A IBM acredita que a computação cognitiva lançou uma nova era de revolução digital. Foi com o mote da “Economia de perspetiva” que começou esta segunda-feira em Las Vegas o encontro anual de quadros da empresa onde se apresentam os objetivos tecnológicos para o próximo ano.

E a direção é clara e assumida: a nível global, mais de um terço da investigação da IBM está concentrada na computação cognitiva. A aposta é grande e representa uma crença na transformação dos paradigmas – de tal forma que a empresa compara este avanço à revolução industrial, falando mesmo numa “revolução da informação”.

E nesta revolução a equação é rápida de explicar: os dados são captados pela Internet das Coisas e depois processados pela computação cognitiva avançada, que produz conhecimento pronto a usar. É uma questão de “dar escala ao conhecimento, tornando-o útil para lá dos dados”, confirma Mike Rhodin, vice-presidente da empresa que tem a seu cargo o Watson – que é o sistema cognitivo da empresa que todos os anos aumenta as áreas de influência estrutural.

A IBM quer que o seu sistema Watson seja o portal da digitalização do mundo físico que está em curso. A aposta é num cenário em que as gigantescas quantidades de dados que hoje se produzem de forma digital sejam armazenadas na nuvem computacional e processadas por sistemas evoluídos capazes de extrair informação útil a um nível nunca visto. A empresa apresenta um plano em que os resultados têm o potencial para mudar a forma como combatemos doenças, enfrentamos o trânsito e criamos negócios. É “a concretização da promessa da economia digital”, assumem os especialistas que a IBM pôs em palco neste primeiro dia do encontro.

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O que está em causa na computação cognitiva é uma lógica tecnológica que coloca as máquinas a colaborar com o ser humano no processamento de informação – através da inteligência artificial que permite que a máquina aprenda a partir dos dados que analisa sem necessidade de se reprogramar.

Um sistema cognitivo tem três princípios fundamentais: a capacidade de aprendizagem através da deteção de padrões que resultam da análise de grandes quantidades de dados; a modelação de um domínio dentro do qual é processada a informação que chega; e a criação de hipóteses probabilísticas extraídas da informação, que depois são testadas face aos resultados.

A computação cognitiva é ao mesmo tempo o resultado da economia de informação e uma solução para o excesso de dados criado com essa mesma economia de informação. Desde o início da computação nos anos cinquenta do século passado, começou a ser analisada informação. Hoje, com a Internet das Coisas, existe já um ecosistema em que biliões de aparelhos produzem informação a uma escala incapaz de ser entendida por humanos – mas que as máquinas mais poderosas conseguem incorporar, digerir e produzir conhecimento. O objetivo é melhorar o meio que nos rodeia, dando origem a decisões mais fundamentadas e capazes de enfrentar problemas reais.

Um bom exemplo é o clima: é impossível a um ser humano, ou a um grupo de seres humanos, processar toda a informação necessária para criar um bom sistema de antevisão climática. A quantidade de dados disponíveis e necessários para detetar padrões é tão grande que se torna impossível antever a médio prazo com os sistemas tecnológicos atuais. Aí entra a computação cognitiva, que tem a capacidade de analisar a tremenda quantidade de informação disponível, criando hipóteses, testando-a face aos resultados e procurando um padrão de avaliação fiável e rigoroso. Na parte final do processo, o ser humano recebe um conjunto de análises testadas e fundamentadas que podem dar origem a linhas de ação sustentadas na ciência.

O sistema Watson da IBM é o mais avançado na indústria da computação cognitiva. Criado para processar enormes quantidades de dados, acabou por evoluir para um sistema capaz de apreender informação e produzir hipóteses sobre essa mesma informação, aproximando-a da forma de pensar de um ser humano mas imensamente mais poderosa.

Muitos outros gigantes tecnológicos estão a investir nesta área que até há poucos anos era exclusiva da ficção científica. E independentemente das empresas que liderarem esta transformação, a computação cognitiva está aí para ficar e para mudar de forma profunda as sociedades mais avançadas. De um padrão industrial espera-se que se avance para um modelo informatizado em que a antecipação de soluções para os problemas será uma realidade.

Isto terá efeitos a curto prazo em indústrias como a medicina, o urbanismo, a energia, o comércio, as telecomunicações, a defesa, etc. E pode mesmo transformar o planeta graças às potenciais aplicações em questões como as alterações climáticas, a exploração aeroespacial e a produção agrícola.

O Observador viajou para Las Vegas a convite da IBM.