O sistema de votação vigente, falha em reconhecer a complexidade e diversidade das visões dos eleitores. Sabendo que o acto de votar constitui a coluna vertebral da democracia, aceitar o status quo como “suficiente” é uma postura a que não nos podemos dar ao luxo de manter. Por isso é tempo de questionar o atual sistema de votação e olhar para O Método de Votação Gradativo, como uma evolução promissora. Encarar este método como um avanço é reconhecer a nossa responsabilidade de encontrar novas soluções em direção a uma democracia mais participativa.

Um sistema democrático perfeito é aquele que consegue reflectir nas urnas a verdadeira pluralidade de pensamentos e sentimentos dos eleitores, muito além da escolha única e limitada que nos é frequentemente imposta. A atual estrutura do nosso sistema eleitoral, com a sua rigidez quase espartana, insiste em reduzir a diversidade do espectro das convicções políticas a um simples xis num quadrado. Um sistema exclusivista, que podemos equiparar à lógica do adepto de futebol, onde se parte do princípio que ao aderir às propostas de um partido, implica rejeitar todas as outras, de todos os outros partidos. Sabemos que a realidade é mais complexa. As pessoas não são monolíticas nas suas preferências políticas, pelo contrário, são capazes de abrigar um leque de simpatias e considerações em simultâneo. Além disso, a atual metodologia de um voto único por eleitor, está a canalizar o discurso político para os extremos, uma dinâmica cada vez mais evidente, mesmo nas democracias mais tradicionais. Este modelo simplista parece estar, ainda que inadvertidamente, a fomentar a polarização de “Esquerda vs Direita”, ao invés de promover um debate político equilibrado e uma representação mais fiel do espectro de opiniões existentes na sociedade.

É, por isso, urgente encontrar um novo modelo de votação capaz de reflectir a complexidade das preferências políticas dos eleitores. O Método de Votação Gradativo, que propomos, pode ser a solução pois permite a distribuição flexível dos votos, oferecendo aos eleitores a possibilidade de expressarem o seu apoio a mais de uma força política. Assim, em vez de cingir a preferência dos eleitores a uma única opção, o grande mérito deste método é oferecer a possibilidade de se poder votar em mais do que um partido. E, para isso, cada eleitor tem, não 1 mas 10 votos e, consoante a escolha, pode atribuir os seus votos integralmente a um partido, ou dividi-los entre dois ou três, refletindo uma hierarquia de preferências. Esta abordagem gradativa e inclusiva garante que todos os 10 votos tenham impacto: 10 votos para um partido único, 7 e 3 votos para as duas primeiras escolhas, ou uma distribuição de 6, 3, e 1 voto para os três partidos escolhidos.

Este sistema traz vantagens significativas, desde logo combatendo de forma mais eficaz a abstenção ao motivar os eleitores a participar com a certeza de que as suas preferências são integralmente representadas no acto da votação. Por outro lado, ao diversificar as opções de voto, reduz-se a pressão do voto útil, permitindo aos eleitores escolherem de acordo com as suas verdadeiras convicções, sem o receio de desperdiçar o seu voto em partidos com menor expressão eleitoral ou, dando o seu apoio a novas propostas políticas que reflitam melhor as suas visões. O Método de Votação Gradativo vem contribuir para uma democracia mais participativa e com um maior sentido de compromisso, onde o voto se torna uma expressão mais rica e detalhada da vontade do eleitor.

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Ao promover uma distribuição de votos em formato de matriz, o Método de Votação Gradativo estimula uma maior reflexão sobre as opções políticas disponíveis, encorajando os eleitores a considerar uma gama mais ampla de possibilidades e a ponderar as suas escolhas de forma mais cuidadosa. Um factor que pode levar a uma maior responsabilização dos partidos, e a uma total disrupção na forma como as coligações são formadas, transferindo essa opção para o eleitorado ao invés de ser uma decisão exclusiva dos partidos como até agora sucede. Um método que promove o entendimento entre as diferentes forças políticas e que, simultaneamente, combate radicalismos e iniciativas de carácter extremista que minam o sistema democrático.

Ainda que, para mentalidades mais conservadoras o Método de Votação Gradativo possa parecer demasiado futurista, à semelhança do que sucedeu na generalidade das actividades que constituem as sociedades modernas, também a política será, inevitavelmente, impactada pelo processo digital. Urge, por isso, reflectir nas vantagens de uma solução capaz de captar de forma mais eficiente a vontade da população e que contribua para o reforço da democracia iniciando, desde já, um processo de aferição das suas valências por parte da academia e especialistas do sector.

Assim, mais do que uma nova solução técnica, o Método de Votação Gradativo é um passo em direção a uma democracia mais madura, mais representativa e mais participativa. Encarando a complexidade das preferências políticas com a seriedade e a sofisticação que merecem, propõe uma forma de votação que está em harmonia com o espírito dos nossos tempos, tornando cada voto um reflexo mais fiel da diversidade e riqueza das nossas sociedades. E isto é, afinal, a essência da democracia.

Análise da aplicação do Método de Votação Gradativo

Para avaliar o interesse da população numa mudança do sistema eleitoral para o Método de Votação Gradativo, realizei um estudo de 22 de Janeiro a 10 de Fevereiro de 2024, com 1100 respostas, alinhadas aos censos de 2021 por idade, género e região. Os resultados mostraram uma forte preferência pelo novo método, com 72% dos participantes apoiando múltiplas opções partidárias e mais da metade selecionando três partidos. A maior aceitação foi observada entre os jovens de 18-24 anos, com 83% de aprovação, enquanto 63% dos mais velhos (65+) também apoiaram a mudança, sugerindo uma tendência para a inovação eleitoral em todas as idades.

O estudo destacou ainda a capacidade do novo método em revelar preferências por possíveis coligações, refletindo o espectro político atual e apontando para um sistema mais inclusivo e representativo.