No final da celebração, a primeira enquanto cardeal, Américo Aguiar reconheceu que está a viver um momento que não foi programado” e que há alguns “sentimentos mistos” pelo meio. Garantiu, no entanto, que hoje tem mais confiança do que medo.

“Sinto que o medo de 9 de julho [dia em que foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco] se vai transformando em confiança naquilo que significa ter consciência que é um caminho que faço junto com o sucessor de Pedro, com o colégio cardinalício, com homens e mulheres que tentam ser santos e fazer o bem”, referiu, segundo a agência Ecclesia.

O cardeal voltou a destacar o carinho que o Papa Francisco mostrou em relação a Setúbal — um dos temas da breve conversa que trocaram –, mostrando-se expectante de iniciar a missão na diocese para a qual foi nomeado. “O carinho do Papa Francisco, com muita propriedade falou de Setúbal, mas quanto menos tempo falta, mais quero chegar para conhecer, amar e servir, os quase 900 mil dos cidadãos que moram em Setúbal – eu não sei nada de Setúbal e tenho de aprender com eles”, disse ainda.

O novo cardeal, atualmente o sexto em Portugal, lembrou durante a homilia a Jornada Mundial da Juventude, destacando o trabalho e o compromisso dos voluntários que contribuíram para a sua realização.

“Foi indispensável a colaboração e o empenho e a dedicação de todos. Os mais de 30 mil voluntários que trabalharam na Jornada, os pequeninos meia dúzia que fomos no início, daquelas centenas que depois se juntaram, os milhares em todo o mundo que trabalharam, foi uma experiência de Deus”, sublinhou o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023. “Eu acho que atingimos a frequência de Deus. A JMJ disse-nos que quando permitimos que Deus aconteça nas nossas vidas, ele apresenta-se, abraça-nos, acolhe-nos e ama-nos”, acrescentou.

Américo Aguiar revelou que os “irmãos cardeais” manifestaram para com ele gratidão pela organização da JMJ em Lisboa, sentimento que diz ser recíproco. “Devemos sentir-nos orgulhosos do que fomos capazes de fazer e daquilo que Deus fez. Daí, a minha e a nossa gratidão, porque durante quatro anos andamos a convidar as pessoas para um encontro com Cristo vivo, vamos até aos limites da geografia e das capacidades humanas e agradeço muito ao COL e a todas as direções da JMJ. Desfizemos-nos em milhares de atividades para que o convite chegasse a todos para um encontro com Cristo vivo”, afirmou.

“O todos, todos, todos” proferido pelo Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude 2023, em Lisboa, continua a ressoar meses depois. Foi um dos pontos da homilia proferida este sábado pelo cardeal Américo Aguiar durante a celebração a que presidiu na Igreja de Santo António dos Portugueses.

“Às vezes armamo-nos em santos mas nem batizados merecemos ser. Muitas vezes há irmãos com uma consciência tão profunda de serem pecadores que devíamos proclamá-los santos. E é este caminho que eu quero ajudar, dentro do possível, o nosso querido Papa Francisco. Este caminho da ternura, de todos, todos, todos. Inaugurarmos, não um tempo novo, porque sempre foi assim, o evangelho sempre foi para todos”, afirmou, citado pela agência Ecclesia, reconhecendo sentir-se “uns dias justo” e “às vezes pecador”.

O patriarca de Lisboa descreveu como um momento de “júbilo, agradecimento e gratidão” este sábado em que Américo Aguiar foi elevado a cardeal, numa cerimónia presidida pelo Papa Francisco na Praça de S. Pedro, no Vaticano.

Para Rui Valério, a nomeação de Américo Aguiar como cardeal é um sinal da aposta do Papa Francisco na juventude. “Reencontro e reconheço nesta escolha do Papa Francisco a aposta que faz na juventude. Isto vem em coerência o que tem sido o seu caminho, e sobretudo, a sua mensagem acerca do tesouro que a juventude constitui e representa para o mundo e para a Igreja”, disse à Agência ECCLESIA.

Rui Valério lembrou que Américo Aguiar serviu o patriarcado numa dupla qualidade: “Como padre, que muito deu e colaborou, sobretudo em momentos de grandes desafios para a Rádio Renascença, mas como bispo auxiliar foi capaz de incutir um espírito de sinodalidade e, nessa qualidade, foi uma revelação como exímio líder na organização e na logística da Jornada Mundial da Juventude”, acrescentou.

“Encontrar em D. Américo um jovem que foi bispo auxiliar de Lisboa, e é português, alguém em quem o Papa Francisco pensou para estar a seu lado, quiçá para lhe solicitar algum parecer, algum conselho sobre o rumo a conduzir a Igreja, para nos é um momento de júbilo e de gratidão”, sublinhou.

A ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares representou este sábado de manhã o governo no Vaticano durante o consistório em que Américo Aguiar foi elevado pelo Papa Francisco a cardeal. Ana Catarina Mendes reconheceu que, apesar de Portugal ser um estado laico, esta nomeação é um “orgulho” para o país e um reconhecimento do trabalho da organização da Jornada Mundial da Juventude de 2023.

