Países há muitos, Portugal só há um. E maldita a sua sina que depende dos nómadas galopantes. É que eles estão com tanta pressa para chegar à base da montanha e preparar a subida que mais não deixam do que um rasto de poeira.

A montanha gigantesca que querem subir está coberta de princípios morais, sociais, éticos e económicos. Cheia de verdades inquestionáveis e soluções inteligentes e douradoras. O grande objectivo é subir o mais depressa possível, espetar uma bandeira e gritar vitória num estrondo tão grande que ensurdeça e desequilibre os que lá tentam chegar depois.

Só que esta montanha é imaginária para a maioria das pessoas. E os poucos que a veem nem sequer estão assim tão interessados no cume porque sabem que há coisas muito mais importantes para se fazer lá em baixo.

Há estradas para reparar, plantas para regar e uma comunidade para cuidar.

A classe política está tão adormecida e obcecada com o topo da montanha que nem percebe, ou não lhe interessa, que poucos a vejam. O equipamento de escalada pago com dinheiro imaginário, que depois será cobrado e precisará de imaginação, ou austeridade, para ser saudado, é uma boa demonstração do completo desprezo.

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A apatia é realmente gritante. Ou será apenas um reflexo do desdém generalizado por quem interessa, acompanhado de uma sede insaciável de ser o primeiro a chegar com olhos postos no prémio e nada mais?

Obcecados com a vista desafogada, os que sobem desenfreadamente mais não deixam do que um rasto de vazio. E enquanto celebram a chegada ao topo, mais preocupados em deselegantemente esfregar o feito na cara do adversário, ignoram o resto da paisagem num autêntico gesto de deboche para com todos.

Arrisco a dizer que vivemos tempos em que não são as pessoas que não querem saber da classe política, é a classe política que não quer saber das pessoas.

A montanha não pariu rato nenhum. Porque ratos existem, a montanha só para alguns.