– Bom dia. Tenho aqui uma lista de cromos que ainda me faltam do Mundial…
– Desse? Oh amigo, desse já não tenho tudo, vamos lá ver… Pensava que era deste agora…
– Qual?
– Do Mundial feminino. Esses é que tenho todos.
– Mas tem muita procura?
– Então não tenho? É quase como o outro, vem cá muita gente…
Uma conversa num dos quiosques dos Restauradores, em Lisboa, uma notícia extra à notícia. Há todo um mundo ligado a cromos e cadernetas quando começam as grandes competições. Até aqui, apenas masculinas; agora, também femininas. E quando já começa a haver pouca procura para média/muita oferta em relação ao Mundial do Qatar e à Primeira Liga, é o Mundial da Austrália e da Nova Zelândia que toma conta das trocas que se vão fazendo debaixo de um sol abrasador que pede cadeira de praia para descansar à sombra.
Aqui, uma caderneta de cromos é muito mais do que isso entre fases distintas. Há o pontapé de saída onde os compradores chegam a levar caixas para ficarem com um bom arranque de conversa antes de começarem a comprar de forma mais criteriosa. Depois, o momento em que se chegam a fazer filas para trocar um por três para baixar o monte de repetidos e aumentar a quantidade de números riscados nas listas feitas à mão ou num Excel. Mais tarde, o período em que se leva o que falta por 25 ou 30 cêntimos (menos os brilhantes, que são mais caros). “No Mundial do Qatar, cheguei a abrir mais de 300 caixas. Este não foi assim mas olhe que vendeu bem”, explica o vendedor. Mais do que os 580 cromos com símbolo e 16 jogadoras de cada seleção mais as páginas centrais com imagens especiais, há algo mais por trás desta caderneta que tem várias mãos a agarrar num troféu com a frase “Beyond greatness” [“Além da grandeza”], extensível a toda a prova.
A expressão “a primeira vez” aplica-se a vários pontos que envolvem este Campeonato do Mundo, a começar pela primeira vez que Portugal consegue marcar lugar na competição estando inserido num grupo com o campeão mundial EUA e o vice-campeão mundial Países Baixos. Mas há mais, num marco histórico que tem consigo um sem número de histórias. Alguns exemplos: a jogadora que voltou sete anos depois, foi pela primeira vez internacional e entrou na convocatória final; a jogadora que vai pela primeira vez fazer um Mundial aos 18 anos depois de ter superado um cancro nos ovários; as jogadoras que jogam na mesma equipa, têm uma relação mas vão pela primeira vez ser adversárias. No limite, as jogadoras (e são muitas) que pela primeira vez terão pela frente a última grande competição da carreira. Sempre “a primeira vez”.
EUA partem como principais favoritos ao título, naquele que seria um inédito terceiro troféu seguido que nunca aconteceu no futebol mundial (masculino ou feminino), mas têm nos conjuntos europeus obstáculos complicados entre Alemanha, Inglaterra, Países Baixos, França ou Suécia. Depois, sobram as candidatas à surpresa como a Austrália, o Japão, o Brasil ou o Canadá. Emoção não falta tal como qualidade num Campeonato do Mundo que marcará a vários níveis a inversão do paradigma sobre o desporto. E como há sempre “a primeira vez”, as 32 seleções têm asas abertas para sonharem com as suas “vitórias”, quaisquer que elas sejam. Tudo o resto, será histórico. E dentro do histórico, com mais um sem número de histórias.