“Portugal é um estado laico, mas um estado que respeita todas as religiões. É um estado que tem uma relação com a Santa Sé histórica e que deve ser mantida. E por isso a consagração de hoje de D. Américo como cardeal é não só um reconhecimento do seu percurso pessoal dentro da Igreja, mas é também um reconhecimento do Papa Francisco, que teve oportunidade de o dizer, pela excelência da organização nesta Jornada Mundial da Juventude”, disse aos jornalistas no final da cerimónia.

“Devo dizer que para mim, enquanto governante e representante do Estado, é também um orgulho que Portugal possa ser visto com esta magnitude nas várias dimensões que temos na nossa sociedade de que a Igreja também faz parte”, acrescentou.

Américo Aguiar já é oficialmente membro do colégio cardinalício e, em declarações aos jornalistas, explicou como durante o consistório recordou o momento em que o Papa celebrou sozinho na Praça de São Pedro a benção extraordinária Urbi et Orbi, em plena pandemia de Covid-19. “Quando estava a subir aquela rampa lembrei-me daquele dia, daquela vigília do Papa sozinho naquele contexto da pandemia, do confinamento. Parece que senti a partilhar esse peso, a partilha desse peso e dessa caminhada”, revelou.

Fotogaleria. Papa Francisco reza numa praça de São Pedro deserta

O novo cardeal revelou que o Papa Francisco brincou com a Igreja titular que lhe foi atribuída, a de Santo António de Pádua, na Via Merulana: “Disse umas piadas sobre isso, se é de Lisboa ou de Pádua agora entendam-se”. Na breve conversa não faltou uma menção a Setúbal, diocese para qual Américo Aguiar foi nomeado. “[O Papa] tem Setúbal no seu coração e isso é particularmente bonito e inspirador”.

Numa referência à homilia do Papa, que sublinhou que o colégio cardinalício deve ser como uma orquestra sinfónica, Américo Aguiar disse que agora é tempo de dar música. “Não sou muito bom a música, mas enfim, faço parte de uma orquestra sinfónica e sinodal e agora vamos dar música. É isso que é preciso”.

D. Américo Aguiar já foi nomeado cardeal. Para o jornalista especialista em assuntos religiosos, Filipe Avillez, a importância desta nomeação é “enorme”. Considera que agora será “mais influente”.

[Ouça aqui a análise do Filipe Avillez]

“Ser cardeal é quase o topo da carreira”

No final dos cumprimentos a cada um dos novos cardeais, o Papa Francisco encerrou a celebração com a benção final. O cortejo sai agora da Praça de São Pedro. De seguida os novos cardeais vão receber os cumprimentos de quem se quiser dirigir a eles.

Américo Aguiar acaba de receber as insígnias cardinalícias — o barrete vermelho e o anel — pelas mãos do Papa Francisco e é oficialmente cardeal. Antes de se juntar aos restantes cardeais do colégio cardinalício presentes na Basílica, abraçou o Papa.

Como igreja titular, Francisco atribuiu ao novo cardeal português a Basílica de Santo António de Pádua, situada na Via Merulana, em Roma.

Começa agora a parte mais importante da celebração, em que os novos cardeais recebem as insígnias cardinalícias das mãos do Papa Francisco.

Depois de jurarem fidelidade ao Papa e aos seus sucessores legítimos, cada um dos novos cardeais dirige-se agora ao Papa Francisco, ajoelha-se diante dele e recebe o barrete cardinalício e o anel.

“Recebe o anel das mãos de Pedro e sabe que o teu amor pela Igreja é fortalecido pelo amor do príncipe dos apóstolos”, diz o Papa a cada um dos novos cardeais.

O Papa Francisco enuncia agora o nome dos 21 novos cardeais. Américo Aguiar é o 17.º da lista, que inclui 18 eleitores num futuro conclave.

O primeiro-ministro, António Costa, desejou hoje as “maiores felicidades” ao bispo Américo Aguiar, que se torna hoje no 47.º cardeal português, considerando que é um “sinal do reconhecimento do seu mérito e trabalho”.

“No dia em que recebe do Papa Francisco as insígnias de Cardeal, desejo as maiores felicidades a D. Américo Aguiar. É um sinal do reconhecimento do seu mérito e trabalho”, lê-se numa mensagem na conta oficial do chefe do executivo português na rede social X (antigo Twitter).

No dia em que recebe do @Pontifex_pt as insígnias de Cardeal, desejo as maiores felicidades a D. Américo Aguiar. É um sinal do reconhecimento do seu mérito e trabalho. Vai para uma Diocese muito importante e exigente, Setúbal, onde seguramente também fará um excelente trabalho. pic.twitter.com/IZS8JRBrRY

— António Costa (@antoniocostapm) September 30, 2023

Costa acrescenta que Américo Aguiar “vai para uma Diocese muito importante e exigente, Setúbal, onde seguramente também fará um excelente trabalho”.

Começou agora o consistório, presidido pelo Papa Francisco na Praça de S. Pedro, em que Américo Aguiar e 20 bispos serão formalmente elevados a cardeal. O Papa Francisco acaba de fazer a saudação inicial e segue-se agora uma saudação de um dos novos cardeais, em nome de todos.