Começo por dizer que não é só aos 30 ou aos 40, mas em qualquer altura da vida em que sintamos que o nosso caminho deve mudar. Por vezes, somos domados pelo medo de desperdiçarmos todo um investimento numa área, pela incerteza do novo caminho ou simplesmente pela inércia que a rotina do dia-a-dia nos traz. Deixamos que estas razões moldem a nossa vida e aguentamos um dia após o outro, sempre a imaginar como poderia ter sido. Mas é esse investimento razão suficiente para não vivermos o resto dos nossos dias como queremos? É essa incerteza assim tão catastrófica? Vale ou não a pena parar um pouco para pensar no sentido que queremos dar à nossa vida?

Estou com isto a dizer que mudar de carreira é um caminho fácil? Não, de todo. Requer muita ponderação e resiliência, seja pelas razões listadas acima ou por todas as outras que entrem na equação. No meu caso, foi necessário enfrentar muitos julgamentos e algumas dificuldades financeiras. Se valeu a pena? Sim, muito.

E como encontrar esse novo caminho?

Comecei a ter as primeiras pistas durante um percurso que muitos conhecem: um estágio profissional desmotivante que incluía algumas funções que iam para lá das estipuladas para um nutricionista. Para além das consultas, era responsável por criar todas as imagens para as redes sociais da empresa. Não tinha experiência nenhuma em design e, como podem imaginar, os conteúdos criados por mim não eram os melhores (para dizer o mínimo). Contudo, para minha surpresa, comecei a aperceber-me que me sentia mais feliz e motivada nos momentos de criação dessas imagens do que nas consultas de nutrição. Claro que isto foi apenas um indício para aquilo que mais tarde viria a decidir em termos de carreira, mas a verdade é que estas pequenas pistas estão presentes no nosso dia-a-dia. Temos é de estar atentos a elas.

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A partir daqui, o interesse pelo design foi crescendo e, uns anos mais tarde (e com bastante receio à mistura), decidi ingressar num Curso Técnico Superior Profissional (TeSP) em Design Digital. Os TeSP podem ser óptimos aliados para quem quer seguir um novo caminho profissional. Embora não confiram grau académico, são cursos mais técnicos, mais rápidos e mais baratos que as Licenciaturas e Mestrados Integrados. Além disso, incluem um estágio que nos coloca logo em contacto com o mercado de trabalho.

Foi neste estágio que tive o primeiro contacto mais aprofundado com o Design de Produto. Devo dizer que foram tempos desafiantes e de grande adaptação. Tudo era novidade: a cultura empresarial (que era magnífica mas à qual não estava habituada), os processos de trabalho, as terminologias (lembro-me de ir ao Google pesquisar a diferença entre Frontend e Backend). Tive de trabalhar muito e aprender rápido. No entanto, foi das experiências de trabalho mais enriquecedoras que tive. Em poucos meses, descobri todo um mundo que não sabia que existia e encontrei um trabalho que traz simultaneamente paz e entusiasmo ao meu dia-a-dia.

A área tecnológica é um mundo de oportunidades, não só por ser super interessante e inovadora, mas também porque, no que diz respeito ao recrutamento, na maior parte das empresas, o ênfase não é dado à área de formação mas sim às competências técnicas e pessoais (é comum encontrar pessoas formadas noutras áreas a trabalhar neste sector).

A mudança pode ser assustadora, mas na verdade é no trabalho que passamos grande parte dos nossos dias. Não faz sentido que ocupemos esses preciosos momentos de vida a desejar que tudo fosse diferente.

Joana Gomes, Designer de Produto que adora resolver problemas e que acredita em criar produtos que não só funcionam mas que proporcionam experiências excepcionais. Actualmente, focada em soluções para Web3 na Subvisual.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.