Megan Rapinoe, o símbolo da revolução americana que sorri no meio do caos
Grupo A. Ada saiu do exílio, Filipinas continuam exiladas e há uma vaga para não ir para casa
Quando assumiu o comando da seleção da Nova Zelândia, em 2021, Jitka Klimkova deixou uma só promessa: a equipa não mais voltaria a jogar naquela espécie de kick and rush de defender e pontapé para a frente. Em parte, cumpriu. Há vontade de cumprir processos, de jogar em posse, de sair a construir a partir de trás. No entanto, faltou o essencial – resultados. O cenário não está tão carregado como aquele que tinha nos 14 jogos iniciais que orientou, com um triunfo e 35 golos sofridos contra apenas tão marcados, mas até a forma como está a decorrer a venda de bilhetes no país mostra que os próprios adeptos traçam uma linha entre aquilo que é uma organização histórica e aquilo que poderia ser uma organização histórica. E essa é a principal dúvida num grupo A com um favorito inquestionável e um outsider estreante sem ambições.
A Noruega, reforçada por uma Ada Hegerberg que ficará para sempre na história como a primeira Bola de Ouro feminina mas que esteve cinco anos no “exílio” entre críticas à falta de maior apoio da Federação e à desigualdade com o conjunto masculino, tem a passadeira estendida para passar o grupo apenas com vitórias rumo ao sonho de chegar pelo menos às meias-finais da prova como aconteceu em quatro das cinco edições iniciais da competição. As Filipinas até com formações medianas da Ásia têm sentido dificuldades e devem deixar a prova só com desaires. Sobra a Suíça, equipa do top 20 mundial que deverá ter a sua “final” na ronda decisiva da fase de grupos com a Nova Zelândia, que terá de mostrar algo mais para se transfigurar e poder alcançar uma histórica passagem aos oitavos depois de cinco edições sem vitórias na fase de grupos.
Jogos do grupo A
Dia 20 de julho: Nova Zelândia-Noruega (8h)
Dia 21 de julho: Filipinas-Suíça (6h)
Dia 25 de julho: Nova Zelândia-Filipinas (6h30) e Noruega-Suíça (9h)
Dia 30 de julho: Noruega-Filipinas (8h) e Nova Zelândia-Suíça (8h)
Cinco estrelas para seguir no grupo A
- Ada Hegerberg (Noruega, Lyon, avançada de 28 anos)
- Guro Reiten (Noruega, Chelsea, extremo de 28 anos)
- Ana-Maria Crnogorcevic (Suíça, Barcelona, ala de 32 anos)
- Ramona Bachman (Suíça, PSG, avançada de 32 anos)
- Ali Reily (Nova Zelândia, Angel City, defesa de 35 anos)
Cinco promessas para seguir no grupo A
- Julie Blakstad (Noruega, Hacken/Manchester City, médio de 21 anos)
- Anna Jösendal (Noruega, Rosenborg, extremo de 22 anos)
- Seraina Piubel (Suíça, Zurique, médio de 23 anos)
- Michaela Foster (Nova Zelândia, Wellington Phoenix, defesa de 24 anos)
- Quinley Quezada (Filipinas, Estrela Vermelha, médio de 26 anos)
Grupo B. A estrela Kerr, Sinclair ainda sonha, Farrelly (re)nasce – e ainda há Oshoala
Não terá sido por isso. Não terá sido apenas por isso. Terá sido, quiçá, também por isso. A co-organização do Mundial pela Austrália, criando um ambiente antes da competição em torno da seleção como nunca se tinha visto, acabou por coincidir com o momento chave da carreira de Sam Kerr a nível de grandes competições (29 anos). Melhor era impossível até chegar a hora do sorteio, onde tudo o que podia correr mal num plano teórico correu ainda pior: a principal cabeça de série do pote 2 foi parar ao grupo B (Canadá); a grande cabeça de série do pote 4 foi parar ao grupo B (Nigéria); e como um mal nunca vem só, até a equipa do pote 3 que foi parar ao grupo B era das mais cotadas (Rep. Irlanda). Se dúvidas existissem, este é o grupo da morte.
