É um encontro entre o futebol e um reality show. A Kings League é a nova liga criada por Gerard Piqué que revolucionou o conceito de futebol tal como o conhecemos. Nesta competição, em que o antigo jogador do FC Barcelona é o homem forte e mostra que a sua veia empresarial não fica em nada atrás do que fazia em campo, cada clube tem o seu presidente, treinador e jogadores, mas os contornos são de um videojogo inserido no mundo real, onde até cartas especiais podem ser usadas para alterar o curso de um jogo.

A Kings League é composta por 12 equipas lideradas por antigos jogadores de futebol e nomes conhecidos do meio digital. Iker Casillas, antigo internacional espanhol que esteve duas décadas no Real Madrid antes de terminar a carreira no FC Porto, e Kun Agüero, antigo internacional argentino que fez história nos relvados entre Atl. Madrid, Manchester City (onde jogou dez anos) e Barcelona, são dois dos presidentes. Ibai Llanos (sócio de Piqué na criação da prova) e TheGrefg, dois dos streamers espanhóis mais conhecidos, são exemplos de personalidades da internet que também lideram equipas.

Os jogos, disputados na Cupra Arena, em Barcelona, e transmitidos através da plataforma Twitch, são disputados sete contra sete. Cada plantel é composto por, no máximo, 12 jogadores. No entanto, a escolha dos jogadores não é feita de modo tradicional. Antes do início da competição, cerca de 13.000 jogadores candidataram-se a um lugar na Kings League. Filtrados através de provas desportivas, participaram no draft que antecedeu a competição 170 atletas de entre os quais apenas 120 foram escolhidos. Em cada uma das dez rondas, as equipas escolheram um jogador para o plantel. Depois do draft, os dois que sobram são os wild cards. Assim, cada equipa tem um wild card permanente e um wild card que pode mudar de jornada para jornada.

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Javier Saviola, antigo jogador do Benfica, Alberto Bueno, que representou o FC Porto e o Boavista, e Joan Capdevila, ex-Benfica e campeão mundial e europeu por Espanha, já foram utilizados como wild cards, além de Kun Agüero que despiu o fato de presidente dos Kunisports para voltar a marcar golos e de Chicharito Hernández. A remuneração dos jogadores draftados é da responsabilidade da Kings League (75 euros por jogo na fase inicial da competição), enquanto que o salário dos wild cards é pago pelos presidentes.

A maioria dos jogadores atua nos campeonatos amadores de Espanha, sendo que alguns estiveram nos escalões de formação dos principais clubes mas falharam a subida a profissionais. Para alimentar a narrativa da competição, têm estado a ser utilizados wild cards cuja identidade é desconhecida. Agüero revelou ser o joker, mas há ainda um jogador que, segundo Piqué, é um jogador de Primeira Liga, com menos de 30 anos e que vai jogar de máscara e todo tapado para que não o reconheçam pelas tatuagens, e que se designa por Enigma 69.

Quem já pisca o olho a uma participação na competição é o jogador de futsal, Ricardinho. “A Kings League é um evento top. Este vai ser o meu último ano a jogar futsal, ao mais alto nível. Vou jogar na Kings League sim ou sim. Gostei muito do torneio e quero muito participar. Tenho muita vontade”, afirmou em direto na Twitch. “A ideia será este ano combinar uma data para ir jogar a Kings League, para conhecer o projeto, entrar no projeto, quem sabe ter eu um dia uma equipa e quem sabe tentar trazer o projeto para Portugal. Quero ver como funciona. Seria uma coisa top. Tem coisas que podem ajudar o futsal”, adiantou o seis vezes melhor do mundo da modalidade.

As partidas da Kings League são compostas por duas partes de 20 minutos onde acontecem coisas que escapam ao normal desenrolar de um jogo de futebol. Desde logo, cada treinador, no início de cada jogo, escolhe uma carta sem saber qual é. As cartas disponíveis são: carta que faz cada golo valer por dois durante dois minutos; carta que permite retirar um jogador à escolha da equipa adversária durante dois minutos; carta que concede uma grande penalidade à equipa que a usar; carta que permite roubar a carta da equipa contrária; carta que permite escolher qualquer uma das outras. As cartas podem ser usadas em qualquer momento do encontro e há com frequência sugestões de novas manobras a acrescentar ao baralho nem que seja de forma temporária. Uma das sugestões deixadas por Ibai Llanos foi uma carta que deixasse o campo às escuras.

Outro aspeto diferenciador está relacionado com os cartões. Um jogador que receba um amarelo é suspenso por dois minutos. No caso de tratar de um vermelho, o tempo de fora é de cinco minutos. Existem ainda cartas que podem ser utilizadas pelos representantes da liga que obrigam à retirada de jogadores do campo, podendo a partida vir a ser disputada entre dois jogadores de cada equipa, numa situação limite.

Na Kings League, não há empates. Se, ao final dos 40 minutos, as equipas tiverem o mesmo número de golos no marcador há lugar à marcação de grandes penalidades, mas não no formato que conhecemos. Na liga de Piqué, os jogadores podem conduzir a bola até junto do guarda-redes, à semelhança do que acontece nos livres diretos do hóquei em patins.

Ao longo de onze jornadas, todas as equipas jogam umas contra as outras. Os oito primeiros classificados vão integrar o playoff da competição. A final a quatro vai acontecer no Estádio Camp Nou.

A competição está desenhada especialmente para as plataformas online. Dessa forma, a TVTOP, plataforma que reúne dados estatísticos sobre programas de streaming, indica que a jornada quatro da Kings League contou com uma audiência média de 488 mil espetadores, tendo mesmo atingido os 803 mil no pico da emissão. O interesse do público pelo conteúdo parece estar a ter impacto junto da La Liga. De acordo com o jornal Relevo, a estreia da Kings League teve um média de 450 mil pessoas a assistir, chegando a um registo máximo 780 mil. Estes números superaram a audiência média de todos os jogos da jornada 15 do campeonato espanhol, exceto o Barcelona-Espanhol e o Valladolid-Real Madrid. No entanto, os jogos da principal prova do futebol espanhol são transmitidos em plataformas pagas.

O presidente da La Liga, Javier Tebas, pronunciou-se em relação ao paralelismo entre os dois produtos. “A Kings League é um circo, é como se comparasses um programa de entretenimento da televisão espanhola à La Liga. A única coisa em que a Kings League se compara com o futebol é jogar-se com uma bola e ter que se fazer golos nas balizas”, referiu. O CEO da Kings League, Oriol Querol, disse, em resposta a Javier Tebas, que a Kings League “não compete com ninguém”. Mas, nos números, está mesmo a competir…