A seca é um fenómeno climático que se está a tornar cada vez mais frequente e severo, em particular na região mediterrânea, em resultado das alterações climáticas. A ausência de precipitação por longos períodos tem impactos profundos e multifacetados na saúde do solo e ecossistemas, na produtividade agrícola e na sustentabilidade e subsistência dos meios rurais. A seca e a degradação do solo são dois desafios ambientais que estão intimamente relacionados e que aumentam o risco de desertificação de várias regiões.

Os efeitos adversos da seca na qualidade do solo são numerosos, destacando-se a elevada erosão e a redução da fertilidade, o que afeta de forma muito significativa a produção de alimento e aumenta a insegurança alimentar. Lidar com os problemas decorrentes da seca e da desertificação requer uma abordagem holística que integre várias estratégias com vista à melhoria da saúde do solo e capacidade produtiva do mesmo. A biotecnologia surge como um instrumento crucial para atingir estes objetivos, uma vez que as técnicas biotecnológicas oferecem soluções inovadoras para enfrentar os desafios impostos pela escassez de água, promovendo a sustentabilidade agrícola e a resiliência dos ecossistemas. A utilização de ferramentas de base microbiana como os biofertilizantes reveste-se de especial relevância na melhoria da fertilidade do solo e no crescimento das plantas sob condições de seca. Os biofertilizantes são formulações de microrganismos benéficos do solo contendo bactérias promotoras do crescimento vegetal e/ou fungos micorrízicos que ajudam a mobilizar e a converter os nutrientes do solo em formas assimiláveis pelas plantas através de processos biológicos como a fixação de azoto e a solubilização de fósforo. Além disso, os biofertilizantes produzem hormonas vegetais essenciais ao desenvolvimento do sistema radicular das plantas, permitindo-lhes absorver mais água e nutrientes, o que é uma característica crucial em contexto de escassez de água.

A combinação dos biofertilizantes com a aplicação de corretivos orgânicos e sistemas de cultivo diversificados permite desenvolver um ecossistema agrícola ainda mais resiliente e produtivo. Os corretivos orgânicos como por exemplo, o composto e o biochar permitem melhorar significativamente a estrutura do solo, a fertilidade e a capacidade de retenção de água. Quando acoplados a variedades tolerantes à seca e à utilização de culturas de cobertura, esquemas de rotação e co-cultivo e agrofloresta, os benefícios são ainda mais relevantes, contribuindo para manter a saúde e a produtividade do solo durante períodos prolongados de seca. Importante destacar que estas estratégias deverão ser combinadas com práticas eficientes de gestão da água, como a captação de água da chuva, irrigação gota a gota e o uso de sensores de humidade do solo para reduzir o desperdício. Por outro lado, a avaliação de risco e identificação de zonas vulneráveis têm também um papel fundamental para a formulação de estratégias de mitigação apropriadas.

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