Saber do que somos feitos é o primeiro passo para definir melhores políticas de saúde pública. Conhecer o nosso capital genético permite-nos tomar decisões mais acertadas, ganhar tempo e assegurar mais e melhor saúde.

Regularmente lemos e ouvimos alertas sobre os riscos que corre o Serviço Nacional de Saúde. O alargamento da esperança média de vida da população, a escassez de profissionais de saúde e a pressão sobre a despesa pública são alguns dos fatores que nos trazem preocupações acerca da sustentabilidade do SNS.

Hoje, o país gasta milhões de euros em tratamentos, incluindo alguns que poderiam ser mais direcionados à situação concreta dos doentes. Alguns dos exemplos mais gritantes acontecem no tratamento do cancro, onde a ausência de modernas práticas de diagnóstico leva pessoas a serem submetidas a sessões de quimioterapia que não surtem o efeito desejado, o que acarreta expectáveis danos para a sua saúde física e mental.

Os avanços tecnológicos trouxeram-nos vantagens que, em alguns setores, continuam por explorar. Alegam-se questões de orçamento, mas, usando o velho ditado, “o barato sai caro” e a opção dos decisores por uma ilusória poupança imediata, traduz-se em gastos consideráveis a longo prazo, justamente por não se aproveitarem os benefícios de uma medicina mais direcionada.

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Caminho diferente escolheram vários dos nossos parceiros europeus, que perceberam as vantagens da sequenciação genética – a tecnologia utilizada, por exemplo, para identificar o genoma das várias variantes do vírus da COVID-19.

A sequenciação genética é um avanço extraordinário na identificação de várias patologias com um grau de fiabilidade difícil de encontrar noutros tipos de diagnóstico. Através desta tecnologia, é possível prever antecipadamente a possibilidade de ocorrência de uma doença com componente hereditária, permitindo preveni-la ou minimizar o seu impacto. Nas doenças raras, diagnostica com precisão as alterações responsáveis pela patologia, de forma a poder prevenir a sua ocorrência numa futura gravidez. Na oncologia, permite não só o diagnóstico precoce da doença, mas o prognóstico mais assertivo e com maior taxa de sucesso dos tratamentos.

Portugal tem o acesso à tecnologia e profissionais capazes para colocar a genética ao serviço da população. É, pois, urgente criar uma estratégia global para aproveitar esta mais-valia que tanto pode oferecer ao país. Fomos pioneiros a sequenciar o genoma do vírus Monkeypox. Fizemos o que nenhum outro país tinha feito, porque temos capacidade para o fazer. O IPO do Porto já está a usar a sequenciação genética como ferramenta de diagnóstico, no caminho da utilização da medicina de precisão. Os resultados têm sido muito positivos e num futuro próximo mais entidades públicas e privadas poderão vir a ter acesso a estas tecnologias revolucionárias.

As melhores e mais inovadoras práticas beneficiam os doentes a curto prazo e robustecem o SNS a médio e longo prazo. A tecnologia é um bem ao serviço de todos e todos dela devemos beneficiar, no presente e no futuro.