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epaselect epa10220664 Brazilian president and candidate for re-election, Jair Bolsonaro, holds a press conference, at the Palacio do Alvorada in Brasilia, Brazil, 02 October 2022. Former President Luiz Inacio Lula da Silva will proceed to the second round of presidential elections with the current president, Jair Bolsonaro, according to the official results of the Brazilian elections.  EPA/Joedson Alves IMAGE REISSUED WITH ALTERNATE TONING
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O futuro político de Jair Bolsonaro permanece uma incógnita depois destes resultados

Joedson Alves/EPA

O futuro político de Jair Bolsonaro permanece uma incógnita depois destes resultados

Joedson Alves/EPA

Bolsonaro perdeu, mas tem 59 milhões de brasileiros ao lado dele. O que vai fazer o ainda Presidente que não assumiu a derrota?

Com 49,1% dos votos, Bolsonaro não foi reeleito como Presidente do Brasil e decidiu não se pronunciar. Fontes da campanha dizem que país não vai ser "entregue a bandidos" — há, então, risco de golpe?

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Em silêncio. Após a derrota nas urnas, Jair Bolsonaro não se pronunciou, não congratulou Lula da Silva e isolou-se no Palácio da Alvorada, em Brasília. Nem sequer é público quando é que fará o discurso. No Rio de Janeiro, os seus apoiantes choram e rezam após o revés do ainda Presidente, muitos alegando que o processo eleitoral foi fraudulento. Os quatro anos de mandato do atual chefe de Estado estão a chegar ao fim, mas será que Bolsonaro (e os seus seguidores) vão aceitar uma transição serena do poder?

As dúvidas são muitas e o silêncio de Bolsonaro deixa no ar a possibilidade de poder repetir-se um cenário idêntico à invasão no Capitólio, nos Estados Unidos (desencadeado por apoiantes de Donald Trump), desta feita mais a sul do continente americano. Junto ao Planalto, os organizadores de um evento da campanha do Presidente comentaram mesmo que as “eleições ainda não acabaram”, pelo menos até à derrota ser reconhecida. “Não vamos entregar o país a bandidos.”

O futuro político de Jair Bolsonaro permanece uma incógnita depois da derrota nas eleições mais disputadas de sempre: 50,90% vs 49,10% . É que embora tendo perdido esta batalha determinante, o bolsonarismo e as suas ideias não morreram. Prova disso é que 58 milhões eleitores votaram no atual chefe de Estado, que perdeu por uma margem de pouco mais de dois milhões de votos

Passou o dia a fugir da imprensa e às 22h06 apagou a luz. Agora estará no Planalto, ainda sem reconhecer a derrota

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O futuro político de Jair Bolsonaro permanece uma incógnita depois da derrota nas eleições mais disputadas de sempre: 50,90% vs 49,10% . É que embora tendo perdido esta batalha determinante, o bolsonarismo e as suas ideias não morreram. Prova disso é que 58 milhões eleitores votaram no atual chefe de Estado, que perdeu por uma margem de pouco mais de dois milhões de votos. O Brasil está partido ao meio e Lula da Silva, no discurso, prometeu unir o país. Mas será que haverá tentativas da direita para contrariar esse esforço?

Supporters of Brazil's President and presidential candidate Jair Bolsonaro

Uma apoiante de Bolsonaro a chorar

Anadolu Agency via Getty Images

O bolsonarismo não morreu

A vitória da noite de domingo pertence a Lula da Silva, ainda que as sondagens tivessem previsto uma distância com uma margem mais alargada para o candidato do Partido dos Trabalhadores. Jair Bolsonaro caiu, mas ainda tem vários apoiantes. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, o atual Presidente venceu com 55,24% dos votos. E venceu igualmente no Rio de Janeiro, com 56,53%, tendo conquistado a maioria dos votos em outros 12 estados, num total de 14 contra 13 de Lula.

Aliás, Jair Bolsonaro obteve mais 400 mil votos votos do que em 2018 e conseguiu angariar mais cinco milhões de votos em relação à primeira volta, enquanto Lula da Silva conseguiu apenas somar mais dois milhões.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a vitória de Lula da Silva.

