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Como um pontapé do meio da rua transformou a crise numa oportunidade (a crónica do Benfica-Sporting)

Este artigo tem mais de 5 anos

Segundo dérbi, segunda vitória (2-1). Benfica foi melhor, encostou Sporting às cordas, esteve perto do KO mas cedeu um assalto a Bruno Fernandes, que qual chinês transformou crise em oportunidade.

Gabriel e Bruno Fernandes, os dois melhores de cada uma das equipas, num dérbi com resultado igual em história diferente
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Gabriel e Bruno Fernandes, os dois melhores de cada uma das equipas, num dérbi com resultado igual em história diferente

Gabriel e Bruno Fernandes, os dois melhores de cada uma das equipas, num dérbi com resultado igual em história diferente

Foi um pequeno dado, um daqueles pormenores que quase ninguém liga, mas valeu bem mais do que isso: ao vencer em Alvalade por 4-2 para o Campeonato, o Benfica igualou o número de triunfos do Sporting na condição de visitante. Ou seja, e explicando tim tim por tim tim, é mais ou menos assim: quando as águias recebem FC Porto e leões, ganham; quando os dragões jogam em casa com encarnados e verde e brancos, ganham; quando o Sporting defronta como visitado os azuis e brancos, ganha; a partir de agora, e pelo menos até à próxima temporada, quando é anfitrião do Benfica, está tudo empatado. É uma estatística? Sim. São números, quantificáveis. Mas também um sinal dos tempos. De esperança para uns, da dura realidade para outros.

Benfica vence Sporting por 2-1 e ganha vantagem na meia-final da Taça de Portugal

Bruno Lage, mais do que um trabalho coletivo que começa a aparecer, surge como um grande gestor de expetativas. No final do triunfo em Alvalade, disse o óbvio (que o Benfica foi melhor) mas não passou a barreira da excessiva confiança, do menosprezo, de um complexo de superioridade que, há não muitos anos, acabou por terminar num beco sem saída para quem entrou por esse caminho. Foi assim depois do primeiro dérbi, foi assim antes do segundo dérbi. Houve um soundbyte curioso a que ninguém passou ao lado, quando o técnico recorreu aos desenhos animados que o filho via no Canal Panda quando chegou a casa (Super Wings) para falar da evolução de João Félix e da importância do coletivo para o individual se destacar. No entanto, aquilo que mais queria dizer sobre futebol veio mais tarde, explicando um dos maiores segredos do ressurgimento das águias: a necessidade de haver uma boa transição defensiva para se construir de trás e o segredo para uma boa transição ofensiva.

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Por seu turno, Marcel Keizer percebe agora onde chegou, uma realidade atípica dentro do contexto futebolístico potenciado por inúmeros fatores que são demasiado conhecidos. Ou seja, nem tempo teve para gerir expetativas. Entrou naquela espiral entre “bestial” por ter ganho vários jogos seguidos com muitos golos e “besta” por ter começado a ceder terreno irrecuperável a nível pontual no Campeonato. Pelo meio, ganhou a Taça da Liga e arriscou ser goleado em casa pelo velho rival – entre os dois pratos da balança, o segundo colocou o primeiro em plano secundário. Dentro daquela veia autofágica que fica sempre mais saliente quando os resultados não aparecem, chegaram-se mesmo a ver lenços brancos mas o holandês não se desviou da postura calma e ponderada de análise, garantindo que o importante é recuperar a equipa física e mentalmente, ao mesmo tempo que destacou que Frederico Varandas chamou o plantel para falar “do clube, das suas ideias e do projeto que tem para o Sporting”. “Este projeto segue com passos para cima, mas por vezes damos um passo para baixo”, disse.

A primeira meia-final da Taça de Portugal era uma oportunidade para os dois conjuntos. No final, ganhou o Benfica por 2-1 mas o Sporting teve o condão de, por obra e graça da inspiração de Bruno Fernandes (outra vez), transformar como nos caracteres chineses o que tinha tudo para redundar em forma espiral na crise (mais uma) numa oportunidade. Os leões estiveram perto do KO mas terminaram fora das cordas.; já as águias falharam golpe final quando podiam e foram surpreendidos por gancho “impossível” que equilibrou mais os números. O Benfica, que anda de exame em exame sem ter propriamente tempo para estudar, como tinha dito Bruno Lage, teve nota positiva mas não dispensou a oral da segunda mão, ao passo que o Sporting, que nesta altura quer é passar cadeiras, voltou a chumbar mas ganhou a hipótese de chegar à positiva no jogo em Alvalade.

