Numa sociedade moderna marcada pela era digital, a saúde mental e o bem-estar pessoal estão incessantemente vinculados à qualidade dos relacionamentos interpessoais que o ser humano estabelece. Não obstante, na convivência social quotidiana mais jovem, nomeadamente no contexto escolar, o equilíbrio entre estas duas esferas nem sempre se verifica.

Efetivamente, há já alguns anos que o bullying tem assumido uma posição significativa e relevante nas escolas, expandindo-se às plataformas digitais e tornando-se naquilo que hoje se designa por cyberbullying.

Segundo o estudo Cyberbullying em Portugal durante a pandemia da COVID-19, realizado em setembro de 2020 por uma equipa do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, mais de 60 % dos jovens portugueses afirmaram terem sido vítimas de cyberbullying durante o confinamento provocado pela pandemia, período em que as aulas decorreram virtualmente.

Raquel António, investigadora do ISCTE e responsável pelo estudo, menciona que “milhões de crianças e jovens ficaram afetadas pelo fecho de escolas passando a ter aulas e a socializar mais online, deixando-as mais vulneráveis e expostas a serem vítimas de cyberbullying”.

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Enquanto o bullying é amplamente praticado no ambiente escolar, o cyberbullying ultrapassa todas as fronteiras físicas existentes, tirando à vítima qualquer possibilidade de escapar aos ataques, tratando-se, por isso, de uma realidade inevitável.

Com efeito, embora o bullying presencial e virtual ocorram lado a lado com bastante frequência, o cyberbullying acaba por deixar um rasto — uma espécie de pegada digital que, de certa forma, se pode tornar útil e fornecer indícios para ajudar a dar fim ao abuso decorrido.

No fundo, para acabar com o cyberbullying não é necessário apenas denunciar os agressores, há que reconhecer primordialmente que todos merecem respeito.

Posto isto, neste período de transição e formação que direciona os jovens à vida adulta, é fundamental que as escolas e os profissionais estejam preparados para receber estes alunos e as suas fragilidades num ambiente seguro.