Há duas favoritas à qualificação para a fase seguinte, ambas com objetivos ambiciosos na prova: a Austrália, que considera o fator casa como uma motivação extra para pelo menos passar pela primeira vez os quartos, e o Canadá, que também entrou apenas uma vez no top 4 da fase final e volta a prometer mais uma tentativa de assalto ao poder. No entanto, a Rep. Irlanda é uma equipa resiliente como a história de Sinead Farrelly, uma jogadora que se retirou em 2016 devido a um acidente de carro, denunciou mais tarde casos de abusos por parte de um treinador e voltou esta temporada para merecer uma primeira chamada à seleção aos 33 anos, e há ainda uma Nigéria que, apesar das acusações de tentativa de intromissão na convocatória e demais problemas logísticos, tem jogadoras capazes de mostrar a evolução do feminino em África.
Jogos do grupo B
Dia 20 de julho: Austrália-Rep. Irlanda (11h)
Dia 21 de julho: Nigéria-Canadá (3h30)
Dia 26 de julho: Canadá-Rep. Irlanda (13h)
Dia 27 de julho: Austrália-Nigéria (11h)
Dia 31 de julho: Nigéria-Rep. Irlanda (11h) e Canadá-Austrália (11h)
Cinco estrelas para seguir no grupo B
- Sam Kerr (Austrália, Chelsea, avançada de 29 anos)
- Jessie Fleming (Canadá, Chelsea, média de 27 anos)
- Christine Sinclair (Canadá, Portland Thorns, avançada de 40 anos)
- Asisat Oshoala (Nigéria, Barcelona, avançada de 28 anos)
- Katie McCabe (Rep. Irlanda, Arsenal, média de 27 anos)
Cinco promessas para seguir no grupo B
- Simi Awujo (Canadá, UCS Trojans, média de 19 anos)
- Jordyn Huitema (Canadá, OL Reign, avançada de 22 anos)
- Cortnee Vine (Austrália, Sidney FC, avançada de 25 anos)
- Deborah Abiodun (Nigéria, Rivers Angels, avançada de 19 anos)
- Gift Monday (Nigéria, Tenerife, avançada de 19 anos)
Grupo C. O regresso de Putellas entre confusões, acusações e o exército do país sem ele
No final das contas poderia ser um grupo previsível nos seus resultados, pelo meio é um dos grupos que tem um maior grau de imprevisibilidade. Mais do que isso, é um grupo com traumas passados ou recentes com o condão de catapultarem ou condicionarem as equipas. A experiência deve acabar neste contexto por ser o maior aliado dos dois favoritos teóricos, sendo que até o primeiro e segundo lugares terão influência no que se seguirá daí para a frente, tendo em conta um possível cruzamento com os EUA ainda nos quartos.
Com o regresso de Alexia Putellas após longa paragem por lesão, e com esse reforço anímico de nova vitória na Liga dos Campeões do Barcelona (principal representante nas escolhas), a Espanha surge apostada em deixar de ver para trás os fantasmas da rebelião das 15 e chegar pela primeira vez às oito melhores do Mundial mas tem um caminho sinuoso pela frente, a começar pelo Japão, campeão em 2011 e vice em 2015, que tem uma geração muito ciente da importância desta prova em termos de desenvolvimento do feminino no país. Entre uma e outra encontram-se a Costa Rica, que corporiza a ideia do “exército que o país deixou de ter” e joga sem pressão para poder surpreender, e a Zâmbia, abalada por um caso a envolver agora o técnico principal mas que é uma das melhores equipas africanas da atualidade com Barbra Banda como grande figura após ter visto aprovada a participação na prova por passar nos testes, algo que não aconteceu na última edição da Taça das Nações Africanas onde apresentou níveis de testosterona acima dos permitidos.
