A crescente globalização e a ideia cada vez mais cimentada de que uma pessoa não tem de passar a vida inteira exatamente no mesmo sítio em que nasceu tem sido uma realidade no futebol nas últimas décadas. Tal como acontece em tantos outros prismas, também essa característica da sociedade mudou intrinsecamente a modalidade: logo à partida, com as naturalizações de jogadores que não nasceram no país cuja seleção representam.
Um dos exemplos paradigmáticos disso mesmo, nos últimos anos, tem sido França. A seleção francesa conquistou o Mundial 2018 com apenas três jogadores (Umtiti, Lemar e Mandanda) que não nasceram em território francês, é certo, mas 19 dos 23 convocados tinham dupla nacionalidade ou pais nascidos noutro país.
Quatro anos depois, no Mundial 2022, a lógica manteve-se. Nos 26 eleitos para o Campeonato do Mundo, Didier Deschamps integrou três jogadores que não nasceram em França: Eduardo Camavinga (Angola), Marcus Thuram (Itália) e o mesmo Steve Mandanda (República Democrática do Congo).
No Facebook, porém, uma publicação indica que só um dos jogadores do onze inicial francês contra Marrocos, na meia-final, nasceu em França — neste caso, o médio Adrien Rabiot. Na imagem, é possível ver todos os atletas na habitual fotografia de grupo e a bandeira do país onde, alegadamente, terão nascido. Na legenda, por sua vez, lê-se: “Confira os países em que nasceram os jogadores da seleção francesa presentes nesse Mundial do Qatar.”
A verdade, contudo, é que todos os jogadores deste onze inicial nasceram em França. Esta publicação de Facebook limitou-se a associar a ascendência de cada jogador — a origem de avós ou pais — e rotulá-la como nacionalidade ou país de nascimento. Griezmann, por exemplo, nasceu em Mâcon mas tem avô português. Mbappé, por exemplo, nasceu em Paris mas tem pai camaronês. E Giroud, para citar outro exemplo, nasceu em Chambéry mas tanto a avó materna como a paterna eram italianas.
No Qatar, Marrocos era a seleção recordista no que toca a jogadores nascidos noutro país: eram 13 em 26, ou seja, metade do lote de convocados de Walid Regragui. Portugal surgia em 9.º nesse ranking, com sete atletas nascidos noutro país entre William Carvalho (Angola), Matheus Nunes (Brasil), Otávio (Brasil), Pepe (Brasil), Raphael Guerreiro (França), Danilo Pereira (Guiné-Bissau) e Diogo Costa (Suíça). Em sentido oposto, Argentina, Brasil, Arábia Saudita e Coreia do Sul não levaram para o Mundial qualquer jogador que não tivesse nascido no respetivo país.
Conclusão
Não é verdade que todos os jogadores que alinharam de início pela seleção de França, nos jogos do Mundial do Qatar, nasceram fora daquele país. As publicações em que essa alegação é feita assumem que os jogadores nasceram em países de que, na verdade, os seus pais ou avós são originários. Entre os 26 selecionados por Didier Deschamps para viajar até ao Qatar, apenas três — Eduardo Camavinga (Angola), Marcus Thuram (Itália) e Steve Mandanda (República Democrática do Congo) — não nasceram em território francês, e nenhum deles alinhou de início por aquela seleção.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook