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A Gyökerização do pinheiro Paulinho entre dois bonsais (a crónica do Sporting-Rio Ave)

Este artigo tem mais de 1 ano

Sporting superou em 45 minutos o primeiro teste sem Gyökeres com um Paulinho mais solto e completo, um Edwards que desequilibrou e um Morita cada vez mais dono e senhor dos momentos do jogo (2-0).

Paulinho marcou o quinto golo em seis jornadas, juntando-se a Bozenik no topo dos melhores marcadores do Campeonato
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Paulinho marcou o quinto golo em seis jornadas, juntando-se a Bozenik no topo dos melhores marcadores do Campeonato

Paulinho marcou o quinto golo em seis jornadas, juntando-se a Bozenik no topo dos melhores marcadores do Campeonato

Num lance, num mero gesto, numa fração de segundo conseguiu ver-se o ótimo, o bom e o mau do Sporting que fez reset de uma temporada falhada em 2022/23 depois dos passos seguros com títulos que foi seguindo desde que Rúben Amorim assumiu o comando técnico da equipa. E viu-se o ótimo, o bom e o mau num só jogador, Viktor Gyökeres. Porquê? Na perspetiva dos leões, é ótimo perceber que asseguraram um avançado que não desiste de nenhuma bola morta na área além de todo o trabalho que faz ao longo dos jogos e que foi a chave da metamorfose do futebol verde e branco a par de Hjulmand e também foi bom encontrar o caminho que abrisse alas ao fim da maldição austríaca para uma entrada a ganhar na Liga Europa mas, em paralelo, a forma como acabou por cair com o joelho em posição crítica fez soar alarmes em Alvalade – e daí advinha a tal parte má. “Protegido” ao longo da semana apenas com tratamentos e sem trabalho de campo até pelo receio de haver algo mais grave, o sueco ficava assim em dúvida para a receção ao Rio Ave.

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A própria forma como Rúben Amorim assumiu a questão acabou por apanhar tudo e todos de surpresa nesta era em que todos os treinos são à porta fechada e pouco ou nada se sabe sobre o que se passa para lá daquelas quatro paredes que limitam os centros de treinos. Nas três perguntas anteriores que tinham ventilado Viktor Gyökeres não tinha existido qualquer referência a problemas físicos, quando abordou a questão dos nomes que estavam lesionados (que são agora três, entre Jeremiah St. Juste, Afonso Moreira e João Muniz) ficou a “revelação”. “O Viktor está em dúvida, deixo-vos esta”, atirou. Ou seja, a equipa que tem funcionado muito à base de “Gyökeres e mais dez” por tudo aquilo que oferece em termos individuais (exemplo: depois de sofrer nove faltas com o Moreirense, acabou o jogo com o Sturm Graz aos 90′ a ter de ser placado como se fosse um momento de luta livre por um central contrário) e às dinâmicas coletivas tinha um problema extra.

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“Termos um plantel mais equilibrado pode ajudar, nesta e em todas as fases, mesmo com um jogo por semana. Aumenta a qualidade no treino, toda a gente sabe que pode entrar ou sair da equipa. Isso faz toda a diferença e faltou um bocadinho no ano passado. Juntámos três jogadores, da base perdemos o Ugarte, houve outros jogadores que saíram para criar dinâmicas diferente.s Óbvio que nos ajuda. Agora talvez não faça grande diferença, todos treinam a pensar no onze, mas no futuro. Temos essa ideia para que mantenham o nível, se não há outros para jogar”, explicara entre elogios ao Rio Ave, “uma equipa com um excelente treinador, muito inteligente e esperto no jogo e com um sistema parecido de três centrais, apesar de parecer mais um 3x5x2”. “É difícil, perigoso, mas queremos manter esta dinâmica de vitórias”, frisara.

“Não tenho visto os rivais, não sei como andam a jogar. Vi o Sp. Braga porque jogamos há pouco tempo com eles. Em relação ao quarto lugar da época passada, cada jogo e cada Campeonato tem a sua história. Mantivemos a base, começámos bem, foi importante ganhar ao Vizela dentro daquele sufoco. Ganhando os primeiros jogos cria-se uma dinâmica diferente, adeptos ficam mais confiantes e levam a equipa atrás. Tudo se junta. Fizemos um reset do Campeonato passado, tal como quando fomos campeões. Fechou a loja, vamos começar outra coisa de novo. Não é contradição, houve uma história, um Campeonato. Limpámos, fizemos as coisas com mais calma, preparámos bem mas isto pode mudar de um momento para o outro”, salientara.

A certa altura, já depois de ter elogiado aquilo que o avançado trouxe à equipa e ao clube e de ter garantido que não iria fazer qualquer tipo de poupanças ou gestão “muito menos no Campeonato”, Amorim abordou a questão do número de faltas elevado que Gyökeres tem sofrido desde o início da época (muitas delas tudo menos meigas) mas falando sempre do sueco como se não tivesse qualquer impedimento de alinhar com o Rio Ave. Era aí que entroncava a grande dúvida, não só pela presença ou não do jogador mas também pela forma como a equipa poderia apresentar-se sem contar com a referência que em cinco jornadas na Liga tinha três golos, uma assistência, sete oportunidades criadas, 19 remates e um total de 20 faltas sofridas.

Rúben Amorim estava mesmo a falar a sério em relação ao sueco, deixando a figura que esteve em 40% dos golos, assistências e ocasiões flagrantes do Sporting no banco. No final, nem teve a necessidade de forçar a sua utilização mas também pelo mérito das sementes que o avançado deixou na equipa: 1) Paulinho parece outro a jogar, mais solto, mais capaz de explorar a profundidade ou jogar em apoio, mais confiante, mais entrosado com as unidades ofensivas num processo de Gyökerização com características diferentes mas a ser capaz de disfarçar a ausência do sueco; 2) Marcus Edwards conseguiu o jogo que há muito andava à procura, não só equilibrando a canalização de jogo ofensivo pelos corredores que tem sido tendencialmente à esquerda mas desequilibrando no 1×1 com aquele golo “impossível”; 3) sendo certo que Morten Hjulmand foi importante enquanto teve forças, Morita voltou a fazer um jogo de grande qualidade em todos os momentos. Ou seja, faltando a grande referência da equipa, um pinheiro e dois bonsais fizeram a diferença.

Ficha de jogo

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Sporting-Rio Ave, 2-0

6.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Cláudio Pereira (AF Aveiro)

Sporting: Adán; Diomande (Neto, 90+1′), Coates, Gonçalo Inácio; Ricardo Esgaio (Geny Catamo, 77′), Morita, Hjulmand (Daniel Bragança, 67′), Nuno Santos (Matheus Reis, 77′); Marcus Edwards (Francisco Trincão, 67′), Pedro Gonçalves e Paulinho

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Fresneda, Dário Essugo e Gyökeres

Treinador: Rúben Amorim

Rio Ave: Magrão; Pantalon, Aderllan Santos, Patrick (Miguel Nóbrega, 71′); Costinha, Guga (Ventura, 48′), Amine (Vítor Gomes, 85′), Sávio (Zé Manuel, 46′); João Graça (Ukra, 71′), Fábio Ronaldo e Leonardo Ruíz

Suplentes não utilizados: Jhonatan, Lomboto e Hernâni (Joca era titular mas lesionou-se e foi substituído no onze por João Graça)

Treinador: Luís Freire

Golos: Paulinho (10′) e Marcus Edwards (26′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Aderllan Santos (18′), Leonardo Ruíz (47′), Coates (48′), Fábio Ronaldo (57′), Ukra (72′) e Ventura (90+2′)