Jogos do grupo C
Dia 21 de julho: Espanha-Costa Rica (8h30)
Dia 22 de julho: Zâmbia-Japão (8h)
Dia 26 de julho: Japão-Costa Rica (6h) e Espanha-Zâmbia (8h30)
Dia 31 de julho: Costa Rica-Zâmbia (8h) e Japão-Espanha (8h)
Cinco estrelas para seguir no grupo C
- Alexia Putellas (Espanha, Barcelona, média ofensiva de 29 anos)
- Mina Tanaka (Japão, INAC Kobe Leonessa, avançada de 29 anos)
- Yui Hasegawa (Japão, Manchester City, média de 26 anos)
- Barbra Banda (Zâmbia, Shanghai Shengli, avançada de 23 anos)
- Raquel Rodríguez (Costa Rica, Portland Thorns, média de 29 anos)
Cinco promessas para seguir no grupo C
- Maika Hamano (Japão, Hammarby/Manchester City, avançada de 19 anos)
- Aoba Fujino (Japão, Tokyo Verdy Beleza, avançado de 19 anos)
- Salma Paralluelo (Espanha, Barcelona, avançada de 19 anos)
- Evarine Susan Katongo (Zâmbia, sem clube, média de 20 anos)
- Alexandra Pinell (Costa Rica, Alajuelense, média de 20 anos)
Grupo D. Uma Inglaterra que deixou o “quase” contra a dupla que quer voltar ao “quase”
Era uma sensação do “quase” que quase parecia não deixar de ser uma seleção. Apesar de evolução notória com o passar dos anos, a Inglaterra continuava a ficar de forma sistemática às portas da glória, numa ideia que mudou a partir de 2022: naquele que foi o Campeonato da Europa com mais assistências, as britânicas aproveitaram o fator casa para conquistarem o primeiro grande título e quebrarem as amarras que pareciam prender a equipa nas ocasiões chave. Segue-se o Mundial, depois de duas derrotas nas meias em 2015 e 2019, e nem mesmo as lesões de elementos importantes como Beth Mead ou Millie Bright conseguem resfrear as ambições do conjunto orientado por Sarina Wiegman. No entanto, logo nos grupos não será fácil.
Apesar de haver um Haiti que já conseguiu a sua vitória ao qualificar-se para a competição, e que aproveitará sobretudo para mostrar ao mundo Corventina, jovem talento de 19 anos que joga no Lyon, a Inglaterra tem pela frente uma antiga finalista à procura de regressar aos bons velhos tempos como aconteceu na última Taça da Ásia (China) e uma regressada à competição apoiada numa das melhores jogadoras da derradeira década (Dinamarca). Ambas têm fantasmas do passado em grandes provas, como aconteceu com as chinesas nos Jogos Olímpicos frente aos Países Baixos (2-8), mas a melhor versão de ambas poderá causar um maior incómodo no favoritismo inglês no grupo D, que tem logo a abrir um Dinamarca-China.
Jogos do grupo D
Dia 22 de julho: Inglaterra-Haiti (10h30) e Dinamarca-China (13h)
Dia 28 de julho: Inglaterra-Dinamarca (9h30) e China-Haiti (12h)
Dia 1 de agosto: Haiti-Dinamarca (12h) e China-Inglaterra (12h)
Cinco estrelas para seguir no grupo D
- Pernille Harder (Dinamarca, Chelsea/Bayern, média de 30 anos)
- Keira Walsh (Inglaterra, Barcelona, média de 26 anos)
- Lucy Bronze (Inglaterra, Barcelona, defesa de 31 anos)
- Wang Shuang (China, Racing Louisville, média de 28 anos)
- Li Mengwen (China, PSG, defesa de 28 anos)
Cinco promessas para seguir no grupo D
- Corventina (Haiti, Lyon, média de 19 anos)
- Zhang Linyan (China, Grasshopper, média de 22 anos)
- Lauren James (Inglaterra, Chelsea, avançada de 21 anos)
- Katie Robinson (Inglaterra, Brighton, média de 20 anos)
- Josefine Hasbo (Dinamarca, Harvard Crimson, média de 21 anos)
Grupo E. O sonho nacional entre as duas últimas finalistas e a equipa de outra “portuguesa”
Pode não ser caso único mas no mínimo é raro: olhando para aquilo que foi a edição de 2019 do Mundial, as duas finalistas serão agora adversárias na fase de grupos em contextos distintos mas com a mesma ambição de repetirem essa prestação. Os EUA, entre algumas lesões de jogadoras que seriam convocadas à mistura, foi começando a renovar a equipa após falhar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos e mistura agora um conjunto com a velha guarda liderada por Megan Rapinoe e Alex Morgan e uma nova geração que tem como expoentes máximos Sophia Smith e Trinity Rodman (filha da ex-estrela da NBA, Dennis “Verme” Rodman). Já os Países Baixos fizeram alterações substanciais depois da prestação aquém no último Europeu onde ia procurar defender o título, mudando de selecionador e de base da equipa para abrir uma nova era na seleção. À partida, salvo uma grande surpresa, ambas avançarão para os oitavos. Mas há Portugal.
