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Desde janeiro de 2021 que Charlene não é vista em público no Mónaco, a pequena cidade-estado com perto de 40 mil habitantes na zona costeira do Mediterrâneo, em França. Os últimos meses têm sido passados na África do Sul, a sua terra natal. Foi aí, à distância, que assinalou e celebrou os 10 anos de casamento com o marido, Alberto do Mónaco — o primeiro chefe de estado no mundo a contrair o novo coronavírus. O relacionamento entre ambos está desde o início mergulhado em rumores capazes de corroer a estabilidade do casal, e a recente e já demorada ausência de Charlene tem dado novo fôlego aos mais descrentes. A ex-nadadora olímpica faltou até à cerimónia de abertura dos Jogos de Tóquio, enquanto o marido aterrou em terras nipónicas na passada segunda-feira.
Nem de propósito, a revista alemã Bunte avançou que o casamento estaria perto do fim, afirmando até que Charlene — também conhecida como a “princesa triste” por raramente sorrir nas fotografias — estaria na África do Sul muito antes do que o publicitado, dando outras pistas que apontam num mesmo caminho: o do divórcio.
A noiva “em fuga” e a lua de mel em hotéis separados
Charlene Wittstock nasceu em Bulawayo, Zimbabué, em 1978 — o pai é um vendedor de fotocopiadoras e a mãe uma ex-mergulhadora competitiva, além de treinadora. A mudança para África do Sul, onde a princesa se encontra agora, aconteceu com a família em 1989. Cresceu à beira de uma piscina e com três anos dava as primeiras braçadas sem ir ao fundo — aos oito, a paixão pelo desporto era ponto assente. No início da década de 1990 começou a chamar a atenção em competições voltadas para menores, já na África do Sul, e aos 17 anos deixou os estudos de lado e mudou-se para Durban para poder treinar com o conceituado Graham Hill. Em 2000, ano em que conheceu o príncipe, Charlene e a equipa ficaram em quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Verão, em Sidney, na Austrália (o relacionamento com o futuro soberano só veio a público daí a seis anos). Dois anos mais tarde ganhou três medalhas de ouro numa competição mundial — nos 50 metros livres, no 100 metros livres e na prova 4×100 metros, que envolve quatro estilos. No entanto, uma lesão obrigou-a a afastar-se da competição durante largos meses e encurta a carreira — em 2008 tentou, sem sucesso, voltar a qualificar-se para uns Jogos Olímpicos.
Depois do príncipe Rainer morrer em 2005, Alberto tornou-se no novo governante do Mónaco. Foram tempos particularmente extenuantes, não só pela morte do pai, mas também porque Alberto viu-se obrigado a reconhecer a paternidade de dois filhos ilegítimos: um rapaz com Nicole Coste, uma hospedeira de bordo, e uma rapariga com Tamara Rotolo, uma antiga empregada na Califórnia que conheceu o príncipe numa temporada de férias na Riviera. Jazmin, hoje com 29 anos, e Alexandre, com 17, recebem apoio do pai e usam o apelido Grimaldi, mas não têm quaisquer direitos de sucessão.
O casamento com Charlene, que foi tremido desde o início, aconteceu a 1 de julho de 2011. Há uma década, algumas publicações davam conta de que a ex-nadadora olímpica tentara fugir dias antes da cerimónia que terá custado 75 milhões de dólares. Foi o caso dos meios franceses L’Express e Le Figaro que, citados pelo El País, escreveram que a noiva terá ensaiado a fuga em três ocasiões — na terceira, horas antes do enlace, quase o conseguiu. A isso seguiu-se a lua de mel na África do Sul, com o casal a dormir não só em quartos separados, como em hotéis distintos, a 15 quilómetros de distância entre eles, uma informação posteriormente confirmada pelo palácio: “O príncipe esteve numa reunião no Hilton com membros do Comité Olímpico Internacional de 5 a 9 de julho. Por motivos práticos, era melhor dormir lá”.
Poucos dias após a cerimónia vistosa, o The Sunday Times publicava um artigo em nada abonatório para os casados de fresco, ao alegar que o casamento tinha sido arranjado e que Charlene teria aceitado o acordo mediante uma elevada quantia de dinheiro com a condição de permanecer casada durante cinco anos e de ter um filho. No mesmo artigo lia-se que o príncipe teria confiscado o passaporte da noiva para evitar que esta fugisse do Mónaco e que Charlene, de 34 anos, estaria relutante em casar com Alberto, de 54, após a descoberta de um terceiro filho ilegítimo — tema que recentemente voltou a ser notícia. Segundo o The Guardian, dois anos mais tarde o príncipe haveria de aceitar o pedido de desculpas e uma indemnização a cargo do The Sunday Times a propósito das “alegações seriamente difamatórias” — tanto o príncipe como a princesa admitiram que a história em questão causou considerável dor, angústia e constrangimento.
