Foi uma derrota que foi bem mais do que uma derrota. Ao perder em Alvalade com o Sporting, o Benfica perdeu a liderança do Campeonato, perdeu a oportunidade de vencer um rival direto e perdeu a chance de afundar ainda mais os leões no buraco negro onde se encontravam. De lá para cá, acabou um ano e começou outro: e Bruno Lage sabia que os encarnados não podiam arrancar 2025 de outra maneira que não com uma vitória.

O adversário, porém, estava longe de ser o mais apetecível. O Benfica recebia este sábado um Sp. Braga que também vinha de uma derrota, contra o Casa Pia, e que precisava de todos os pontos necessários para se aproximar do Santa Clara e da zona de apuramento para as competições europeias. A ideia de desperdiçar pontos pela segunda jornada consecutiva, ainda assim, não passava pela cabeça do treinador encarnado.

Ficha de jogo

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Benfica-Sp. Braga, 1-2

17.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Luís Godinho (AF Évora)

Benfica: Trubin, Alexander Bah (Renato Sanches, 67′), Tomás Araújo, Otamendi, Álvaro Carreras, Fredrik Aursnes (Arthur Cabral, 45′), Kökçü, Leandro Barreiro, Di María (Jan-Niklas Beste, 82′), Pavlidis (Schjelderup, 67′), Aktürkoğlu (Amdouni, 67′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, António Silva, Rollheiser, Florentino

Treinador: Bruno Lage

Sp. Braga: Matheus, Víctor Gómez, Robson Bambu, Niakaté (João Ferreira, 31′), Adrián Marín, Vitor Carvalho, Gorby (Diego Rodrigues, 45′), Bruma, Ricardo Horta (Roger, 82′), Gabri Martínez (Bright Arrey-Mbi, 65′), Fran Navarro (Amine El Ouazzani, 82′)

Suplentes não utilizados: Lukáš Horníček, João Moutinho, André Horta, Ismaël Gharbi

Treinador: Carlos Carvalhal

Golos: Fran Navarro (17′), Robson Bambu (40′), a Arthur Cabral (78′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gorby (36′), a Di María (52′), a Matheus (54′), a Arthur Cabral (79′), a Leandro Barreiro (88′), a Jan-Niklas Beste (89′), a João Ferreira (90+3′)

“Fundamentalmente, temos de ter a ambição e determinação de continuar a fazer um bom trabalho. Quem treina um clube com a dimensão do Benfica tem de ter essa ambição diária. E a minha ambição, a minha motivação diária, é no sentido de fazer o que for possível para fazer crescer a equipa, fazer crescer os jogadores, e continuar a fazer evoluir a equipa para ir ao encontro daquilo que é a ambição e a exigência dos nossos adeptos. Nós somos um grande clube e temos de ser esse grande clube diariamente”, explicou Bruno Lage na antevisão, desvalorizando o facto de ter feito análises muito distintas das de Di María ou Otamendi à exibição em Alvalade.

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Ora, neste contexto, Bruno Lage recuperava a titularidade de Pavlidis e deixava Amdouni no banco, colocando ainda Leandro Barreiro no meio-campo em detrimento de Florentino. Do outro lado, no reencontro com o antigo adjunto, Carlos Carvalhal não podia contar com o lesionado Zalazar e estreava o recém-chegado Fran Navarro como referência ofensiva, apoiado por Ricardo Horta e Bruma, mantendo o sistema de três centrais.

Os primeiros instantes do jogo mostraram desde logo que, de forma algo surpreendente, Kökçü era o jogador que surgia na posição central e mais recuada do meio-campo. O Benfica teve a primeira oportunidade do encontro, com Pavlidis a fugir na direita e a ultrapassar Matheus para depois rematar ao poste (8′), mas a verdade é que o Sp. Braga não precisava de muito para criar perigo, lançando transições rápidas pela esquerda ou pelo meio que deixavam a defesa encarnada algo desposicionada.

