A Polícia Judiciária (PJ) fez buscas no Estádio da Luz, durante a manhã desta quinta-feira, no âmbito do chamado “caso dos emails”. A notícia, avançada pela revista Sábado, foi confirmada pela Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL).

A SIC Notícias avançou entretanto que Paulo Gonçalves, assessor jurídico do presidente Luís Filipe Vieira, terá sido constituído arguido na qualidade de advogado do Benfica. Como está em causa o segredo profissional, Gonçalves teve de ser constituído arguido para que as buscas se concretizassem na presença de um representante da Ordem dos Advogados — organismo que zela pelo cumprimento do segredo profissional.

Paulo Gonçalves é um dos homens mais relevantes na estrutura do Benfica. Contratado ao Boavista na década passada (onde trabalhou com a família de Valentim Loureiro), Gonçalves é muito próximo de Luís Filipe Vieira. Não só trata de coordenar as defesas do clube nas várias frentes da justiça desportiva como, mais importante do que isso, negoceia e elabora todos os contratos de contratação do futebol profissional do Benfica — um verdadeiro homem do presidente que é uma peça-chave nos negócios de milhões das compras e vendas de jogadores de futebol. Só na época de 2016/2017, o Benfica teve receitas de 123 milhões de euros com as transferências.

Num comunicado publicado no site, a PGDL refere que “no âmbito de um inquérito da 9ª secção do DIAP de Lisboa foram emitidos mandados de busca domiciliária e não domiciliária, relativos a investigação em curso pelos crimes de corrupção passiva e ativa”. Na nota, a PGDL esclareceu que “no inquérito investiga-se a prática, por parte de um suspeito, dos referidos crimes, relacionados com os denominados emails do Benfica”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além de buscas no estádio, de acordo com a Sábado, as casas do comentador Pedro Guerra e do presidente do clube, Luís Filipe Vieira, foram também alvo da operação policial.

A notícia surge apenas algumas semanas depois de a mesma revista o ter noticiado que o juiz Jorge Marques Antunes recusou autorizar a realização de buscas. De acordo com um artigo publicado no final de setembro, o juiz justificou a decisão com o facto de o processo ter por base correspondência obtida de forma ilícita, que não pode ser utilizada como meio de prova. Assim, as buscas que estavam previstas às instalações do Benfica, ao gabinete e residência de Luís Filipe Vieira, do assessor jurídico, Paulo Gonçalves, e à casa de Pedro Guerra acabaram por cair por terra.

Juiz impede buscas ao Benfica no caso dos emails e deixa Polícia Judiciária em polvorosa

Benfica: “Ainda bem que cá vieram”

O caso começou com a divulgação de vários emails por parte de Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, no Porto Canal, com temas como a alegada ligação do Benfica às claques não legalizadas do clube. Marques voltou ao ataque nos programas de 6 e 13 de junho do canal de televisão, durante os quais leu correspondência entre Paulo Gonçalves, Pedro Guerra, o ex-árbitro Adão Mendes e o delegado da Liga Nuno Cabral, entre outros, a partir da qual concluía que o Benfica estava implicado num “esquema que envolve arbitragem e adultera a verdade desportiva”.

Num comunicado divulgado no site do clube, o Benfica confirmou que “foram realizadas operações de recolha de informação nas instalações do Estádio da Luz por elementos da equipa de investigação da Polícia Judiciária”. As buscas ocorreram “meia hora” depois de o clube ter “tomado conhecimento dessas diligências através da Comunicação Social”.

Estas operações, que pecam por tardias, são encaradas com a maior normalidade pela Sport Lisboa e Benfica SAD, que desde o primeiro momento requereu e disponibilizou-se a fornecer toda a informação necessária a um cabal esclarecimento de toda esta situação, reiterando a sua total colaboração ativa nos trabalhos que estão em curso para o apuramento da verdade”, refere a mesma nota.

O porta-voz dos advogados do clube, João Correia, também deixou o desabafo, em declarações à agência Lusa.

“Até que enfim que cá vieram. Perante as insinuações, sugestões feitas relativamente a factos fraudulentos praticados pelo Benfica, todos queríamos, avidamente, o único meio para destruir essas acusações, que era este episódio que se passou aqui hoje. Que a PJ cá viesse para verificar em pormenor se era verdadeiro. Estávamos desejosos que isso acontecesse”, assegurou. Para João Correia, a ausência de “celeridade na investigação”, acabou por permitir “sistemáticas ofensivas ao Benfica, enquanto instituição, diretores e funcionários”.

“Estamos cansados, até como cidadãos, de verificar que a cada semana se anuncie novo crime para a seguinte. Não conheço nenhum país civilizado em que isto seja possível. Na próxima semana vou praticar outra vez um crime e tudo continua paz do senhor”, criticou, referindo-se às revelações, que chegaram a ser semanais, de Francisco J. Marques.

O advogado especialista em direito criminal defende “punição” para o Benfica “caso se verifique o crime de corrupção ou influência perversa dos resultados desportivos”, mas também deseja um “forte castigo” para quem tem acusado o clube, caso os pressupostos se verifiquem infundados. E recordou ainda as queixas do clube quanto à violação do seu sistema informático, lamentando que ainda nenhuma autoridade nacional tenha dado seguimento às mesmas.

“O sistema informático do Benfica foi invadido. Isso é crime. Não há resultados desse crime. Verdadeiros ou falsos – e não interessa muito se são ou não – os emails são propalados como sendo próprios do Benfica. Na hipótese de o ser, é uma violação de correspondência”, acusa.

O Benfica reforço “o seu apelo a uma rápida e urgente investigação para defesa do seu bom-nome, responsabilização de quem sistematicamente tem cometido diversos crimes e no sentido da normalização institucional do futebol Português“. “Aliás, a Sport Lisboa e Benfica SAD aguarda que sejam investigados os autores materiais da violação do seu sistema informático, o que, apesar de reiteradamente solicitado, ainda não foi executado.”

Bruno de Carvalho: “A Justiça está a funcionar”

O presidente do Sporting já reagiu às buscas efetuadas no Benfica. À saída de uma audiência no Ministério da Educação, Bruno de Carvalho celebrou o facto de a “justiça estar a funcionar”.

“[Buscas no Benfica?] Significa que a Justiça está a funcionar. É fundamental para o futuro do futebol que a Justiça funcione e nós acreditamos que vai funcionar”, afirmou o presidente leonino.