A semana europeia contra o cancro, que se assinala de 25 a 31 de maio, pretende sensibilizar para a prevenção e deteção precoce desta doença tão presente na nossa população. Em 2020, foram diagnosticados 19,3 milhões de novos casos em todo o mundo, com cerca de 10 milhões de mortes, de acordo com dados da GLOBOCAN.

O cancro mais frequente (11.7 %) é o da mama na mulher, seguido do pulmão (11.4%), colorectal ( 10 %), prostata (7,3%) e estômago (5.6%).

Contudo, aquele que tem maior mortalidade é o do pulmão com 18%, seguido do colorectal com 9.4%, fígado com 8.3%, estômago com 7.7% e mama com 6.9%.

As expectativas para o futuro são sombrias, prevendo-se o aumento da incidência para cerca de 28.4 milhões de novos casos para o ano de 2040, provavelmente devido ao aumento da sobrevivência e ao envelhecimento da população, bem como a alterações na prevalência e distribuição dos principais fatores de risco para cancro, muitos associados ao desenvolvimento socioeconómico.

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Apesar de tudo, não significa que a mortalidade venha a aumentar, face à evolução, no diagnóstico precoce destas lesões e na maior eficácia dos tratamentos. É urgente adotar e lançar medidas de prevenção. A Organização Mundial da Saúde promove e incentiva a sensibilização da população, defendendo maior literacia, com divulgação de informação sobre os cuidados de saúde e de prevenção da doença, promovendo uma maior partilha de boas práticas clínicas.

A prevenção é a grande arma para modificarmos este cenário. “Mais vale prevenir do que remediar” é um provérbio popular, perfeitamente adequado ao cancro. A promoção de estilos de vida saudável, incluindo atividade física, cuidados com a alimentação, reduzindo a ingestão de gorduras, de carnes vermelhas e de álcool, não ter excesso de peso e não fumar, deve ser difundida em todas as idades e, em especial nos jovens, para que estes hábitos tenham reflexo ao longo da vida.

Cerca de um terço dos cancros podem ser prevenidos por estes meios. Alguns são causados por agentes infecciosos, como é o caso do carcinoma hepatocelular, o mais comum no fígado, em consequência de infecções crónicas com o vírus da hepatite B. Da mesma maneira, o vírus do papiloma humano (HPV) é responsável por um elevado número de infecções, algumas das quais podem evoluir para diversos tipos de cancro, sendo o mais comum o cancro do colo do útero. Para ambos os casos, há vacinas, estando integradas no Programa Nacional de Vacinação (PNV): a da hepatite B para recém-nascidos e a do HPV para raparigas e rapazes a partir dos 10 anos.

A detecção precoce do cancro contribui para taxas de sobrevivência de longo prazo mais elevadas e melhor qualidade de vida, com maior eficácia nos tratamentos instituídos.

Muito têm contribuído para este diagnóstico precoce os rastreios da mama, do colo do útero, do colorrectal e da próstata. É já possível a realização do diagnóstico precoce do cancro do pulmão, através da realização de TAC de baixa dose de radiação. A informação destes programas deve ser divulgada e promovida junto da população, para que sejam motivados e encorajados a fazê-los.

A investigação clínica e a inovação tecnológica têm sido relevantes nos últimos anos, com importância considerada para controlar a doença quando esta já está diagnosticada, sendo estas as novidades que gostava de transmitir.

Os métodos de diagnóstico imagiológico são fortemente mais minuciosos com tecnologia de última geração, com maior eficácia na detecção das doenças, e com evolução para tratamento de grande precisão a lesões localizadas, a chamada radiologia de intervenção.

A cirurgia é cada vez menos mutilante, e a cirurgia robótica é também cada vez mais utilizada no tratamento de doenças oncológicas. As características moleculares dos tumores têm sido fruto de grande investigação, dando a conhecer modificações celulares e comportamentais, permitindo a realização de tratamentos sistémicos mais dirigidos e mais eficazes.

O melhor conhecimento dos mecanismos imunológicos através dos quais o organismo se defende das células tumorais, permite-nos aplicá-lo com medicamentos que são dirigidos à sua estimulação, deste modo aumentando a probabilidade de o organismo se defender e controlar a doença. É a imunoterapia presentemente já utilizada no tratamento do cancro do pulmão, da cabeça e pescoço, do melanoma e de alguns tumores urológicos.

É importante deixar uma mensagem de esperança: o diagnóstico e o tratamento das doenças oncológicas registaram uma evolução muito significativa nos últimos anos e a inovação nesta área é constante para encontrar novos caminhos. Um diagnóstico precoce e um tratamento personalizado por uma equipa diferenciada pode, de facto, fazer a diferença.