Mesmo sem o sueco, o Sporting entrou a tentar manter a mesma postura de domínio que tem marcado as entradas em Alvalade, explorando sempre que possível a largura no seu jogo e a profundidade que sobretudo Nuno Santos conseguia dar pela esquerda. Depois, e mais uma vez, havia Hjulmand no meio-campo, a fechar os espaços para transições dos vila-condenses e a ocupar o corredor central com um jogo simples que coloca a equipa verde e branca a manobrar entre flancos à procura dos espaços que pudessem aparecer frente a um Rio Ave que atrás apostava num quase jogo de parelhas com os três da frente do Sporting. Quando algo não acontecia como previsto, havia perigo. E foi assim que nasceu mesmo o primeiro golo do jogo, com Marcus Edwards a ir da direita para o meio numa jogada de envolvimento que começou em Nuno Santos, Morita a conseguir o movimento de rutura entre centrais e Paulinho a ter só de encostar na área (10′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-Rio Ave em vídeo]

Não se podia propriamente falar de “saudades” de Gyökeres. Primeiro porque Paulinho estava a fazer um jogo ao melhor nível dos que fez desde que chegou a Alvalade, com uma mobilidade e uma procura de todos os espaços na profundidade ou em apoio que permitissem iniciar jogadas ofensivas. Depois porque toda a equipa estava a saber reagir bem à perda da bola como um bloco, não dando qualquer margem de saída ao Rio Ave que o máximo que conseguia era ter alguns períodos com mais posse mais para respirar do que para avançar. O 2-0 passou de natural para inevitável e apareceu ainda antes da meia hora inicial, com Hjulmand a conseguir uma recuperação no primeiro terço dos vila-condenses descaído sobre o flanco direito e Marcus Edwards, que teve um arranque de temporada muito discreto como Francisco Trincão, a abrir o livro com aquele pé esquerdo mágico de finta curta para o remate sem ângulo quase na linha para golo (26′).

Na primeira partida após um jogo europeu a meio da semana, o Sporting arrancava aquela que foi a sua melhor meia hora inicial num encontro este Campeonato, deixando o Rio Ave reduzido a um único objetivo de não sofrer mais até ao intervalo para poder alterar alguma coisa que invertesse o sentido único da partida. No entanto, Pedro Gonçalves teve perto de não permitir sequer essa “benesse” em duas ocasiões, primeiro a acertar na trave após mais uma grande jogada coletiva de envolvimento com cruzamento de Paulinho para o remate sem deixar cair a bola (30′) e depois num lance em que Magrão travou a tentativa isolado na área pressionado por um defesa contrário (34′). Era notória a vontade que Pote tinha de marcar no regresso ao onze após ter descansado na Liga Europa mas o descanso chegou mesmo com dois golos de vantagem.

O encontro voltou depois com nuances distintas que poderiam ter alterado ainda mais a partida. Além da substituição de Sávio por Zé Manuel ao intervalo, que colocou Fábio Ronaldo a fazer toda a ala esquerda com melhoria a pique em termos de caudal ofensivo, e da subida das linhas de pressão que colocavam outro tipo de problemas ao Sporting na fase de construção, o Rio Ave teve uma oportunidade de ouro para reduzir a desvantagem e reentrar na partida num desvio de cabeça de Costinha após livre lateral de Ventura que foi golo mas acabou anulado por fora de jogo de seis centímetros (50′). Nuno Santos, em mais uma trivela de artista na área após recuperação em zona adiantada, obrigou Magrão a uma defesa apertada (56′) mas o domínio avassalador da primeira parte ficara no balneário, também por mérito dos visitantes.

Ainda assim, o ímpeto ofensivo do Rio Ave acabou por ir abrandando com o passar dos minutos. Leonardo Ruíz, avançado paraguaio que passou pela equipa B dos leões, teve duas tentativas no corredor central de fora da área sem sucesso (63′ e 66′, a última defendida por Adán), Ventura teve também uma tentativa de longe por cima (74′) mas os minutos iam passando sem que os vila-condenses tivessem aquela chance como a que deu o golo anulado a Costinha e com o Sporting, já com Daniel Bragança e Francisco Trincão em campo, a controlar de forma mais segura procurando sempre que possível as saídas rápidas em transição com Nuno Santos endiabrado pelo lado esquerdo. Assim, entre outra tentativa de remate de Pedro Gonçalves que até em défice físico continuava a cumprir todas as obrigações na esquerda a chegar às duas áreas, o encontro acabou mesmo com o 2-0 que recoloca o Sporting na frente do Campeonato a par do FC Porto.

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