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Ter uma fobia é o mesmo que ter medo de alguma coisa?

Não. O medo é uma reação perfeitamente natural, saudável e útil. “Muitas vezes é tomado com uma emoção negativa, mas é uma das mais basilares que temos, essencial a uma resposta adaptativa de sobrevivência”, diz Ricardo João Teixeira, psicólogo clínico e coordenador da REACH – Clínica de Saúde Mental e investigador do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo Comportamental da Universidade Coimbra. Ou seja, é o medo que nos afasta de situações que podem ser perigosas, como fugir de um animal ou evitar entrar no mar quando as ondas estão demasiado grandes.

Quase todos temos medos que não consideramos muito racionais – de um animal inofensivo ou de sítios muito altos, por exemplo – mas, por norma, conseguimos controlar a resposta ansiosa sem que ela interfira demasiado com a nossa vida ou bem-estar. Mas uma fobia é uma resposta de medo exacerbada que ocorre quando a nossa perceção sobre um determinado estímulo (real, recordado ou antecipado) desperta uma sensação de ameaça.

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Então, afinal, o que são fobias?

As fobias podem ser definidas como um medo incontrolável, irracional, excessivo e persistente em relação a um objeto, animal, lugar ou situação e são uma perturbação da ansiedade bastante frequente. Um estudo de 2017 conduzido por investigadores de várias universidades, mostra que a prevalência de fobias específicas ao longo da vida é de cerca de 7,4% .

Em termos práticos: uma pessoa que tenha medo de andar de avião pode sentir-se ansiosa na véspera da viagem e um pouco desconfortável durante o voo. Já alguém com uma fobia, recusa-se a embarcar ou sente uma resposta fisiológica e emocional tão forte durante o percurso que se torna difícil de tolerar, podendo até ter um ataque de pânico.

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Que tipos de fobias existem?

As fobias podem ser direcionadas para qualquer coisa ou situação, sendo que, por norma, têm uma componente cultural e contextual. Tanto o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, como a Classificação Internacional de Doenças (CID-11), da Organização Mundial de Saúde, dividem as fobias em três grupos principais:

Agorafobia: Abrange medo de sair de casa, de entrar em lojas, de estar no meio de multidões, espaços abertos ou locais públicos;

Perturbação de Ansiedade Social: O receio extremo do escrutínio de outras pessoas que leva a evitar algumas ou muitas situações sociais;

Fobias específicas: Restritas a situações muito particulares, como alturas, certos animais, espaços fechados, agulhas, sangue, andar de avião ou trovões.

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O que se sente quando se tem uma fobia?

Há três tipos de sintomas principais que podem variar na frequência e intensidade: os físicos (que se sentem no corpo), os cognitivos (os pensamentos) e os comportamentais (a forma como agimos).

“Alguns dos principais sintomas fisiológicos, que surgem com a ativação do sistema nervoso simpático (um dos componentes do sistema nervoso autónomo, que prepara o organismo para reagir em situações de medo e stress), são as palpitações, tremores, tonturas, falta de ar, desorientação ou confusão, suores, choro, alterações gastrointestinais e respiração acelerada”, enumera o psicólogo clínico Ricardo João Teixeira.

Os sintomas cognitivos, esclarece o psicoterapeuta, poderão incluir pensamentos como “vou vomitar”, “vou desmaiar”, “vou morrer sufocado”, “vou fazer papel de parvo”, “vou ficar paralisado de medo”.

Finalmente, os sintomas comportamentais: a pessoa com fobia recusa-se a estar em contacto com o objeto ou situação fóbica para não sentir ansiedade, o que pode criar um impacto negativo na sua vida.

Por exemplo, uma pessoa com fobia de cães pode ter dificuldade em andar na rua sozinha com receio de se cruzar com um; alguém com fobia de alturas pode ter a vida pessoal ou profissional condicionada por se recusar a subir acima de um primeiro andar: uma pessoa com fobia social pode evitar comer ou beber à frente de outros.

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E como é que aparecem?

