Michael Nehls, autor do livro “Die Alzheimer Lüge” (“A mentira da doença de Alzheimer”, original publicado em 2014 que tem agora uma edição de bolso mas ainda sem tradução em português), defende que há uma mentira associada à doença de Alzheimer: que a idade é o maior fator de risco. Segundo o autor, a doença está a ser tratada como uma fatalidade: já não se pergunta “se” vamos ter a doença de Alzheimer, mas apenas “quando”? Ora, como as sociedades mais ricas estão envelhecendo, iremos ter o que ele chama uma “pandemia apocalíptica”. É este “pesadelo” que, segundo Nehls, leva a indústria farmacêutica e muitos cientistas a serviram-se do lema “o medo vende-se bem” (fear sells) para atingir os seus fins.

Quais as consequências da mentira

Com a mentira sobre a doença de Alzheimer, continua Nehls, é criada uma dependência medicamentosa e ao mesmo tempo desperdiçada uma solução. É criada uma dependência indevida porque esta não é uma doença que se possa curar com medicamentos. É desperdiçada uma solução, porque a doença é condicionada pelo estilo de vida hodierno: dormimos pouco, movemo-nos pouco, alimentamo-nos de forma pouco saudável e vivemos numa sociedade onde falta “calor humano”. A nossa genética não está em condições de compensar estes défices induzidos pelo ambiente, segundo o autor.

Contrariamente ao que muita gente possa pensar, continua Nehls, está provado que as doenças não são causadas pela idade, sem mais. Em Okinawa, uma ilha no sul do Japão, foi estudado, durante 25 anos, o estilo de vida da população, porque parecia ter como alvo uma vida saudável. De facto, lá se encontraram pessoas saudáveis em idade avançada. Depois da segunda guerra mundial, com a influência da cultura dos Estados Unidos, apareceram as doenças da civilização, como a obesidade, por exemplo. Um outro estudo, independente de Okinawa, mostrou que 90% das pessoas com 100 anos de idade, chegaram aos 92 anos a viver sozinhas e de boa saúde.

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Por tudo isto, Nehls critica o excessivo financiamento da ciência e da terapia clínica, em comparação com o apoio dado à prevenção, o que quer dizer, o esclarecimento das razões principais da doença.

Como prevenir?

Na generalidade, Nehls aconselha: ir de encontro ao “normal” para o ser humano em termos de espécie; e não aceitar como “normal”, o cultural que leva à doença de Alzheimer. E dá exemplos concretos de como prevenir a doença de Alzheimer.

Reduzir  o stress “maligno”

A sobrecarga constante, a falta de tempo e stress crónico cria um stress “maligno” (“distress”, do grego). Se, pelo contrário, se toma tempo para trabalhar um problema, cria-se um stress positivo (“eustress” do grego), o qual reduz o risco da doença de Alzheimer. Com efeito, quase não há nada mais benéfico para o crescimento e desenvolvimento do cérebro do que a experiência do sucesso.

Sentido de vida

Com a idade vale: “use o cérebro ou perde-o” (use it or lose it). Quem, por exemplo, entrar na reforma e se empenhar socialmente, reduz o risco da doença de Alzheimer em mais de 40%. Um sentido para a vida (ou mesmo para o dia) tem efeitos biológicos positivos, como já se conseguiu medir. A curiosidade e a descoberta na internet, por exemplo, é também eficaz. Um estudo de 2012 mostrou que este uso da internet aumenta o tempo de saúde mental em 8,5 anos, em média. Também dançar (foi estudado) baixa o risco da doença de Alzheimer em 25%.

Alimentação saudável

Saudável é uma alimentação variada e de qualidade. O autor aconselha alguns alimentos em especial: óleo de coco (Cocos nucifera), muita fruta e legumes. Em contrapartida, recomenda a redução dos produtos lácteos. Tudo isto se mostrou benéfico, na redução do risco da doença de Alzheimer.

Movimento

50% do risco da doença de Alzheimer deve-se, na nossa sociedade, ao hábito de ver televisão várias horas por dia, sem que estas sejam compensadas por outras atividades de tempo livre. O movimento corporal importa, de facto, porque ativa a formação de novas células, nomeadamente no hipocampo, ajuda a maturação do cérebro e melhora a capacidade de aprendizagem.

A nova edição, de bolso, do livro de Nehls, ainda sem tradução para português

O que é a doença de Alzheimer?

Sucintamente, a doença de Alzheimer (nome do cientista que descobriu a doença) significa que numa dada parte do cérebro, o hipocampo, se formam os tóxicos da doença de Alzheimer, que daí se disseminam pelo o cérebro e o destroem. O hipocampo, que tem, grosso modo, o tamanho de um polegar, é o lugar onde se formam as memórias, que são acompanhadas pela génese de novas células neuronais. Em poucos anos, o doente de Alzheimer fica confuso, desorientado e não consegue comunicar. No estádio final da doença, não reconhece mais as pessoas, mesmo as que lhe eram mais próximas, não se levanta da cama e pode ter dificuldades em engolir entre outros sintomas.

Quem é Michael Nehls?

Michael Nehls investigou em genética molecular durante mais de 15 anos. Publicou mais de 50 artigos científicos, alguns em colaboração com prémios Nobel, e é detentor de várias patentes. Na ‘Clínica Alemã para a Memória‘ (Deutsche Memoryklinik), trabalhou em projetos de prevenção da doença de Alzheimer. Foi diretor de pesquisa em universidades e empresas farmacêuticas na Alemanha e nos Estados Unidos. Desde 2007, trabalha como cientista e médico independente, tendo como finalidade, explicar a etiologia de doenças civilizacionais. Com este objetivo, tem realizado palestras para o grande público e em universidades,  publicado livros, entre os quais “Die Alzheimer Lüge”.

Mestre em Neurociências, Joint master in Neuroscience – Strasbourg, Freiburg, Basel.