Rumores à parte, no dia do casamento Charlene estava longe de parecer uma noiva feliz. Pelo contrário, a noiva de então 33 anos aparentou nervosismo e chegou a chorar. O sorriso só veio no final da cerimónia. Antes, surgiu de cabeça baixa diante de ilustres convidados — houve quem comentasse que “Sua Alteza Sereníssima”, título adquirido com o casamento, parecia mais “Sua Alteza Miserável”. Uma década depois, as incertezas dos primeiros dias parecem perdurar na opinião pública, com o casal a aparecer em público poucas vezes. Contam-se uns quantos atos oficiais ao ano, muito embora Charlene do Mónaco encabece a lista de quem gastou mais nos guarda-roupas reais em 2020, com 106 mil euros atribuídos a roupa e acessórios. As fotografias que existem revelam como o casal mostra pouco afeto entre si. Além disso, é sabido que ambos estão focados nas respetivas áreas: ele no Comité Olímpico Internacional e no meio ambiente e ela na conservação em África.
A doença enigmática que não lhe permite viajar
Cada dia que Charlene permanece na África do Sul — e não regressa ao Mónaco — faz crescer os rumores que apontam para o fim da relação. A princesa visitou o país onde ainda tem família, incluindo os pais, em maio, numa ação em defesa dos rinocerontes, uma das causas que apoia através da fundação com o seu nome, mas motivos de saúde alongaram a estadia. Para a publicação Bunte, a ausência poderá estar a esconder problemas matrimoniais, alegando-se que a princesa estará na África do Sul desde março, por altura do funeral de Goodwill Zwelithini kaBhekuzulu, rei dos zulus, de quem era amiga próxima — Charlene pode não ser um ícone de popularidade no Mónaco, mas o mesmo não acontece na terra natal, onde se dá com algumas das pessoas mais poderosas no país.
A isso acrescem as fontes que dão conta que a princesa procura casa em Joanesburgo e que tenciona expandir as suas atividades naquele que é o país de origem. A publicação dá ainda conta da existência de um gestor próximo do príncipe, suposto responsável pelos preparativos para que o divórcio se concretize — é a face visível de uma rede corporativa com sede em Malta, propriedade do irmão de Charlene, Gareth Wittstock.
Certo é que logo após os rumores de separação, a princesa deu uma entrevista ao canal sul-africano News 24 onde explicou que não podia subir a bordo de um avião devido a uma condição médica que neste momento a limita a viagens acima dos 20 mil pés (6 mil metros). No início de maio, Charlene submeteu-se a uma intervenção na boca de maneira a preparar a colocação de um implante, ainda antes da viagem à África do Sul — país onde tem feito campanhas ativas pela proteção da vida selvagem. Só aí se apercebeu que tinha uma infeção: aos 43 anos, submeteu-se a “procedimentos múltiplos e complicados após contrair uma infeção grave no ouvido, nariz e garganta”.
“Têm sido momentos difíceis para mim. Sinto muita falta do meu marido e dos meus filhos”, chegou a comentar. Difícil foi também ser desaconselhada a viajar pela equipa médica por altura do 10.º aniversário de casamento, referindo-se ao marido como o seu “pilar” e a sua “força”. “Sem o seu amor e apoio eu não teria sido capaz de ultrapassar este momento doloroso.” Em junho, dizia num comunicado enviado à People, que eram as “conversas diárias” com os filhos (os gémeos Gabriella e Jacques, de seis anos) e com o marido que a ajudavam a manter “os ânimos elevados”. “Mal posso esperar para estarmos juntos”, assegurou. É esperado que Alberto e os filhos a visitem em breve, tal como já antes fizeram.
A informação veiculada pela Bunte espalhou-se pela imprensa internacional, muito embora Charlene a tenha negado menos de 24 horas depois. De acordo com a Vanitatis, a redação da Bunte — uma publicação dedicada à monarquia europeia — não está a viver um bom momento. E haverá mesmo uma guerra entre a revista e a princesa, que começou há algumas semanas. Ainda antes do 10.º aniversário de casamento, a revista alemã assegurou, em meados de junho, que a relação estava a atravessar uma grave crise. O que se seguiu não é habitual no mundo da realeza: por duas vezes, a princesa reagiu, negando as notícias de um divórcio iminente. Enquanto isto acontece, Alberto permanece no Mónaco, visivelmente a cuidar dos dois filhos — este fim de semana foi visto com os gémeos no Iate Clube de Mónaco.