Dérbi teve de novo casa quase cheia à noite: entre domingo e quarta-feira, houve nove golos em dois jogos (Filipe Amorim / Global Imagens)

Enquanto Bruno Lage fez apenas uma troca por obrigação (Svilar por Vlachodimos, castigado) e outra por opção (Salvio no lugar de Rafa), Keizer promoveu uma revolução no onze e trocou metade dos jogadores deixando tudo igual na baliza e no meio-campo: Ilori e Borja fizeram a estreia na defesa; Jovane Cabral voltou a ser aposta e Acuña regressou depois de alguns problemas físicos (pelo menos na versão oficial do clube) para a ala; Luiz Phellype foi lançado como unidade mais ofensiva, no lugar de Bas Dost. No entanto, essa não foi a principal alteração promovida pelo técnico holandês – num regresso às suas origens quando chegou a Alvalade, houve uma maior aposta na construção por trás, pela certa, com Bruno Fernandes mais próximo de Gudelj para dar o critério nessa primeira fase que faltara no domingo. Faltou o resto. Um resto que era quase tudo.

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Benfica-Sporting, 2-1

1.ª mão da meia-final da Taça de Portugal

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Luís Godinho (AF Évora)

Benfica: Svilar; André Almeida, Rúben Dias, Jardel (Ferro, 38′), Grimaldo; Samaris, Gabriel; Salvio (Rafa, 61′), Pizzi (Cervi, 79′); João Félix e Seferovic

Suplentes não utilizados: Zlobin, Gedson Fernandes, Krovinovic e Jota

Treinador: Bruno Lage

Sporting: Renan Ribeiro; Bruno Gaspar, Coates, Ilori, Borja; Gudelj, Bruno Fernandes, Wendel (Bas Dost, 76′); Jovane Cabral (Diaby, 71′), Acuña e Luiz Phellype (Raphinha, 90′)

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Jefferson e Petrovic

Treinador: Marcel Keizer

Golos: Gabriel (16′), Tiago Ilori (64′, p.b.) e Bruno Fernandes (82′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Tiago Ilori (2′), Jardel (28′), João Félix (49′), Bruno Gaspar (58′), Gabriel (62′), Rafa (71′), Diaby (90+1′) e Coates (90+4′)

Logo a abrir, para aquecer ainda mais os ânimos, Tiago Ilori viu o amarelo mais rápido em dérbis desde a época de 2011/12 (no mesmo segundo minuto de Elias, por curiosidade) mas nem por isso o Sporting deixou de arriscar uma linha mais subida, como que abrindo o convite ao Benfica para arriscar a profundidade acreditando ter mudanças suficientes para evitar despistes iguais aos que tinham acontecido no domingo. E a verdade é que, no primeiro quarto de hora, houve apenas um lance que poderia ter provocado problemas, com o remate de Gabriel a sair muito, muito por cima após passe de Salvio para a entrada da área (6′). No entanto, o leque de opções dos encarnados estava longe de se esgotar nesses movimentos e, numa transição rápida que começou a meio-campo com uma habilidade de João Félix, Seferovic teve uma tentativa perto do poste de Renan (12′).

Se em Alvalade tinha sido o jogo de João Félix, este começava a ser o jogo de Gabriel, até face aos posicionamentos e zonas de pressão que o Sporting preparou para este encontro. Essa era a tendência e mais se acentuou aos 16′, quando o médio que tinha marcado pela última vez frente ao Real Madrid no Santiago Bernabéu há mais de um ano inaugurou o marcador numa jogada que pode ser descrita com as palavras de Bruno Lage no lançamento do jogo. “Queremos ter bola e construir a partir de trás. Não há no mundo uma equipa que queira ter bola e que tenha uma transição defensiva fraca. Trabalhamos esse momento porque quantas mais vezes recuperarmos a bola no meio-campo ofensivo melhor pois estamos mais longe da nossa baliza. Vejam a quantidade de vezes em que começamos a construir num corredor e chegamos ao outro com transições orientadas. Ligamos ao meio e os médios, já sabendo do posicionamento dos outros jogadores, recebem e rodam. São apontamentos que, ligados às questões do jogo, tornam-se ricos”. Neste caso, a construção não começou de trás mas foi essa transição orientada com mudança de corredor que permitiu a combinação entre Salvio e Pizzi até à assistência para o remate vitorioso de Gabriel.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Benfica-Sporting em vídeo]

