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África do Sul venceu Nova Zelândia por 15-12 após prolongamento numa final de 1995 que não teve ensaios em 90 minutos mas terminou com o triunfo dos Springboks na estreia na competição (e como organizadores)
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África do Sul venceu Nova Zelândia por 15-12 após prolongamento numa final de 1995 que não teve ensaios em 90 minutos mas terminou com o triunfo dos Springboks na estreia na competição (e como organizadores)

Getty Images

África do Sul venceu Nova Zelândia por 15-12 após prolongamento numa final de 1995 que não teve ensaios em 90 minutos mas terminou com o triunfo dos Springboks na estreia na competição (e como organizadores)

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Lomu, telefonema de Mandela, a intoxicação alimentar e um incidente "diplomático": as histórias de uma final de 1995 que mudou a História

África do Sul e Nova Zelândia, as duas potências com mais títulos mundiais, reeditam a final de 1995, naquele que é um dos melhores e mais transversais exemplos de como o desporto pode mudar um país.

Para os amantes do râguebi que se joga, esta talvez não seja a final mais desejada porque não está a Irlanda. Para os amantes do râguebi que gostam de boas histórias de redenção, esta talvez não seja também a final mais desejada porque não está a França. Para todos os amantes do râguebi, os que gostam do que se joga, os que gostam de momentos de redenção e os que gostam daquele tipo de histórias que vão ficar para sempre nos livros, é inevitável não piscar o olho a um confronto que coloque frente a frente Nova Zelândia e África do Sul. Afinal, e por mais voltas que possamos dar, em nove edições de Campeonato do Mundo até aqui, seis foram deles – e quando não foram, ficou sempre a ideia de que podiam ter sido apesar da qualidade das duas gerações da Austrália nos anos 90 e de Inglaterra no início do século. No Stade de France, uma iria isolar-se como a seleção mais vencedora de sempre. Ainda assim, a final de Paris tornava-se de forma inevitável numa viagem de quase três décadas até Joanesburgo quando sul-africanos e neozelandeses decidiram o troféu.

Aliás, numa das muitas histórias que sobraram daquele que ficou como um dos momentos mais relevantes de sempre pela importância social e desportiva que teve na “nação do arco-íris”, o líder da Federação de Râguebi da África do Sul fez sempre questão de dizer que o palmarés nunca seria válido tendo em conta a proibição do país em participais nos Mundiais de 1987 e 1991 devido do apartheid. Em 1995, na estreia “abençoada” pela organização do evento, chegou o primeiro título logo contra a Nova Zelândia de Jonah Lomu. E foi ele, talvez o maior e melhor jogador de todos os tempos que teve um fim precoce de vida aos 40 anos devido a uma doença rara nos rins, que explicou um dia aquilo que estava em causa. “Estive na final em que um país se tornou num só. Como desportista, claro que estava desesperado por ganhar, teria dado o meu braço direito para ficar com o troféu. Mas com o passar do tempo, as pessoas recordam-se de como o râguebi ajudou a mudar uma nação. E isso não teria acontecido se tivéssemos ganhado”, destacou o neozelandês.

O plano de Nelson Mandela, primeiro negro eleito presidente da África do Sul em 1994, resultou. Uma prova promoveu um slogan (“Uma equipa, um país”), um slogan ajudou a mudar um paradigma, um paradigma foi começando a ser quebrado com o passar dos anos. Quando Madiba entregou ao capitão François Piennar o troféu Webb Ellis, depois de uma final no esgotado Ellis Park onde 63.000 pessoas se levantaram para gritar “Nelson, Nelson, Nelson” antes do apito inicial, o que nunca fez sentido mudou para fazer todo o sentido. E essa história que um dia virou filme (“Invictus”) tornou-se o maior argumento da história do desporto.

