Que grande desilusão, sr. Primeiro Ministro!
Eu, que desde o 25 de Abril sou votante do PS. Eu, que quando soube da maioria absoluta fiquei com uma satisfação enorme e pensei: agora sim, agora vão poder ser feitas as reformas necessárias nas estruturas do nosso país para a melhoria de vida de todos os cidadãos, na justiça, no ensino, no ascenso do nível de vida de um povo, cuja miséria se arrasta há tanto tempo (como é possível que grande parte dos que trabalham vivam miseravelmente, muitos até na miséria real) e, sobretudo, como é possível que se deixe chegar o SNS a uma rotura iminente, podendo de um momento para outro ser extinto? Que grande desilusão, sr. Primeiro Ministro! Tenho 84 anos de idade e há muito que via no SNS uma salvação segura, podendo a ele recorrer sem medo e sem qualquer receio dos fantasmas que nos assolaram no passado.
Agora sou assolado por um, quiçá maior, medo de ter de deslocar-me a uma urgência hospitalar e ter de ficar horas e horas, até dias, numa maca, sofrendo na pele os efeitos maléficos que uma espera dessas poderá acarretar, maior que a própria doença, sempre receando de, com a pressa exigida pela situação, ser menos bem atendido, preferindo, com risco de vida, ignorar um serviço ao qual, ao longo da vida, sempre recorri com resultados muito satisfatórios. Admiro e louvo os médicos, enfermeiros, técnicos e restante pessoal que se dedica a trabalhar nesse sector, considerando-os verdadeiros heróis.
Como é possível que V. Exa. não tenha tido a coragem e a visão suficientes para, no excepcional contexto de uma maioria absoluta, coisa rara, proceder sem medos nem cautelas às reformas exigíveis para o bem de todos? É certo que algo fez, pudera!… Mas atuou como se estivesse governando sem maioria absoluta. Eu, ignorante e simples mortal, cairia de vergonha. E V. Exa. ? Não cai? Não. Continua a passear-se por aí, como se o que atrás referi fosse letra morta ou coisa de loucos. A minha vergonha seria tal que procuraria enfiar-me pelo buraco de um formigueiro para que, dessa forma, ninguém me enxergasse.
Porém, as contas estão certas e os cofres cheios! Para quê? Para fazermos boa figura perante os nossos “chefes europeus”? Para sermos vistos como bons alunos? Um país que, em tão pouco tempo, conseguiu levantar-se de uma situação de pré-bancarrota, não necessita de professores imberbes. Sim, digo imberbes porque nós, do alto da nossa vetusta idade, é que deveríamos exercer como seus professores e não o contrário. Repito, provámo-lo recentemente. Somos um povo que, quando toca a reunir e arregaça as mangas para trabalhar com um objetivo coerente, não há quem lhe ganhe. Daí um dos principais motivos porque me sinto orgulhoso da nacionalidade que tenho.
Com a minha opinião, estou certo, estará grande parte do povo que viveu e vive do seu laborioso trabalho, mal remunerado, que sempre sofreu as agruras do provir, desconhecendo o que o amanhã lhe trará, tanto para si, como para os familiares que dependem do seu vencimento. Mas as contas estão certas e os cofres cheios!
Todavia, do que nos serve, sobretudo, os cofres cheios? Para inglês ver? Ou seja, para que os outros nos admirem? Não seria, incomparavelmente melhor, o governo ser admirado pelo próprio povo? Faz-me lembrar a história do avarento que tinha o saco cheio de ouro, mas que morreu de fome. De que lhe serviu ter o saco cheio de ouro? Do que nos serve ter os cofres cheios se a população mingua à “fome”?
Tudo isto se passa com um governo que tenta, inutilmente, passar pelos pingos da chuva sem se molhar. Que grande desilusão!
Mas as contas estão certas e os cofres cheios!..