Lula da Silva vai conseguir pacificar o Brasil?

Vários responsáveis políticos ligados a Jair Bolsonaro foram também eleitos para cargos importantes, o que permite manter o bolsonarismo vivo regionalmente. O nome mais sonante foi o do antigo ministro das Infraestruturas do ainda Presidente, Tarcísio de Freitas. Com 55,27% dos votos, foi eleito governador de São Paulo, o maior estado do Brasil, tendo admitido — contrariando as indicações de algumas fações da campanha — que irá colaborar com Lula da Silva.

Tarcísio de Freitas já manifestou vontade em colaborar com Lula

AFP/Getty Images

A vantagem política não se centra somente em algumas regiões. Também na Câmara dos Deputados, o Partido Liberal, a que pertence Jair Bolsonaro, é o que, neste momento, tem mais deputados. Isso vai tornar a convivência democrática com Lula da Silva mais difícil — criando-lhe dificuldades — e continua a dar espaço para que as ideias do ainda Presidente tenham eco — e, além disso, uma plataforma.

O bolsonarismo institucionalizou-se e é agora uma realidade no panorama político brasileiro. Como escreve a Folha de São Paulo, a ideologia de Jair Bolsonaro e dos seus apoiantes foi-se consolidando ao longo destes quatro anos como opção política da direita e os seus eleitores dificilmente votarão em alguém que não use o mesmo discurso ou defenda as mesmas opiniões políticas.

Poderá haver golpe?

Não assumindo a derrota, Jair Bolsonaro deixa em aberto  o que poderá fazer — ou aceita os resultados nas próximas horas ou pode contestá-los, pedindo a sua impugnação ou até ir mais longe e, no pior cenário, tentar um golpe de Estado (não sendo o esperado, é sempre uma possibilidade).

Se optar pela contestação dos resultados, Bolsonaro poderá abrir fações entre os seus apoiantes e manchar a credibilidade do partido que lidera. Adicionalmente, dependendo do que possa vir a fazer (desde recursos a ações mais violentas), o ainda Presidente brasileiro poderá ter de enfrentar instituições como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou mesmo o Supremo Tribunal — e sair prejudicado até em termos criminais.

Caso aceite os resultados, o atual Presidente pode fechar este capítulo mais negro da sua trajetória política e pode continuar a liderar a oposição da direita mais conservadora, contando para o efeito com a presença do partido na Câmara de Deputados e em várias regiões do Brasil. É também uma forma de não prejudicar politicamente os governadores, senadores e deputados eleitos que estão de alguma forma ligados a si. 

Se optar pela contestação dos resultados, Bolsonaro poderá abrir fações entre os seus apoiantes e manchar a credibilidade do partido que lidera. Adicionalmente, dependendo do que possa vir a fazer (desde recursos a ações mais violentas), o ainda Presidente brasileiro poderá ter de enfrentar instituições como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou mesmo o Supremo Tribunal — e sair prejudicado até em termos criminais.

Bolsonaro perdeu mais do que a presidência: a partir de 2023, sem imunidade, poderá ser julgado pela Justiça Comum brasileira

Numa guerra contra instituições e contra um Presidente eleito, o desfecho seria provavelmente o mesmo do que o de Donald Trump: não iria conseguir travar a chegada ao Planalto de Lula da Silva, descredibilizando o espetro político que representa.

O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, já veio tentar colocar água na fervura, dizendo que não vislumbra “nenhum risco real de contestação”. “O resultado foi proclamado, foi aceite e aqueles que foram eleitos serão diplomados e tomarão posse”, afirmou citado pela Folha. Também vários apoiantes de Bolsonaro vieram a público aceitar os resultados, tentando tirar pressão desta ausência de Bolsonaro da noite eleitoral, entre eles o seu ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que escreveu no Twitter que o “resultado de uma eleição não pode superar o dever de responsabilidade” que se tem com o Brasil.

Serão as declarações do TSE e a força de alguns aliados para travar o radicalismo de alguns apoiantes e até do próprio Bolsonaro? O cenário ainda não é claro, mas é provável que, com uma qualquer ação irrefletida, o ainda Presidente do Brasil possa assinar a sua morte política.

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