"O desporto tem o poder de mudar o mundo porque o desporto consegue criar esperança onde um dia só existia e sobrava desespero"
Nelson Mandela, presidente da África do Sul entre 1994 e 1999, na cerimónia dos Laureus em 2000

A fasquia estava alta em termos de organização. Após uma edição inicial em duas pátrias do râguebi mundial, Austrália e Nova Zelândia (1987), a competição anterior em território europeu com encontros nos países do Torneio das Cinco Nações (Inglaterra, Irlanda, Escócia, Gales e França) tinha sido uma promoção difícil de igualar da modalidade, terminando com uma final num Twickenham com mais de 50.000 nas bancadas. A África do Sul nunca organizara uma grande prova nem sequer sabia o que era uma fase final do Mundial, tendo em conta a suspensão de todas as competições internacionais pela resolução das Nações Unidas que declarava o apartheid como “um crime contra a humanidade” (datada de 1973, sendo que já antes o Comité Olímpico tinha afastado o país dos Jogos de 1964 até 1992). Em 1994 Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente sul-africano negro e viu no râguebi, um “desporto de brancos”, uma oportunidade para não só desfazer a imagem que deixara o país como um pária para fora como mudar a realidade de “dentro”.

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Das cores verde e dourada da camisola do equipamento ao símbolo dos Springboks, tudo era visto na equipa de râguebi como imagem de como uma minoria branca oprimia uma maioria negra. Mandela, também ele um antigo prisioneiro em Robben Island por um dia ter desafiado o sistema do apartheid, sabia que iria ter uma enorme resistência a essa aproximação entre duas partes da sociedade eternamente dividias em torno de uma equipa ligada historicamente apenas a um dos lados. Mais: sabia que, por exemplo, algumas derrotas da formação de râguebi eram celebradas em muitos bairros de lata espalhados pelo país. Aliás, quando começou a esboçar os primeiros discursos e ações a visar essa mesma aproximação, sentiu um misto de resistência e ceticismo. Aos primeiros, pediu compaixão; aos segundos, confiança. Aquilo que construiu a partir desse momento não acabou de vez com as tensões raciais mas foi colhendo frutos ao longo do tempo, a ponto de na última edição um capitão negro que fala orgulhosamente do seu bairro levantar a taça como campeão.

Apoio de Nelson Mandela aos Springboks foi encarado com um misto de resistência e ceticismo. No final, percebeu-se que tinha razão. E foi mesmo "Uma equipa, um país"

Em 1995, Chester Williams foi o único jogador negro a sagrar-se campeão. Quase três décadas depois, Siya Kolisi vai entrar em campo para tentar levantar de novo o troféu Webb Ellis como capitão. Pelo meio, Peter de Villiers também foi selecionador. E toda esta mudança de paradigma mudou com a visão de Mandela, mesmo que como momento icónico tenha sobretudo ficado a entrega da taça ao capitão François Pienaar, algo que é ainda hoje considerado uma das imagens mais marcantes de sempre no desporto mundial.

“Diferentes contextos, diferentes raças, um único objetivo”: o inspirador discurso do primeiro capitão negro da África do Sul

Uma invasão de campo, o regresso do herói Chester e um dilúvio que quase suspendeu jogo

Se em termos sociais Nelson Mandela entrava num encontro onde todos estavam de pé atrás com o desfecho final, no plano desportivo o teste inicial não poderia ser mais complicado contra a campeã em título. O palco era o Newlands Stadium a abarrotar de cheio de uma Cidade do Cabo que era conhecida por um sem número de razões além de ser a ponta do continente – foi ali que se fez o primeiro transplante de coração do mundo, no hospital Groote Schuur – mas que ainda tinha sinais do apartheid na própria tipologia dos seus edifícios. Um exemplo prático: a zona de hotéis que nasceu em Waterfront quando foi construído o novo Cape Town Stadium para o Mundial de futebol de 2010 tinha quartos divididos em dois com uma disposição atípica que mais não era do que uma adaptação de uma antiga prisão para negros em que cada duas celas “viraram” um quarto. Para muitos, esse dia 25 de maio foi mesmo o mais importante na história do Mundial.

Após um início de jogo marcado pelas sucessivas penalidades que deixavam a África do Sul na frente por 9-6, a Austrália passou para a frente com um ensaio com conversão de Michael Lynagh que colocou o resultado em 13-9 perto do intervalo e com os campeões em título a tentarem gerir a vantagem até ao descanso. Quase “empurrados” pelo público que em qualquer entrada aos 22 metros se levantava, Pieter Hendriks fez o 14-13 num ensaio que deixou o Newlands Stadium em delírio e deu outra confiança aos Springboks, que entraram melhor na segunda parte e tiveram um segundo ensaio por Joel Stransky que encaminhou e muito a equipa para a vitória final por 27-18 que motivou mesmo uma invasão de campo após o último apito, com centenas e centenas de pessoas a entrarem de forma pacífica a correr com bandeiras pelo relvado. O grande obstáculo estava ultrapassado, seguindo-se os triunfos com Roménia na Cidade do Cabo (21-8) e Canadá em Port Elizabeth (20-0), numa partida marcada pela excessiva agressividade que motivou mesmo expulsões.

A imagem icónica que se tornou num dos maiores momentos do desporto mundial: Nelson Mandela, presidente da África do Sul, a entregar ao capitão François Pienaar o troféu de campeão

AFP/Getty Images

Todos os favoritos passaram aos quartos, sendo que a única vaga que estava em dúvida, entre Irlanda e Gales, acabou por ficar para os irlandeses com um dramático triunfo por 24-23. Tão ou mais relevante, o interesse local na competição crescia a olhos vistos, não só mas sobretudo com os jogos que tinham a África do Sul em campo. Foi isso que se viu no Ellis Park em Joanesburgo, quando os Springboks defrontaram Samoa perante quase 55.000 espectadores e iniciaram a vitória com um ensaio de Chester Williams, o único jogador negro da equipa. “Finalmente a África do Sul é conhecida como o país que joga o melhor râguebi qualquer que seja a cor e não como o país que segrega consoante a cor”, diziam as televisões na transmissão de uma partida que chegaria ao fim com um concludente 42-14 com quatro ensaios de Chester, a ouvir o seu nome cantado nas bancadas após ter estado lesionado. Seguia-se a meia com a França, que batera a Irlanda (36-12).

Se na chegada à Cidade do Cabo da equipa se tinha sentido o calor dos adeptos, se no regresso a Joanesburgo era notória uma onda cada vez maior de apoio, em Durban, onde os Springboks tentavam o acesso à final no Kings Park Stadium, começava a euforia – e já com Chester Williams na fotografia oficial, depois de falhar a primeira por estar a debelar problemas físicos. Mais do que nunca, a frase “Um país, uma equipa” fazia na essência sentido, tendo em contas as receções que a equipa encontrava onde quer que passasse. Tudo estava a favor. Ou melhor, tudo menos o tempo: naquela cidade onde em 2010 os adeptos de Portugal aproveitaram para andar na praia quando foi o jogo do Mundial de futebol frente ao Brasil tinha em 1995 uma tempestade com chuva e vento que colocou a realização da partida em risco após adiamento de mais de uma hora.

A alma não foi pequena para encontrar soluções, ou não estivesse também nos regulamentos contemplado que a não realização de uma partida levaram a aplicação de derrota ao anfitrião. Por exemplo, houve dezenas de voluntários que agarraram em vassouras, toalhas e ancinhos e lançaram mãos à obra, tentando tirar à mão a água que fazia lençóis em várias zonas do relvado. Era jogo para marcadores de penalidades, com Thierry Lacroix a marcar cinco contra apenas quatro de Joel Stransky mas um ensaio de Ruben Kruger no meio de dezenas de braços e pernas gauleses e sul-africanos acabou por valer o triunfo por 19-15 antes da final frente a uma Nova Zelândia que ganharam por 45-29 à Inglaterra com quatro ensaios da super estrela Jonah Lomu, o melhor jogador do mundo. As cordas à volta do campo impediram nova invasão mas o barulho enquanto os jogadores de equipamento encharcado celebravam era o grito de uma nação.

Jonah Lomu ficou como um dos melhores jogadores de râguebi e mostrou todo o domínio do jogo na meia-final do Mundial de 1995 com quatro ensaios à Inglaterra

Nick Wilson/ALLSPORT

Ao longo dessa semana, multiplicavam-se as sensações e emoções. O orgulho dos adeptos com uma equipa que mesmo nos momentos mais complicados conseguiu sempre dar a volta aumentava, o sonho de Nelson Mandela unir o país em torno de um conjunto de jogadores campeões ganhava forma, o receio de Lomu era mais do que muito como se percebia nas intervenções da própria comitiva sul-africana. Os 80 minutos de distância até algo que aparentava ser impossível tornavam-se 80 minutos de desafio a um extraterrestre. E tudo contava, das palavras de Nelson Mandela a Lomu antes da final ao haka que colocou a formação sul-africana na linha do meio-campo e o mesmo Lomu a terminar o ritual em cima da cara de Kobus Wiese.

