Quando se fala em educação, esta surge, em grande parte, ligada às escolas ou a partir da idade escolar, como, se até lá, o bebé ou a criança pouco pertencesse ao mundo. Acredito que a grande mudança está aqui: naquilo que enraizamos enquanto somos raiz. A educação começa no ventre e continua no berço. A infância é um momento crucial, onde se semeia o potencial humano, e nenhuma outra etapa da vida oferece uma oportunidade tão profunda para enraizar valores humanos.
Desde o início da vida, devemos enriquecê-la de amor, de afetos, de experiências e de cultura, pois são estes que nos ligam uns aos outros. Somos seres culturais por excelência e o nosso desenvolvimento intelectual e emocional é moldado pelo ambiente e pelos estímulos que desde cedo recebemos. O que aprendemos nasce da interação com os outros, desenvolvendo ou comprometendo competências socio-emocionais.
Nada no ser humano se desenvolve isoladamente – corpo, cérebro e emoções estão intrinsecamente interligados. Além disso, somos seres familiares e comunitários, bem como seres sociais. Embora muitas emoções sejam inatas, elas são “condicionadas e sintonizadas” nos primeiros anos de vida, em resposta às interações sociais e ao ambiente.
Os grandes paradigmas atuais estão num momento de alternância, com alterações abruptas e imprevisíveis. A velocidade dessas transformações exige um processo de reinvenção ou de repensamento da vida e da condição humana. Repensar a vida é repensar o mundo. E o mundo nasce bebé.
Vivemos tempos que precisam de compreensão, de tolerância. Contudo, como imaginamos uma sociedade compreensiva se não educarmos para compreender? Essa compreensão incorpora sempre um aspeto subjetivo porque é preciso sentir o outro. A compreensão não é apenas uma questão racional, é emocional e educacional. E a profundidade, ou superficialidade, de sentir está intrinsecamente ligada à forma como fomos sentidos, respeitados, cuidados e educados.
A vida não se inicia quando alcançamos determinada idade, nível de escolaridade ou condição financeira. As primeiras experiências e as seguranças emocionais são o alicerce sobre o qual construímos a nossa capacidade para sentir, compreender e estabelecer vínculos afetivos. A infância é o alicerce sobre o qual construímos e moldamos a nossa existência. Sem estas fundações fortes, compromete-se a sustentação para uma vida plena.
O início da vida nasce da inseparabilidade do outro – nascemos do cuidado e sem cuidado morremos. Nesta construção interativa, a criança participa ativamente no seu próprio desenvolvimento, afetando e sendo afetada pelo ambiente. A educação e os ambientes educativos, além de suprirem as necessidades básicas de higiene, alimentação e sono, devem garantir segurança afetiva, ambientes ricos e seguros, respeitando a singularidade de cada indivíduo e proporcionando uma educação holística e integral. É neste sentido que é necessário recuar na educação, não no sentido regulador, mas com sentido integrador e humanista.
Quanto maior o prédio – complexidade da vida – mais fortes e profundas terão de ser as fundações – base afetiva.