- O que são terapias celulares? E as terapias celulares CAR-T?
- Como funcionam as terapias celulares CAR-T?
- Como são fabricadas e administradas aos doentes as terapias celulares CAR-T?
- Que tipos de cancro podem ser tratados com as terapias celulares CAR-T?
- Estas terapias já são utilizadas em Portugal?
Explicador
- O que são terapias celulares? E as terapias celulares CAR-T?
- Como funcionam as terapias celulares CAR-T?
- Como são fabricadas e administradas aos doentes as terapias celulares CAR-T?
- Que tipos de cancro podem ser tratados com as terapias celulares CAR-T?
- Estas terapias já são utilizadas em Portugal?
Explicador
O que são terapias celulares? E as terapias celulares CAR-T?
O sistema imunitário é, dito de uma forma muito simples, o mecanismo de defesa do nosso organismo contra as mais variadas ameaças, sejam vírus, bactérias, parasitas, células tumorais, entre outros. Composto por uma rede complexa de células e proteínas, é responsável por detetar, atacar e destruir esses microrganismos e células potencialmente prejudiciais à nossa saúde. Tirando partido deste sistema nobre do nosso organismo, a terapia celular é um método individualizado que trata algumas doenças oncológicas, através da transferência de células vivas e intactas com o potencial para travar o avanço de uma doença ou até curá-la. É o resultado de muitos anos de investigação, tendo começado em 1960 com a descoberta de que as células tumorais produziam antigénios (substâncias estranhas ao nosso organismo que levam à formação de anticorpos específicos, capazes de as neutralizar).
Falando especificamente das terapias celulares CAR-T (Chimeric antigen receptor ou recetor de antigénio quimérico dos linfócitos T), estas são concebidas para melhorar a capacidade que o nosso sistema imunitário tem no combate ao cancro. Neste método, é feita uma recolha de sangue do próprio doente e separados os glóbulos brancos (linfócitos T) dos restantes componentes. Os linfócitos T são depois modificados em laboratório onde lhes é adicionado este recetor (CAR), que lhes dá a capacidade de atacar de forma mais agressiva e eficaz as células cancerígenas. Um dos objetivos futuros é que possam ser utilizadas células de dadores para fazer este tipo de tratamento, algo que está neste momento a ser alvo de investigação pela comunidade científica.
Como funcionam as terapias celulares CAR-T?
Para compreender como atuam as terapias celulares CAR-T é necessário saber, em primeiro lugar, como funciona o nosso sistema imunitário. Quando um corpo estranho entra em contacto com o organismo, o sistema imunitário é capaz de reconhecê-lo graças aos antigénios que se encontram na superfície dessas substâncias invasoras. Os glóbulos brancos (linfócitos T) têm as suas próprias proteínas, os chamados recetores, que se ligam a esses tais antigénios, ajudando outros componentes do sistema imunitário a destruí-los. É assim que eliminam microrganismos que nos podem causar doença. Para cada antigénio, há um recetor específico, tal como para cada cadeado há apenas uma chave capaz de abri-lo. Também as células cancerígenas têm os seus próprios antigénios, mas se as nossas células imunitárias não tiverem os recetores certos, não vão ser capazes de se ligar às células tumorais e ajudar o nosso organismo a destruí-las.
Nas terapias celulares CAR-T, as células T modificadas são administradas ao doente e quando entram em contacto com os antigénios específicos conseguem destruí-las de forma mais eficaz.
Como são fabricadas e administradas aos doentes as terapias celulares CAR-T?
Nas terapias celulares CAR-T, não há dois medicamentos iguais. Uma vez que são utilizadas as células do próprio doente para “fabricar” o tratamento, este acaba por ser individualizado e concebido para determinada pessoa.
Os medicamentos de terapia celular CAR-T diferem uns dos outros em termos de:
- antigénio-alvo;
- processo de fabrico;
- estrutura do CAR;
- dosagem;
- prazo de entrega do medicamento.
O fabrico das terapias celulares CAR-T é altamente complexo e envolve vários passos. Explicando de forma muito simples, os linfócitos T são separados das restantes células do sangue passando, depois, por um processo de enriquecimento e ativação para as preparar para a modificação genética. O passo seguinte é adicionar o recetor CAR recorrendo a um vírus inativo que reprograma os linfócitos T tornando-os mais eficazes a identificar determinados antigénios específicos. De seguida, é a fase de proliferação, em que as células se multiplicam até haver células CAR-T suficientes para o tratamento.
Assegurada uma correta conservação e outros fatores, como qualidade e viabilidade, as células CAR-T são finalmente administradas ao doente, através de perfusão. Ou seja, o medicamento é introduzido de forma lenta e contínua na circulação sanguínea.
Que tipos de cancro podem ser tratados com as terapias celulares CAR-T?
As terapias celulares CAR-T são utilizadas atualmente no tratamento de alguns tipos de cancro do sangue que não responderam a tratamentos prévios, nomeadamente algumas formas de linfoma não Hodgkin (tal como linfoma difuso de grandes células B e linfoma primário do mediastino de grandes células B) e para doentes pediátricos e jovens adultos que sofram de leucemia linfoblástica aguda. Contudo, o objetivo não é ficar apenas pelo tratamento destes cancros. Estão neste momento a ser realizados vários ensaios clínicos com a aplicação de terapias celulares CAR-T noutros tipos de cancros do sangue e em alguns tipos de tumores sólidos.
Estas terapias já são utilizadas em Portugal?
A resposta é “sim”. As terapias celulares com CAR-T já estão a ser utilizadas em alguns centros hospitalares nacionais, que passam por um complexo e rigoroso processo de qualificação para poderem administrar estes medicamentos, que inclui não só a validação de procedimentos e equipamentos, como também a formação dos profissionais.
Este tipo de tratamento oncológico é inovador e, além de trazer uma nova esperança para pessoas com cancro, permite também uma abordagem terapêutica personalizada.
Este conteúdo está integrado no projeto Células de Esperança