Educar é um ato de Amor” (Paulo Freire). O Amor de uma Mãe, o Amor de um Pai, o Amor de uma Avó ou de um Avô, o Amor de um Filho ou Neto, o Amor às suas raízes! O Amor aos seus alunos e à profissão! O Amor a um Professor! Amor à Escola que representamos!

Esse Amor começa em cada Família, o berço dos valores! É por aqui que começa qualquer projeto educativo. É fundamental a Escola resgatar esse Amor de cada Família e criar condições para que ele se manifeste, inscrevendo-o no processo educativo. Quando um Aluno, Pai, Mãe… o sente… inicia-se a grande transformação humana. Todo o potencial do indivíduo é acionado em prol do seu Ser e em prol de um Coletivo!

Aqui há uns anos atrás, enquanto diretor de uma turma com um percurso curricular alternativo, tendo o râguebi como resgate dos mais nobres valores da humanidade, o capitão da equipa, aluno cuja vida não tinha sido bafejada pela sorte, escrevia: “Estar nesta turma, aprendi a respeitar a minha Mãe. Neste momento Ela está distante. Cada vez que pisco os olhos, penso muito nela… Há uma força que Ela me dá todos os dias para eu poder vir para a Escola e saber amar”. Hoje é um Homem feito e aquele amigo que em cada abraço guardo memórias eternas (aluno abrangido pelo projeto “Somos TVR”).

Penso que podemos dividir as emoções em dois grandes grupos. Emoções ligadas ao Amor e emoções ligadas ao Medo. A vida encarregar-se-á de nos trazer emoções ligadas ao medo, não havendo necessidade de nós, seres humanos, criarmos condições para que essas emoções apareçam. O Amor, por outro lado, tem de ser cultivado. Cada vez que superamos um dos nossos medos, acrescentamos pontos à nossa felicidade, sendo estas conquistas fundamentais para a nossa identidade. Só os conseguimos vencer, esses medos, se do outro lado da balança tivermos o Amor!

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Continuando no campo das emoções… Existem aprendizagens eternas? Sabemos que algumas perduram ao longo de uma vida e que outras desaparecem rapidamente. Em cada projeto, o aluno deve sentir emoção! Quando associamos um determinado momento da nossa vida a uma emoção, geram-se memórias e aprendizagens duradoras. É assim com o nascimento de um filho! É assim com o partir de um ente querido! Os momentos associados a sentimentos fundamentados no AMOR… Os momentos associados a sentimentos fundamentados no MEDO… Criando projetos do interesse dos alunos, dando asas à concretização de sonhos, estamos a criar condições para que surjam emoções!

É fundamental que a nossa Vida e a Escola, sejam orientadas por valores. Na herança de valores, que os nossos antepassados muito lutaram para deixar como testemunho, está a essência de cada caminhada de vida. Temos o dever de deixar essa herança para os nossos filhos e netos. “Mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes” (Vítor Hugo). Os valores alinhavam-nos o caminho. Conferem-nos a autodisciplina de que precisamos para conquistar os nossos sonhos. Citando Augusto Curry: “Sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas e disciplina sem sonhos, produzem pessoas autómatas que só sabem obedecer a ordens”.