As causas podem ser mais ou menos fáceis de identificar. O psicólogo Ricardo João Teixeira refere que há três fatores que podem ser importantes: “questões relacionadas com a própria personalidade – há pessoas que são mais medrosas; uma resposta modulada pelas preocupações ou medos dos pais, no caso das crianças; e a vivência de experiências adversas anteriores ou até mesmo traumas, relacionadas com o objeto ou situação fóbica.”

Neste último caso, pode haver uma resposta fóbica a uma situação idêntica. Por exemplo: alguém que foi mordido por um cão pode desenvolver uma fobia a cães. Mas também pode acontecer que a fobia surja de uma associação errada, ou mesmo de uma generalização excessiva, que o cérebro gera e condiciona. No entanto, mesmo que não se sabia qual é a causa da fobia é possível avaliá-la e definir o plano de tratamento.

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Como se tratam as fobias?

Dependendo de serem mais simples ou mais complexas, mais ou menos intensas e das próprias preferências da pessoa, as fobias podem ser tratadas com intervenção psicológica, embora alguns pacientes sintam que podem precisar também de medicamentos. “Muitas vezes o psicólogo clínico encaminha para psiquiatria, outras vezes, o psiquiatra encaminha para psicoterapia”, refere Ricardo João Teixeira. “A medicação pode ser uma ‘almofada’ que permite à pessoa algum conforto no controlo da resposta fisiológica, o que lhe permite uma exposição ao seu medo, não só para reduzir sintomas, mas também para fazer novas aprendizagens.”

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Que técnicas são usadas no tratamento?

Uma das principais é a terapia de exposição em que, gradualmente, a pessoa aprende a confrontar-se com os estímulos que desencadeiam ansiedade, em vez de os continuar a evitar. O objetivo é ajudar a pessoa a regular as respostas perante a apreensão ansiosa.

“A terapia de exposição implica um processo de psicoeducação, para a pessoa perceber o que se passa com o seu corpo, compreender a resposta ansiosa e aprender a tolerá-la melhor. Depois, passa para um processo de familiarização com os estímulos de medo, usando, por exemplo, técnicas de respiração que estimulam a ativação do sistema nervoso parassimpático (que atua em oposição ao sistema nervoso simpático)”, explica Ricardo João Teixeira.

Segue-se, depois, o processo de hierarquizar as experiências ou cenários desagradáveis para começar aquilo a que os especialistas chamam “dessensibilização sistemática”: a pessoa vai-se expondo aos cenários que provocam sensibilidade, para ir tolerando as respostas ao medo. “Ou seja, pretende-se que a pessoa desenvolva uma certa habituação, por exposição gradual e prolongada. O objetivo é sempre promover um maior grau de autonomia e bem-estar.”

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E de que forma é que isto se faz?

Por vezes, o processo de exposição começa a ser feito por imaginação guiada, que consiste na utilização de imagens mentais para promover o relaxamento e o bem-estar, reduzir a dor ou facilitar a cura. Também se pode fazer isto recorrendo à ajuda de realidade virtual ou aumentada, quando essa opção está disponível. Segue-se depois a exposição aos cenários concretos, que pode ou não ser feita com a presença do terapeuta.

As fobias, sobretudo aquelas relacionadas com eventos traumáticos, podem também ser alvo de intervenção por EMDR (Eye Moviment Desensitization and Reprocessing / Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares), uma estimulação bilateral (visual, auditiva ou táctil), que ativa o sistema de processamento de informação do cérebro, permitindo que a lembrança traumática seja reprocessada.
Este vídeo da EMDR Association, do Reino Unido, ajuda a explicar um pouco a forma como funciona este protocolo.

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Quanto tempo demora o tratamento?

Depende muito. Geralmente, fobias mais complexas (como a agorafobia ou uma fobia social) tendem a ter intervenções mais longas. E fobias específicas (como o medo de um animal em particular) têm tratamentos relativamente mais breves. Ainda assim, “o tempo é sempre muito variável, dependendo também do contexto, da intensidade e da frequência dos sintomas, assim como do tempo desde o surgimento dos mesmos”, diz o psicólogo Ricardo João Teixeira. Que deixa um alerta: “É preciso cautela e um profissional com experiência para que seja, de facto, uma ajuda e não agrave o quadro já existente.”