No culminar de um trajeto de ascensão ao longo da última década, a Seleção Nacional, que fez pela primeira vez um Europeu em 2017 e repetiu a façanha em 2022, conseguiu a primeira qualificação de sempre para um Mundial. Em condições normais, e até pelo grupo em que foi sorteada, essa seria quase “a” vitória. Contudo, com uma base que se mantém há alguns anos e que tem vindo a ser reforçada com jogadoras jovens como Kika Nazareth ou Andreia Jacinto, Portugal ambiciona a dar mais um salto (ou “fazer possível o impossível”, como pedia Marcelo Rebelo de Sousa) e para isso o encontro com o modesto Vietname, também em estreia e com uma só jogadora fora do país (Huynh Nhu, dos portugueses do Vilaverdense), será fundamental.
Jogos do grupo E
Dia 22 de julho: EUA-Vietname (2h)
Dia 23 de julho: Países Baixos-Portugal (8h30)
Dia 27 de julho: EUA-Países Baixos (2h) e Portugal-Vietname (8h30)
Dia 1 de agosto: Vietname-Países Baixos (8h) e Portugal-EUA (8h)
Cinco estrelas para seguir no grupo E
- Megan Rapinoe (EUA, OL Reign, avançada de 38 anos)
- Sophia Smith (EUA, Portland Thorns, avançada de 22 anos)
- Lieke Martens (Países Baixos, PSG, extremo de 30 anos)
- Jill Roord (Países Baixos, Wolfsburgo, média de 26 anos)
- Jéssica Silva (Portugal, Benfica, avançada de 28 anos)
Cinco promessas para seguir no grupo E
- Trinity Rodman (EUA, Washington Spirit, avançada de 19 anos)
- Naomi Girma (EUA, San Diego Wave, defesa de 23 anos)
- Esmee Brugts (Países Baixos, PSV, avançada de 19 anos)
- Kerstin Casparij (Países Baixos, Manchester City, média de 22 anos)
- Kika Nazareth (Portugal, Benfica, avançada de 20 anos)
Grupo F. Wendie de regresso, Marta de partida e uma Bunny a querer dar o salto
Não é pelas melhores razões mas fica como ponto em comum. Quando se olha para as três equipas que têm aspirações a chegarem aos oitavos do Mundial via grupo F (duas mais do que uma, mas já lá vamos), todas tiveram de resolver problemas internos antes de se apresentarem ao exterior. No Brasil, e numa fase em que a geração de ouro chega ao fim, sobram críticas pela necessidade que as jogadoras têm de ir para fora para darem o salto; em França, algumas jogadoras ameaçaram avançar para uma reforma antecipada até que o selecionador fosse trocado (e a aposta recaísse em Hervé Renard); na Jamaica, sobraram os reparos por toda a organização em termos logísticos e de condições para este Campeonato do Mundo. Agora o disco mudou.