O terceiro filho ilegítimo?
Os motivos de Charlene para estar ausente do Mónaco poderão não estar relacionados só com saúde: a suspeita surgiu depois de, em dezembro de 2020, o Daily Mail contar como uma mulher brasileira de 34 anos alegou que teve um affair com o príncipe, do qual resultou o nascimento de uma filha, a 4 de julho de 2005. Dois meses antes, a jovem escreveu uma carta ao suposto pai: “Não percebo porque cresci sem um pai e, agora que te encontrei, tu não me queres ver”. Segundo o advogado da mulher, que vive em Itália, à Page Six, está marcada uma audiência para um tribunal de Roma em setembro para determinar se o príncipe tem ou não imunidade para escusar-se a fazer um teste de ADN, embora já o tenha feito no passado: Alberto tem e apoia os dois filhos ilegítimos, conhecidos do público mesmo antes do casamento com Charlene.
As alegações recentes — que a defesa de Alberto garante serem uma “farsa” — são ainda mais complicadas considerando que o caso com a mulher brasileira, a ser verdade, terá coincidido com a altura em que Alberto e Charlene já namoravam. Foi também em dezembro que a princesa apareceu em público, em Monte Carlo, com um novo e dramático corte de cabelo ao estilo punk. “Ela cortou o cabelo no dia em que soube”, disse um residente do Mónaco próximo do Palácio ao The New York Post. “Foi uma mudança radical destinada a mostrar a ele e a todos nós como ela se sentia mal e como eram notícias terríveis — pelo menos para ela.” Ao look chocante pontuado ainda pelo pesado eyeliner — interpretado por alguns como um símbolo de independência e reafirmação, muito ao género de Britney Spears e de Sinead O’Connor — sucedeu-se o apoio a Alberto, quando em janeiro afirmou à revista Point of Vue: “Quando o meu marido tem problemas, ele fala sobre eles. Muitas vezes digo-lhe, ‘Não importa o que acontecer, estou a mil por cento contigo. Estarei ao teu lado faças o que fizeres, nos momentos bons ou maus'”.
Uma gala para voltar à normalidade
Grande parte da família principesca do Mónaco, incluindo Alberto, marcou presença na noite de 16 de julho na praça do Casino de Monte Carlo na gala da Cruz Vermelha, tido como um dos eventos mais importantes, celebrado há 75 anos. Numa tentativa de regressar à normalidade após meses marcados pela pandemia, mas também para afastar os rumores de um casamento atribulado, o soberano juntou-se à irmã Carolina e aos sobrinhos Casiraghi. Quem também esteve presente foi a dupla Gareth e Roisin Wittstock, irmão e cunhada da princesa, a grande ausente da festa, retida na África do Sul. Gareth é tido como uma figura habitual no Mónaco, onde se instalou após o casamento da irmã — trabalha na fundação de Charlene. A representação dos Wittstock (apelido de solteira de Charlene) foi especialmente importante num fase em que se contam meses desde que a princesa não é vista em público.
Considerada por muitos como uma princesa enigmática e até fria, Charlene não se soube integrar na vida monegasca tão bem quanto o esperado. E não é propriamente amada pelo público. Também ela está ciente de que parece muitas vezes triste em fotografias, tanto que em 2019 contou à revista Huisgenoot que, por vezes, “é difícil sorrir”. “As pessoas são muito rápidas a dizer ‘Oh, porque é que ela não está a sorrir nas fotografias?'”, continuou. “Elas não sabem o que está a acontecer nos bastidores.”
A grande culpada da tristeza estampada no rosto da princesa é, segundo a própria, as saudades de casa, mesmo com o irmão a viver tão perto dela. “Tenho o privilégio de ter esta vida, mas sinto falta da minha família e dos meus amigos na África do Sul e muitas vezes estou triste porque não posso sempre estar lá para eles.” No mesmo ano diria que a maternidade é “exaustiva”. Se 2019 foi um ano difícil — com a morte de dois amigos a acontecer num espaço de 10 dias e com crescentes preocupações em relação à saúde do pai —, o que dizer de 2021, que ainda só vai a meio?