O resultado da última Assembleia Geral que contou com participação de mais de 1.200 associados mostrou o período de acalmia que o clube vive em termos institucionais (mais de 80% votaram a favor do Relatório e Contas de 2021/22) mas nem por isso uma organização tem de pensar da mesma forma. Esta semana foi mais um exemplo disso mesmo, com Rúben Amorim a deixar sempre a ideia de que o Sporting poderia ter feito muito mais 11×11 contra o Marselha, numa realidade que ficou condicionada desde muito cedo nos dois jogos, e Frederico Varandas, presidente dos leões, a dizer que “o normal era perder os dois encontros mesmo 11×11”. “Se o Sporting tem a ambição de passar a fase de grupos? Tem. Se tem a obrigação e responsabilidade? Só se uma pessoa for louca…”, acrescentou entre elogios ao trabalho da equipa.

Mais uma surpresa: Varzim elimina Sporting da Taça e coloca leões em crise com sexta derrota em 14 jogos

“O Sporting acredita muito no seu processo de trabalho. Estamos a crescer de ano para ano. Temos o privilégio de ter um dos melhores treinadores do mundo, um grupo de trabalho de grande qualidade e profissional. Faltam sete meses para terminar a época e o Sporting vai estar na decisão de todos os títulos até ao final do ano”, destacou o líder leonino este sábado, à entrada para a reunião magna. “O presidente falou no que é a ideia e o plano geral de uma competição. Uns têm umas condições, nós temos outras. Podemos lutar pela passagem e esse é o nosso papel. A ideia é passar, temos os mesmos pontos do ano passado e vamos à luta”, referiu a esse propósito Rúben Amorim, antes de admitir que, apesar de todas essas contas, a semana acabou por ficar marcada por novo desaire e tudo o que aconteceu com o Marselha.

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“Foi uma semana difícil. Com o Marselha não conseguimos competir, isso cria frustração. Entre estes dois jogos houve o Santa Clara, que me deixou irritado, sobretudo pela segunda parte. Mas não foi a derrota mais difícil de digerir. Foi uma semana difícil, por culpa nossa”, assumiu o técnico. “Sempre disse que tenho muitos defeitos, falta de experiência, o feitio… Às vezes corre bem, às vezes corre mal. Percebo a frustração dos adeptos, eu também senti. A única maneira de dar a volta a isto é ganhando jogos. Posso ter as mesmas atitudes que são vistas de forma diferente consoante os resultados que temos. Os adeptos têm toda a razão para estar chateados com o treinador porque não ganhamos jogos, perdemos uma posição favorável na Liga dos Campeões, não percebemos bem como. Passaram os jogos e não conseguimos nem jogar… O importante agora é manter o foco, ganhar ao Varzim e seguir em frente”, acrescentou.

Apesar desse foco, Amorim assumia que iria fazer algumas mexidas na equipa condicionadas também por uma virose que apanhou alguns jogadores do plantel principal leonino. “O Arthur apanhou uma virose, o Porro também e está mais ou menos, diferente do Arthur que não vai conseguir jogar. O Nazinho recuperou mas também tem uma virose, o Seba [Coates] não recuperou. Entre o Franco e o Adán, vai jogar o Franco, deu uma grande resposta. O Soto [Sotiris Alexandropoulos] também vai jogar porque o Ugarte está todo roto. O Jovane vai ser convocado, já deve estar equipado para ver se entra”, ironizou o técnico na antecâmara do jogo em Barcelos. E Esgaio? “Temos de fazer a gestão do plantel, do momento, e temos de ganhar. Há poucos anos o Sporting foi eliminado pelo Alverca, vamos apresentar o melhor onze fazendo aqui ou ali alguma rotação. Têm de esperar pelo jogo para verem a melhor forma de gerir a situação”.

Esgaio ficou mesmo de fora para deixar o jogador à parte de tudo depois da semana complicada que teve, Rúben Amorim rodou apenas alguns jogadores e lançou Paulinho de início. O avançado, aquele que após o Marselha tinha sido também defendido pelo técnico apesar de nem ter entrado, acabou por ficar como um espelho de tudo aquilo que o Sporting fez de mal (ou não fez de bem) em Barcelos frente a um Varzim que esteve sempre organizado, esperou pela oportunidade para ferir o adversário e não permitiu ao longo de 90 minutos que os leões tivessem sequer uma chance clara de golo. Mais: numa bola parada defensiva, foi o avançado que fez uma assistência inadvertida para João Faria marcar o 1-0 decisivo que valeu a sexta derrota em 14 jogos esta temporada e provou que a equipa tenta disfarçar mas está em crise.