Apesar de ter apenas uma ida às meias-finais em Mundiais, tal como acontece em Europeus (neste caso, na edição de 2022), a França surge sempre como uma potencial candidata a algo entre o top 4 que ninguém sabe ao certo apontar o limite mínimo ao máximo. É por isso que várias publicações colocam uma muito ligeira vantagem ao conjunto europeu, nem por isso será um objetivo fácil de confirmar. E tudo porque o Brasil, que já foi à final do Mundial em 2011, está apostado em reescrever a história tendo agora a sueca Pia Sundhage no comando daquela que será a última participação da eterna Marta. A Jamaica, correndo por fora, espera poder fazer em termos coletivos o que Khadija “Bunny” Shaw faz no plano individual. Sobra ainda o Panamá, formação com poucas ou nenhumas aspirações a chegar aos oitavos após qualificar-se nos playoffs.
Jogos do grupo F
Dia 23 de julho: França-Jamaica (11h)
Dia 24 de julho: Brasil-Panamá (12h)
Dia 29 de julho: França-Brasil (11h) e Panamá-Jamaica (13h30)
Dia 2 de agosto: Jamaica-Brasil (11h) e Panamá-França (11h)
Cinco estrelas para seguir no grupo F
- Marta (Brasil, Orlando Pride, avançada de 37 anos)
- Debinha (Brasil, Kansas City, média de 31 anos)
- Wendie Renard (França, Lyon, defesa de 32 anos)
- Khadija Shaw (Jamaica, Manchester City, avançada de 26 anos)
- Marta Cox (Panamá, Pachuca, média de 25 anos)
Cinco promessas para seguir no grupo F
- Aline Gomes (Brasil, Ferroviária, avançada de 18 anos)
- Ana Vitória (Brasil, Benfica/PSG, média de 23 anos)
- Vicki Bècho (França, Lyon, avançada de 19 anos)
- Solai Washington (Jamaica, EUA, avançada de 18 anos)
- Jody Brown (Jamaica, Florida State Seminoles, avançada de 21 anos)
Grupo G. O padrinho que quer ser noiva e uma relação que pode acabar em festa dupla
Um Campeonato do Mundo é sempre um livro enorme de histórias e o grupo G tem um dos capítulos mais curiosos da edição de 2023 na Austrália e na Nova Zelândia. No último Dia de São Valentim, Lisa Boattin, lateral esquerda italiana da Juventus, assumiu a sua relação com Linda Sembrant, defesa sueca da Juventus. O vídeo não demorou a circular pelo Instagram e só faltou numa temporada especial a conquista do quarto Campeonato consecutivo pelas bianconeri. No entanto, havia ainda mais um parágrafo aberto por escrever, que veio do sorteio: com a colocação de Itália e Suécia no mesmo grupo, terão de jogar uma contra a outra num encontro que poderá ter grande importância nas contas finais (embora possam passar as duas).
Em condições normais, esse seria um cenário até plausível. A Suécia foi ganhando a alcunha de “padrinho mas nunca noiva” que continua à procura de um grande título depois de chegar às meias do último Mundial e do derradeiro Europeu, além das finais perdidas nas duas últimas edições dos Jogos, mas parte com grande dose de favoritismo ao primeiro lugar do grupo. Depois, há uma Argentina a dar tudo por uma vitória na fase de grupos para mostrar a evolução do feminino no país e uma África do Sul que venceu a Taça das Nações Africanas e criou um boom de interesse à sua volta, mas a Itália, mesmo estando numa fase de mudança de gerações na equipa com algumas caras conhecidas a falharem agora a competição e com resultados abaixo do esperado, tem condições mais do que suficientes para segurar a segunda posição.
