A figura do criador de televisão nem sempre foi a mais respeitada ou sequer conhecida. Isso mudou nos últimos 15 anos, mais coisa menos coisa. Gente como David Chase, que criou “Os Sopranos”, Matthew Weiner, que fez “Mad Men”, ou David Simon, de “The Wire”, conquistaram visibilidade e boa crítica. Mas entre os criadores mais falados não existem tantas mulheres como homens e a verdade é que neste campeonato o crédito é dividido. “Orange is the New Black”, que regressa esta sexta-feira para a quarta época na Netflix, foi adaptada por Jenji Kohan para o formato televisivo a partir do livro de Piper Kerman. Kohan já tinha dado ao mundo “Erva” (“Weeds”, no original) e faz parte de uma geração de mulheres que comanda a televisão — e que em “Orange is The New Black” comanda um elenco que é composto quase unicamente por mulheres. A propósito deste regresso — e do trabalho de Jenji Kohan — juntamos outras dez criadoras sem as quais a televisão seria qualquer outra coisa muito diferente (e menos interessante).

[o trailer da nova temporada de “Orange is The New Black”]

https://www.youtube.com/watch?v=c6O9rfoz0f8

Shonda Rhimes

Shonda Rhimes foi responsável pelo argumento de “Destinos”, o filme que Britney Spears protagonizou em 2002. Escusado será dizer que não é por isso que está nesta lista. Rhimes é a criadora de séries como “Anatomia de Grey”, o respectivo spin-off “Clínica Privada” e “Scandal” – que teve a proeza de ter em Kerry Washington a primeira protagonista negra de uma série americana de horário nobre desde os anos 1970 –, além de produtora executiva de “Como Defender um Assassino”. Fundadora da ShondaLand, a companhia de produção, comanda um enorme império televisivo.

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Tina Fey

A criadora de “Rockefeller 30” (“30 Rock” no original), sitcom da qual também era protagonista, e “Unbreakable Kimmy Schmidt”, colega de “Orange is the New Black” na Netflix, começou na comédia de improviso em Chicago e foi a primeira mulher a tornar-se chefe de argumentistas dessa instituição da comédia que é “Saturday Night Live”. É das primeiras provas que se podem usar contra quem ainda usa a antiquada deixa do “as mulheres não têm piada”. Parem com isso.

https://www.youtube.com/watch?v=mNKEKlXY3Z4

Jill Soloway

Antes de criar “Transparent”, Jill Soloway passou pela equipa de argumentistas de “Sete Palmos de Terra”, foi responsável pelo colectivo de escribas para Jane Lynch apresentar os Emmy, em 2011, e ainda escreveu e realizou o subvalorizado “Afternoon Delight”, de 2013. “Transparent”, da Amazon, chegou há dois anos e conta a história do patriarca de uma família que assume, aos 60 e muitos anos, que é uma mulher transgénero. Além disso, convenhamos que” Transparent” é das melhores coisas que a televisão deu ao mundo nos últimos tempos.

Mindy Kaling

Depois de anos na versão americana de “O Escritório”, onde foi argumentista e atriz – antes tinha feito de Ben Affleck em “Matt & Ben”, uma peça de teatro cómica que ficcionava a forma como Affleck e Matt Damon escreveram o “O Bom Rebelde” –, Mindy Kaling criou em 2012 “The Mindy Project”, que começou na FOX e hoje vive na plataforma de streaming Hulu. Foi a primeira amulher de ascendência indiana a criar e a protagonizar a sua própria série.

https://www.youtube.com/watch?v=_uwanee-lS4

Lena Dunham

Aos 25 anos, e muito mediaticamente, Lena Dunham, que só tinha feito dois filmes poucos vistos, tornou-se a criadora e protagonista de “Girls”. Lena, em conjunto com a sua criação “Girls”, é uma referência e uma influência inegável tanto na escrita como na produção televisiva. Mais do que isso, conquistou mesmo o estatuto duplo de símbolo pop e de feminismo, pela sua criatividade mas também por uma atitude muito própria.

Nahnatchka Khan

Os pais de Nahnatchka Khan imigraram do Irão para os Estados Unidos e ela, que nasceu em Las Vegas, cresceu no Havai. Depois de uma passagem por “American Dad!”, criou “Apartamento 23” em 2013 – protagonizada pela actriz Krysten Ritter, que agora é a estrela de “Marvel’s Jessica Jones”, da Netflix. Há um ano adaptou para televisão as memórias de Eddie Huang, o cozinheiro americano cujos pais vieram de Taiwan, e deu ao mundo a bem sucedida “Fresh Off the Boat”, a primeira sitcom americana centrada numa família de origem asiática desde os anos 1990.

Liz Meriweather

“New Girl”, a criação de Liz Meriwether, que antes tinha trabalhado em teatro, escrito episódios da bizarra e hilariante “Childrens Hospital” e o filme “Sexo Sem Compromisso”, chama-se em português “Jess e os Rapazes”. É um nome pouco digno para a sitcom com Zooey Deschanel da qual Prince era fã acérrimo – tanto que até apareceu num episódio, algo que não era propriamente comum para o músico.

Rebecca Sugar

Em 2013, Rebecca Sugar criou “Steven Universe” para o Cartoon Network. É a história de um miúdo com pouco ar de herói mas com super poderes que são capazes dos feitos mais surpreendentes. Antes, Sugar tinha passado por “Adventure Time”.

https://www.youtube.com/watch?v=0TIYU9PlPOo

Ilana Glazer e Abbi Jacobson

Neste caso é uma dupla, mas funciona como uma só entidade. Tudo começou na internet, em 2009. Ilana Glazer e Abbi Jacobson começaram a fazer uma série web chamada “Broad City” e foram atraindo alguma atenção com episódios com homenagens a Spike Lee e cameos de Amy Poehler. Foi esta última que, como produtora executiva, as ajudou a passar da internet para a televisão. A série passa na Comedy Central e além de outros programas criados por mulheres – como o “Daily Show”, que foi da responsabilidade de Madeleine Smithberg e Lizz Winstead – a Comedy Central também é a casa da bizarra e esgrouviada série cómica de época “Another Period” de outra dupla, Natasha Leggero e Riki Lindhome.

Rachel Bloom

Depois de vários vídeos virais com canções hilariantes, Rachel Bloom criou no ano passado (com a ajuda de Aline Brosh McKenna, de “O Diabo Veste Prada”) “Crazy Ex-Girlfriend”, uma sitcom por ela protagonizada que é também dada a momentos musicais. Centra-se numa mulher que troca Nova Iorque e uma carreira promissora na advocacia por West Covina, uma cidade na Califórnia onde não existem muitas oportunidades — ou seja, nenhumas. Tudo para poder estar perto do seu primeiro amor de infância, que não vê há muitos anos. Boas razões, portanto.

https://www.youtube.com/watch?v=-ctFmXGm_yE