Na primeira ocasião de que beneficiou, o Sp. Braga marcou. Víctor Gómez subiu no terreno e descaído na direita, tirou um passe perfeito a isolar Fran Navarro e o avançado espanhol, na cara de Trubin, atirou para marcar no jogo de estreia pelos minhotos (17′). Mais do que a passividade dos jogadores mais recuados do Benfica, ficou clara a ausência de recuperação defensiva de Aktürkoğlu, que ainda estava muito longe do lance no momento em que já era suposto surgir nas dobras a Carreras.

O Benfica não conseguiu reagir ao golo sofrido e era mesmo o Sp. Braga a criar as principais situações de perigo, com Otamendi a evitar um desvio de Ricardo Horta na área (24′) e Bruma a atirar rasteiro para defesa de Trubin (27′). A equipa de Bruno Lage tinha mais bola, mas não conseguia assentar no meio-campo contrário ou entrar sequer no último terço adversário para construir oportunidades, falhando um número alarmante de passes e evidenciando uma falta de inspiração que dava origem a um silêncio constrangedor na Luz.

Carlos Carvalhal foi forçado a mexer ainda na primeira parte, lançando João Ferreira no lugar do lesionado Niakaté, e os minhotos conseguiram mesmo aumentar a vantagem: canto cobrado na esquerda e Robson Bambu, a saltar totalmente sozinho no coração da grande área, cabeceou para bater Trubin (40′). Otamendi ainda ameaçou o golo com um cabeceamento por cima da trave (45′), mas o Benfica foi mesmo para o intervalo a perder com o Sp. Braga — e era impossível fugir às exibições apagadas de Aktürkoğlu ou Kökçü, tanto defensivamente como na pobreza ofensiva.

Bruno Lage mexeu logo ao intervalo e abdicou de um elemento do meio-campo, Fredrik Aursnes, para lançar mais um avançado, Arthur Cabral. Já Carlos Carvalhal jogou pelo seguro e tirou Gorby, que já tinha um cartão amarelo, para estrear o jovem Diego Rodrigues, que nunca tinha jogado pela equipa principal do Sp. Braga. O Benfica ameaçou o golo ainda dentro dos dez minutos iniciais da segunda parte, com um remate forte de Bah que Matheus defendeu (52′), e parecia ter regressado do intervalo com outra intensidade e vontade — ainda que com relativo discernimento.

Os minhotos deixaram progressivamente de atacar, apostando apenas na transição rápida quando os encarnados perdiam a bola, mas a equipa de Bruno Lage também não conseguia criar oportunidades de forma consistente e agudizava-se o dia infeliz de Aktürkoğlu, Pavlidis ou até Di María. Carlos Carvalhal fez a terceira substituição nesta fase, trocando Gabri Martínez por Bright Arrey-Mbi, e Bruno Lage respondeu ao lançar Renato Sanches, Amdouni e Schjelderup de uma só vez.

O avançado suíço teve uma ocasião para marcar assim que entrou, com um remate rasteiro que Matheus encaixou junto ao relvado (68′), e o jogo entrou numa fase mais incaracterística e quezilenta, com muitas paragens e sem grandes lances de perigo. Já dentro do último quarto de hora, porém, um remate em força relançou o resultado: Leandro Barreiro ganhou uma bola na direita e soltou Arthur Cabral, que atirou forte e de pé esquerdo para bater Matheus (78′). 

Carlos Carvalhal lançou Roger e El Ouazzani para os últimos minutos, Bruno Lage ainda trocou Di María por Beste, mas já nada mudou até ao fim. O Benfica perdeu com o Sp. Braga — que vai voltar a defrontar já na próxima semana, na meia-final da Taça da Liga — na Luz, sofreu a segunda derrota consecutiva e a primeira em casa no Campeonato, e não conseguiu igualar o Sporting na liderança da classificação. Mais uma vez, como tinha acontecido em Alvalade, os encarnados deram a primeira parte de avanço e só acordaram na segunda — e alguém tem de recordar Bruno Lage de que um jogo de futebol tem mesmo 90 minutos.