As várias teorias sobre uma intoxicação alimentar e os 43 milhões num estádio com 65.000

Apesar de jogarem “fora”, os All Blacks, campeões em 1987 e terceiros classificados em 1991 após uma meia-final com a Austrália onde pouco ou nada correu bem, partiam como favoritos. No entanto, num caso que só depois da decisão foi conhecido, começaram a “perder” dois dias antes quando uma intoxicação alimentar afetou praticamente toda a equipa, que ficou com vómitos e diarreia. Ainda hoje, quase três décadas depois, não se sabe ao certo o que se passou. Nem mesmo após uma investigação pedida por um neozelandês a um detetive privado local. O que sobra, história ou não, é a suspeita de uma empregada chamada Suzie…

Imaginem o que ele teria feito se fosse saudável

Tudo terá acontecido (de forma voluntária ou não) no almoço de quinta-feira. “O Zinny chegou e disse-nos que metade da equipa estava na sala do médico a vomitar ou a ir a correr para a casa de banho. O meu maior medo tinha mesmo sido concretizado”, comentou o técnico neozelandês Laurie Mains. Até esse momento, a comitiva dos All Blacks tinha contado com uma pessoa encarregue de tratar de tudo o que envolvesse cozinha nos hotéis onde a equipa estava. Nessa semana, não foi possível encontrar ninguém. E foi isso também que fez com que se lançassem suspeitas sobre um alegada intervenção propositada para condicionar a capacidade do adversário. “Não queríamos que ninguém soubesse para que não soubessem que estariam em vantagem no plano físico e psicológico em relação a nós”, explicou mais tarde o também técnico Brian Lochore. “Para mim houve uma intoxicação alimentar, é claro. A questão é se foi ou não propositada, sendo que eu não sei e sinceramente também não quis saber”, argumentou o capitão Sean Fitzpatrick.

"A minha mulher conhecia um detetive privado na África do Sul e, quando voltámos a casa, ligámos para perceber se conseguia descobrir algo, sabendo que para nós as portas estavam fechadas. Teve um sucesso moderado e fez uma ligação a uma senhora negra que foi colocada como empregada do hotel dois dias antes mas que, a seguir a esse dia, ficou doente e desapareceu por completo..."
Laurie Mains, antigo selecionador de râguebi da Nova Zelândia

“Quando estávamos alinhados, começámos a ouvir ‘Mandela! Mandela! Mandela!’ enquanto ele estava a vir do túnel de acesso ao relvado com a camisola 6 dos Springboks do François Piennar e o cap. Isso mostrou o poder que um homem pode ter e como ele viu naquele evento a oportunidade de unir um país como então conseguiu”, acrescentou Fitzpatrick. A equipa que nunca arranja desculpas para as derrotas e que está formatada para ganhar sempre sabia que estava em desvantagem a todos os níveis e até a conversa entre os rasgados elogios que Mandela teve com Jonah Lomu quando as formações estavam alinhadas mexeu com a principal estrela do jogo num Ellis Park completamente cheio enquanto Joanesburgo e o país paravam, com a própria transmissão a fazer questão de focar todas as bancadas que misturavam brancos e negros em festa, a cantarem abraçados em conjunto e com uma espécie de reco-reco para fazer barulho (ainda assim menos do que as tão famosas vuvuzelas que ficaram como imagem de marca do Mundial de futebol de 2010).

Não houve propriamente muitas oportunidades de ensaio. Por mais do que uma vez a África do Sul ganhou um aparente vantagem em introduções perto da linha do ensaio mas nunca conseguiu quebrar a barreira dos All Blacks. Por mais do que uma vez a Nova Zelândia trabalhou para uma aparente vantagem de Jonah Lomu na ponta mas nunca derrubou a defesa dos Springbocks. O final do tempo regulamentar chegou com uma igualdade a nove com duas penalidades e um drop de Joel Stransky e de Andrew Mehrtens, sendo que os dez minutos da primeira parte do prolongamento começaram com mais três pontos de Mehrtens e fecharam com mais três pontos de Stransky. O número 10 sul-africano ficaria mesmo como o herói da partida, com mais um drop aos 92′ que faria o 15-12 final sem que as equipas tivessem mais forças para alterar o destino.

