ao Observador Nuno Cardoso, atual diretor artístico da instituição e que chegou à shortlist de onde saiu vencedor Tiago Guedes. “Estou habituado, ao contrário do que muita gente anda para aí a dizer, a fazer uma proposta e a lutar por ela de uma maneira limpa”, adianta, sublinhando: “A minha ideia do que é o Teatro Nacional está plasmada nos últimos seis anos”.
Cardoso recusa revelar se vai candidatar-se ao novo concurso. “Ainda não sei”, começa por dizer. “Tenho muito trabalho próprio e só depois disso é que pensarei”, responde, lembrando que tem digressões em curso, como a da peça Fado Alexandrino. “Veremos. A única coisa que tenho de fazer é seguir em frente”, remata.
A direção artística do TNSJ é, desde 2019, assumida por Nuno Cardoso, cujo mandato cessa esta terça-feira, 31 de dezembro de 2024. Cardoso sucedeu a Nuno Carinhas (2009-2018) e a Ricardo Pais (2002-2009), que acumulou a direção artística do TNSJ com a presidência do Conselho de Administração. Ainda antes de o São João ser convertido em Entidade Pública Empresarial em 2007, Eduardo Paz Barroso (1992-1995), Ricardo Pais (1995-2000) e José Wallenstein (2000-2002) assumiram a direção do então Instituto Público.
Desde 2023 que a designação dos diretores artísticos dos Teatros Nacionais é precedida de um concurso internacional. A escolha por concurso de diretores artísticos dos teatros nacionais e das unidades do Opart, em vez das habituais nomeações, foi uma medida do governo socialista de António Costa. O então ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, sustentava a mudança com “a importância de separar as escolhas artísticas e as opções políticas do Governo”.
Notícia atualizada às 15h10 para incluir as declarações do atual diretor do TNSJ, Nuno Cardoso.