A Arquitetura é, quase sempre, floreada por uma imagem poética, em que os seus profissionais refletem o símbolo de grandes inventores. Um ofício sedutor e que, certamente influencia o quotidiano de qualquer cultura. Ou assim deveria ser.

É que, se por um lado, a Arquitetura é entendida como fundamental para um bom ambiente construído, por outro lado, o arquiteto é entendido como um profissional perfeitamente dispensável e que produz um serviço caro, sob uma competição cada vez maior, num país onde se formam cada vez mais profissionais, sem resultar numa qualidade significativa do que é produzido. É uma atividade, muitas vezes, carregada de frustração e insegurança.

Ouvi o presidente da Ordem dos Arquitetos referir que a Arquitetura tem sido cada vez menos valorizada, os honorários de um arquiteto que trabalhe por conta de outrem não vão muito além do que é um ordenado mínimo. Depois há os “grandes” Arquitetos, poucos, mas sempre os mesmos, aqueles que são empregadores, que cobram desmesuradamente para que o seu nome apareça junto à obra, enquanto aqueles que a trabalham recebem o mínimo.

O que falha? Vou enumerar cinco pontos (mas haverá mais):

  1. Mercado de trabalho. A falta de respeito pelo profissional recém-formado (ou não) e a desvalorização financeira, com remunerações abaixo do mínimo aceitável é tão comum, que se pode afirmar que este cenário é normalizado pela classe, aceitando-o para poderem trabalhar;
  2. A profissão que é associada a glamour, luxo, tendência e riqueza, não só pelas pessoas, mas também pelos próprios Arquitetos. Ouvi também um arquiteto de renome, contar como lhe foi adjudicada uma obra de uns bons milhares de euros e que lhe foram pagos pelo erário público. Esta imagem da profissão conduz a um lugar supérfluo e completamente descartável para muitos (a maioria).
  3. A falta de reconhecimento. Há pessoas que podem até apreciar Arquitetura, mas reduzem todo o estudo do profissional a um lugar sem valor. Esquecem-se que há um investimento enorme de tempo (e dinheiro) com o intuito de acumular o conhecimento necessário para sugerir propostas para o espaço que brindem noções não meramente estéticas, mas também de conforto, que implicam diretamente na sensação espacial e no comportamento humano, fatores que vão muito além de apenas um gosto pessoal;
  4. A não regulação do ato de praticar Arquitetura. Não existe uma tabela geral de honorários de arquitetos. Até a tabela de instruções para o cálculo de honorários referentes aos projetos de obras públicas, deixou de existir;
  5. A escola. Outra vez a educação. Educar é fundamental e essencial para a construção de uma sociedade justa e igualitária. Por isso, a educação escolar desempenha um papel crucial na formação do caráter e na disseminação de conhecimentos e valores fundamentais para a vida em sociedade e perceber o que é a Arquitetura é essencial.

Todos nós queremos cidades resilientes, edifícios confortáveis, uma sociedade para todos e um mundo sustentável, como se apregoa desmesuradamente, mas sem uma Arquitetura justa, democrática e sustentável, dificilmente chegaremos a estes objetivos.

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