Joel Stransky fez todos os pontos da África do Sul na final do Mundial de 1995 frente à Nova Zelândia, com o drop decisivo a surgir na segunda parte do prolongamento

Foram os oito minutos mais longos da história de uma nação que perdeu a noção do tempo e do espaço ao longo de anos a fio. No final, houve celebrações à antiga com jogadores a saltarem de braços abertos e vários episódios de lágrimas à mistura, o mais marcante de todos quando François Pienaar e os restantes jogadores sul-africanos se ajoelharam numa oração em pleno relvado antes de darem uma volta a agradecer por todo o estádio ao rubro com o feito alcançado. “65.000 sul-africanos a apoiar-nos aqui? Não, não tivemos 65.000 sul-africanos, tivemos 43 milhões de sul-africanos a apoiar-nos aqui”, respondeu o capitão dos Springboks antes de receber o troféu das mãos de Nelson Mandela, que tinha a sua camisola vestida e o cap que toda a equipa lhe tinha oferecido antes do início da competição. Mais: como se saberia mais tarde, o líder ligou na antecâmara da partida a Pienaar. “O país todo está convosco. Não duvido de vocês”, disse então.

Houve depois muita especulação sobre o que tinha na verdade acontecido ao conjunto da Nova Zelândia no almoço daquela quinta-feira. Uma teoria, também nunca confirmada, dizia que um sindicato de apostas teria pago a uma empregada para “envenenar” a equipa dos All Blacks. Outra de que algo podia ter acontecido na ida ao cinema desse mesmo dia. “Quando voltámos ao hotel e fui até ao quarto do médico, parecia uma zona de guerra, uma cena de um filme de guerra. Os jogadores estavam deitados por todo o lado, a receberem injeções do médico e do fisioterapeuta”, escreveu Rory Steyn, antigo guarda-costas de Mandela. “A minha mulher conhecia um detetive privado na África do Sul e, quando voltámos a casa, ligámos para perceber se conseguia descobrir algo, sabendo que para nós as portas estavam fechadas. Teve um sucesso moderado e fez uma ligação a uma senhora negra que foi colocada como empregada do hotel dois dias antes mas que, a seguir a esse dia, ficou doente e desapareceu por completo”, revelou Laurie Mains. Fica o “mistério”.

"Teria sido bom ficar com a medalha de ouro nesse Campeonato do Mundo mas a verdade é que a vitória da África do Sul ajudou muito a quebrar barreiras que existiam depois do apartheid. Esse espírito que tiveram a capacidade de criar teve o resultado certo para o renascimento de uma nação"
Mike Brewer, jogador da Nova Zelândia, numa entrevista recordando a final do Mundial de 1995

“Teria sido bom ficar com a medalha de ouro nesse Campeonato do Mundo mas a verdade é que a vitória da África do Sul ajudou muito a quebrar barreiras que existiam depois do apartheid. Esse espírito que tiveram a capacidade de criar teve o resultado certo para o renascimento de uma nação”, admitiu também Mike Brewer, outra das referências dos All Blacks de 1995. “Quando aquele último apito se ouviu, um país mudou para sempre”, defendeu Pienaar no dia em que Nelson Mandela morreu, em 2013, quase que tendo esse Campeonato do Mundo como uma das melhores amostras do legado deixado pelo líder do país entre 1994 e 1999. “O desporto tem o poder de mudar o mundo porque o desporto consegue criar esperança onde um dia só existia e sobrava desespero”, destacou Nelson Mandela em 2000, numa cerimónia dos Laureus.

A festa teve uma espécie de incidente “diplomático” no último jantar, quando o presidente da Federação Sul-Africana de Râguebi, usou da palavra para um discurso. “Não houve um campeão mundial verdadeiro em 1987 e em 1991 porque a África do Sul não estava lá. A África do Sul foi a verdadeira primeira campeã do mundo”, atirou. Ato contínuo, a comitiva da Nova Zelândia abandonou a sala, considerando que a forma como Louis Luyt tinha acabado de colocar as coisas era ofensiva. No entanto, dos jogadores sul-africanos aos neozelandeses (e polémicas à parte), todos terminaram aquela final com a noção de que estava a ser feita história. Não a história da modalidade, que a partir deste sábado terá uma das equipas à frente da outra com mais títulos conquistados, ou a história do primeiro Mundial organizado em África e apenas num país, mas sim a história de como uma competição desportiva alterou aquilo que era a realidade de toda uma nação.

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