Existe a preconceção positiva de que o exercício físico e uma boa alimentação são a principal fonte de vitalidade, de bem estar e de prevenção da nossa saúde a longo prazo. É verdade, mas não é tudo.

Na sociedade acelerada em que vivemos, sentir a necessidade de descansar já se traduz em culpa por não se estar a “produzir”. Essa sensação de inutilidade é tudo o que queremos evitar. Enchemos o dia com trabalho, com sorte algum exercício físico e com ainda mais sorte uma alimentação equilibrada com as mais diversas cores no prato. O tempo para ir ao cinema, estar com os amigos, experimentar um novo hobby são tudo coisas para amanhã, não são prioridade, não são produtivas, mas sim caprichos de alguém que tem tempo livre a mais. Quem nunca pensou que em vez de ir tomar café com o amigo talvez seja mais produtivo adiantar trabalho e deixar essa vontade para o fim-de-semana, se der? Ao irem ao café com os amigos, ao cinema com a namorada, experimentar um novo hobby ou aprender uma nova língua estão a investir a longo prazo na saúde do vosso cérebro. E eu explico como:

Existe um conceito chamado Reserva Cognitiva. Vamos imaginar este conceito como uma espécie de sistema de backup que nos protege contra a perda de memória e outros problemas cognitivos associados ao envelhecimento. O cérebro adapta-se e torna-se mais forte, mesmo quando ocorrem alterações químicas no nosso sistema nervoso associadas à velhice ou mesmo a patologias neuro degenerativas como o Alzheimer.

Eis como funciona: Um cérebro estimulado ao longo da vida através de aprendizagens, experiências, vida social, passatempos e atividade física torna o seu sistema de backup mais resistente. Podemos supor que todas estas experiências tornam  o cérebro mais eficiente, e assim, promovem tanto um envelhecimento saudável como uma resposta mais eficaz a uma eventual patologia que esteja presente. No fundo, o cérebro aprende a conhecer novos “atalhos”, o que nos deixa funcionais durante mais tempo.

Posto isto, uma pessoa que tenha um maior nível de Reserva Cognitiva tende a manter-se estável do ponto de vista cognitivo à medida que vai envelhecendo. Isto não quer dizer que o cérebro não envelheça, mas sim que se adapta melhor às mudanças internas neurológicas que ocorrem. Pense nisto como uma conta poupança mental – quanto mais investimos em aprender e a estimular o nosso cérebro, maior reserva teremos para “usar” mais tarde na nossa vida.

No entanto, o que é popularmente divulgado relativamente à longevidade são as dietas e o exercício, talvez porque seja a face visível do envelhecimento. De facto, vivemos preocupados com uma aparência eternamente jovem, o nosso corpo é o que se vê, é o que apresentamos aos outros, do qual se tira conclusões sobre o estilo de vida e a personalidade da pessoa. E se o cérebro fosse visível? Iríamos investir tanto como investimos no corpo? Não quero com isto menosprezar a importância da nossa saúde física, até porque esta também é benéfica para a saúde do nosso cérebro. Quero apenas que não se sintam culpados da próxima vez que quiserem fazer algo que aos olhos da sociedade não seja visto como produtivo, porque para o vosso cérebro, é.

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