O Benfica já estava mais confortável no encontro; em vantagem, adensou esse cenário. Até ao intervalo, os encarnados tiveram mais algumas boas aproximações à área de Renan, sem que o último passe para a finalização entrasse em muitos momentos, mas chegando ao final dos 45 minutos iniciais com um total de seis tentativas à baliza; já o conjunto verde e branco resumiu-se no plano ofensivo a um remate perigoso de Bruno Fernandes, que Svilar defendeu para a frente. No plano ofensivo, mesmo depois da troca do lesionado Jardel por mais um miúdo estreante, Ferro, não houve sequer incursões no último terço contrário…

No segundo tempo, as características do encontro mantiveram-se. Havia menos Benfica do que em Alvalade mas mais Benfica no controlo do jogo. Havia mais Sporting do que em Alvalade mas menos Sporting na capacidade de chegar a zonas adiantadas. É certo que Bruno Fernandes, tudo o que faz, faz bem – mas o problema é que só pode estar num lugar ao mesmo tempo. Já Gabriel continuava a desafiar as leis da probabilidade, com uma omnipresença em campo que o colocava à direita quando as marcações pensavam que estava na esquerda e à esquerda quando todos olhavam para a direita. Até que apareceu Wendel, esta noite a jogar mais adiantado e a conseguir explorar pela primeira vez o espaço entre linhas que se criava face ao balanceamento das águias. No entanto, na melhor oportunidade até aí, o brasileiro teve um desvio incompreensível ao lado da baliza de Svilar, num lance onde apareceu isolado na área descaído sobre a esquerda explorando um mau posicionamento da defesa contrária.

Bruno Lage percebi alguma queda no Benfica. Na explosão nas transições, no discernimento dos movimentos, na forma como a equipa se deixava enredar por um jogo menos intenso que a posse do Sporting no seu meio-campo motivava. Por isso, lançou Rafa no lugar de Salvio. Não houve um impacto direto na subida de produção por influência do internacional português mas, já depois de uma bola parada onde Rúben Dias apareceu sozinho a cabecear à figura de Renan, os encarnados experimentaram a sorte e o azar (e algo mais) que também fazem parte de qualquer jogo: aos 64′, Seferovic cruzou em balão uma bola ao segundo poste, João Félix conseguiu ainda dar vida a um lance morto, atirou cruzado e Ilori desviou para a própria baliza, naquele que foi o seu primeiro autogolo na carreira; aos 66′, em mais uma jogada que teve o suíço como protagonista inicial, Grimaldo apareceu na área com tudo para aumentar a vantagem mas o desvio saiu ao lado da baliza verde e branca.

O Sporting estava à beira do KO total e, depois de mais um lance onde Wendel esteve muito perto de marcar (75′), Keizer arriscou tudo com a entrada de Bas Dost para jogar ao lado de Luiz Phellype, num 4x4x2 mais puro com dois pesos pesados na frente de ataque. A ideia era boa, faltava o resto – bola. Porque sem bola, podem ser dois, três ou quatro pesos pesados na frente que não têm possibilidade de criar o mais leve perigo. Seferovic ainda teve um remate para defesa de Renan, Grimaldo teve uma bola entre o cruzamento e a tentativa de visar a baliza que por pouco não encontrou João Félix para o toque final mas seria o suspeito do costume a resgatar uma equipa nas cordas: Bruno Fernandes, num fantástico golo de livre direto, reduziu para 2-1 aos 82′ e manteve pelo menos a meia-final em aberto durante dois meses, altura em que se realizam os 90 minutos finais da eliminatória. E Dost ainda festejou de forma efémera o empate, num lance em cima dos descontos que já tinha sido interrompido antes por falta do holandês sobre Svilar num cruzamento da esquerda onde o internacional português voltou a estar envolvido.

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