Jogos do grupo G
Dia 23 de julho: Suécia-África do Sul (6h)
Dia 24 de julho: Itália-Argentina (7h)
Dia 28 de julho: Argentina-África do Sul (1h)
Dia 29 de julho: Suécia-Itália (8h30)
Dia 2 de agosto: África do Sul-Itália (8h) e Argentina-Suécia (8h)
Cinco estrelas para seguir no grupo G
- Fridolina Rolfö (Suécia, Barcelona, avançada de 29 anos)
- Kosovare Asllani (Suécia, AC Milan, média ofensiva de 33 anos)
- Estefanía Banini (Argentina, Atl. Madrid, avançada de 33 anos)
- Manuela Giugliano (Itália, Roma, média de 25 anos)
- Thembi Kgatlana (África do Sul, Racing Louisville, avançada de 27 anos)
Cinco promessas para seguir no grupo G
- Anna Sandberg (Suécia, Hacken, defesa de 20 anos)
- Hanna Bennison (Suécia, Everton, média de 20 anos)
- Lorena Benítez (Argentina, Palmeiras/Estudiantes, média de 24 anos)
- Giulia Dragoni (Itália, Inter/Barcelona, média de 16 anos)
- Wendy Shongwe (África do Sul, Universidade Pretória, avançada de 20 anos)
Grupo H. Alemanha em busca do tri em Mundiais (para dedicar a um bebé especial)
Aqui não há muito que enganar ou não fosse aquele velho chavão 11 contra 11 e no final ganha a Alemanha. No feminino pode não ser dessa forma em termos literais mas não anda longe disso. Em Mundiais, a equipa germânica foi cinco vezes às meias, chegou a três finais e foi campeã duas vezes (2007 e 2011); em Jogos Olímpicos, ganhou quatro medalhas em cinco participações, entre um ouro e três bronzes; em Europeus, foi finalista vencida na última prova ganha por Inglaterra em 2022 e chegou pela nona vez a uma decisão após oito vitórias em 11 edições. Num misto de jogadoras mais experientes como Alexandra Popp e uma nova geração com nomes como Lena Oberdorf ou Jule Brand, a Alemanha é candidata não só a passar a fase de grupos em primeiro mas também a chegar pelo menos às meias-finais da competição, sendo que a vitória teria a dedicatória especial a Melanie Leupolz, que foi mãe, voltou e vai estar na Austrália com o filho.
Com isso, sobra só uma vaga. E essa vaga pode ficar muito bem encaminhada logo na primeira jornada, quando a Coreia do Sul e a Colômbia jogarem uma contra a outra. Marrocos também faz parte do grupo mas, em condições normais, ficará com o marco histórico de ser a primeira equipa árabe na prova como principal “vitória”. Depois, no outro duelo particular, a Coreia do Sul até poderia partir com uma ligeira vantagem no plano teórico mas a evolução competitiva dos últimos tempos das sul-americanas, que valeu por exemplo a final da Copa América com revelações como a jovem Linda Caicedo (um fenómeno que há muito dá nas vistas mas que já teve de superar um cancro nos ovários tendo apenas 18 anos), equilibrou pelo menos os pratos da balança – ou virou mesmo para as colombianas, com cada vez mais jovens jogadoras em clubes europeus.
Jogos do grupo H
Dia 24 de julho: Alemanha-Marrocos (9h30)
Dia 25 de julho: Colômbia-Coreia do Sul (3h)
Dia 30 de julho: Coreia do Sul-Marrocos (5h30) e Alemanha-Colômbia (10h30)
Dia 3 de agosto: Coreia do Sul-Alemanha (11h) e Marrocos-Colômbia (11h)
Cinco estrelas para seguir no grupo H
- Alexandra Popp (Alemanha, Wolfsburgo, avançada de 32 anos)
- Sara Däbritz (Alemanha, Lyon, média de 28 anos)
- Ji So-Yun (Coreia do Sul, Suwon, média de 32 anos)
- Catalina Usme (Colômbia, América de Cali, avançada de 33 anos)
- Ghizlane Chebbak (Marrocos, AS FAR, avançada de 32 anos)
Cinco promessas para seguir no grupo H
- Jule Brand (Alemanha, Wolfsburgo, defesa/ala de 20 anos)
- Lena Oberdorf (Alemanha, Wolfsburgo, média de 21 anos)
- Casey Phair (Coreia do Sul, Players Development Academy, avançada de 16 anos)
- Manuela Vanegas (Colômbia, Real Sociedad, média de 22 anos)
- Linda Caicedo (Colômbia, Real Madrid, avançada de 18 anos)