[Ouça aqui a análise de Pedro Henriques à arbitragem do Varzim-Sporting no Sem Falta]

“Golo do Varzim é irregular”

Ficha de jogo

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Varzim-Sporting, 1-0

3.ª eliminatória da Taça de Portugal

Estádio Cidade de Barcelos

Árbitro: Bruno Costa (AF Viana do Castelo)

Varzim: Ricardo; Tito, João Faria, Bruno Bernardo, Tiago Cerveira; Bonilla, Paulo Moreira, Rúben Gonçalves (Jorge Vilela, 64′), Joãozinho (Ludovic, 83′); Léo Teixeira e Onyeka (Guga, 64′)

Suplentes não utilizados: Tiago Pereira, Latón, Quivira, Diogo Ramalho, Matheus e Gustavo

Treinador: Tiago Margarido

Sporting: Franco Israel, Gonçalo Inácio, Marsà; Matheus Reis; Porro (Fatawu, 61′), Morita (Rochinha, 77′), Alexandropoulos (Pedro Gonçalves, 46′), Nuno Santos (Jovane Cabral, 85′); Francisco Trincão, Marcus Edwards (Ugarte, 61′) e Paulinho

Suplentes não utilizados: Adán, Nazinho Renato Veiga e Diogo Travassos

Treinador: Rúben Amorim

Golo: João Faria (70′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Trincão (17′), Alexandropoulos (44′), Rochinha (82′) e Ricardo (90+1′)

O encontro começou com os leões a conseguirem assentar arraiais no meio-campo do Varzim mas sem terem propriamente grandes oportunidades. Francisco Trincão, num movimento diagonal da direita para o meio, teve um primeiro remate ao lado (8′), ao passo que Gonçalo Inácio, na sequência de um pontapé de canto na esquerda, desviou de cabeça por cima da baliza de Ricardo (11′). Os poveiros sentiam dificuldades na saída mas começaram depois a respirar num jogo mais direto em Onyeka que conseguia explorar bem a profundidade para segurar bola, permitir que a equipa respirasse e procurar depois soluções. Léo Teixeira teve também uma boa iniciativa travada por Trincão numa zona perigosa que valeu amarelo (17′).

O encontro manteria as mesmas características até ao intervalo, com o Varzim a ter um único lance de maior perigo junto da área do Sporting com um cruzamento da esquerda para Joãozinho a ser desviado por Franco Israel fora da baliza evitando males maiores (33′) e os leões a terem um remate de ângulo quase impossível por Pedro Porro que bateu na parte de fora do poste da baliza de Ricardo depois de ter ganho a linha pela direita mas não ter encontrado linhas de passes para a assistência (35′). De resto, uma tentativa meio atabalhoada de Alexndropoulos que saiu por cima (39′) e um remate de pé esquerdo de Morita que saiu ao lado na sequência de uma boa jogada de envolvimento pela esquerda (44′).

O 5x4x1 sem bola do conjunto da Póvoa de Varzim conseguia bloquear grande parte do jogo ofensivo da formação verde e branca, que conseguia dar largura pelos alas Pedro Porro e Nuno Santos mas ficava sem espaços no último terço para poder desequilibrar, com Edwards a perder-se em zonas do terreno onde não tinha margem para as situações de 1×1 que tanto gosta e Paulinho a ser pouco mais do que uma referência sem bola na frente, perante a incapacidade de encontrar espaços e movimentos para o último toque. Assim, e logo ao intervalo, Rúben Amorim lançou Pedro Gonçalves para o lugar de Alexandropoulos, tentando posicionar o internacional português no espaço entre linhas que ficava entre médios e defesas.

O segundo tempo começou pelo menos mais “mexido”, com Nuno Santos a deixar uma primeira ameaça num remate forte após segunda bola de fora da área que saiu muito perto do poste da baliza de Ricardo (48′) e Bruno Bernardo a aproveitar a lentidão da defesa leonina para aliviar a bola da zona de perigo na sequência de um livre lateral para desviar também perto do alvo (54′). Depois, e em duas raras ocasiões, Paulinho surgiu a desviar ao primeiro poste um cruzamento rasteiro de Porro para defesa de Ricardo antes de tentar também de calcanhar após passe de Nuno Santos mas a desviar num defesa contrário e a sair para canto (56′). A dinâmica era outra, as dificuldades eram muitas vezes as mesmas e foi por isso que Amorim voltou a mexer com as entradas de Fatawu e Ugarte para os lugares de Porro e Edwards.

Havia uma espécie de regresso à fórmula original dos leões, com Pote a subir para uma das três posições ofensivas e Ugarte a colocar-se com Morita no meio-campo, mas nem o Sporting ganhou mais domínio com essa decisão nem conseguiu outra presença no último terço para inaugurar o marcador. Aliás, quase que se foi colocando em jeito para poder ser ferido numa saída em transição do Varzim. Numa primeira ameaça, Joãozinho aproveitou uma bola que atravessou toda a área para tirar enrolado para defesa de Franco Israel (66′); mais tarde, neste caso após livre lateral da direita, Paulinho desviou ao primeiro poste na tentativa de fazer o corte e João Faria surgiu no poste contrário a fazer o 1-0 no jogo (70′). E entre muita pressão e tentativas de chegar ao empate, a surpresa estava mesmo selada sem retorno.