Cada aluno é um ser irrepetível na História da Humanidade. Não existem dois perfis iguais. Não existem duas inteligências iguais. Todos os alunos são inteligentes, cada um à sua maneira! Testes estanderizados para rotular o indivíduo com base no seu Q.I. foi das maiores formas de discriminação que o Ser Humano criou! Howard Gardner ensinou-nos que “Cada Ser Humano tem uma combinação única de inteligências. Esse é o desafio educativo fundamental.” Enquanto não respeitarmos as inteligências de cada aluno… dificilmente se poderá falar de educação inclusiva! Os meus mais de 30 anos ao serviço da Educação ensinaram-me que, por mais que queiramos decifrar qual a combinação de inteligências de um aluno, nunca o conseguiremos na íntegra. Contudo, se percebermos parte dessa combinação mágica, tudo é mais fácil. No início de cada projeto turma, os meus alunos fazem esse despiste (estilos de aprendizagem, formas de expressão e de trabalho preferenciais) que nos ajuda imenso. Não me faz sentido privilegiar a avaliação com base em testes escritos a um aluno que tem na sua combinação, um estilo de aprendizagem do tipo expressivo oral, ou fazer apenas chamadas orais a um aluno que consegue mostrar o que sabe através da sua inteligência do tipo expressivo-escrito! E um aluno do tipo cinestésico… que brilha na mecânica, na carpintaria ou em outro qualquer ofício? É justo avaliar o que ele sabe fazer em duas ou três provas escritas nacionais? Se nos pedissem para repetirmos os nossos exames nacionais de 12º Ano de Acesso ao Ensino Superior sem estudar, as coisas, muito provavelmente, não nos correriam muito bem! Então, pergunto… O que andámos a fazer na Escola? – claro que aprendemos imenso com os nossos Mestres, mas estes exames pouco traduzem o que foi a nossa Escola. Porque não no final de um Ciclo do Ensino Básico dar liberdade aos alunos e pedir-lhes que mostrem o melhor de si e o que aprenderam, no formato que entendam melhor (escrito, oral, expressão dramática, expressão plástica, expressão física, construção, etc, …), respeitando as inteligências e os talentos de cada um? Onde está a ser avaliado todo o trabalho de cooperação e trabalho colaborativo na resolução de problemas inerentes a cada projeto? De repente, num exame nacional, tudo isso é esquecido e o aluno está entregue a si e à individualidade, onde vê, injustamente, todo o seu processo educativo ser avaliado. Uma prova escrita nacional, avalia tudo menos o processo. Avalia apenas um fim que pouco traduz o sentir e as aprendizagens reais de cada jovem. De nada serve pedir a um golfinho para trepar um pinheiro, ou a uma coruja para ir beijar o fundo do Mar! Se o pedirmos não estamos a ser honestos e as coisas não correrão bem!

Quem aprende a andar de bicicleta apenas por manual de instruções, dificilmente conseguirá um dia andar de bicicleta! A teoria é fundamental, mas a verdadeira aprendizagem começa quando as rodas começam a rolar. Acontece quando sentimos a adrenalina das primeiras pedaladas e das primeiras quedas. É uma aprendizagem eterna! Aprendemos também que, tal como dizia Einstein: “A Vida é como andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio é preciso estar em constante movimento”. O nosso Sistema Educativo continua centrado no processo de ensino aprendizagem com base em manuais de instrução extensos, sem tempo para a prática! Pedem que os nossos alunos aprendam a andar de bicicleta. Muitos de nós professores até nos preocupámos, ao longo do processo, de entregar a cada aluno a sua bicicleta. No final, voltamos a um exame escrito nacional (igual para todos), onde cada aluno vai demonstrar se é competente ou não, mesmo que nunca se tenha sentado numa bicicleta! Provavelmente, os melhores resultados, serão dos alunos que nunca a experimentaram e têm um estilo de aprendizagem que beneficia com o estudo pelo manual e têm uma excelente memorização. Será que sabe andar de bicicleta? Nesta lógica, quando tiramos carta de condução, para que serve o exame de condução? Porque não ficamos apenas pelo exame de código?

Na equação temos de incluir o BRINCAR físico e cinestésico, que os tempos modernos e do mundo virtual retiram a cada criança. Sentir as coisas, sentir a adrenalina, esfolar os joelhos… tomar duche no final do dia para lavar a pele da lama de mais uma tarde de brincadeira na Mãe Natureza. Estamos a viver a febre do virtual e a esquecer o Mundo real! Assusta-me o termo “transição digital”, como se o mundo, de repente, rompesse ou desprezasse os 5 sentidos na sua plenitude. Em tom de brincadeira séria, resumirmos o tato aos dedos (“digital”) é, no mínimo, redutor da condição e da evolução da humanidade. Nos últimos 20 anos, no Ensino Básico, paulatinamente, temos assistido ao desinvestimento numa Educação com respeito pela essência de qualquer criança. Fala-se muito em competências (“saber em ação”), mas nunca houve tanta inatividade nos planos curriculares… Vejamos alguns exemplos… No 1º Ciclo o desprezo por áreas curriculares como a Música, Dramática, Plástica e Educação Física passaram, em grande medida, a ser consideradas atividades de enriquecimento curricular, quando a sua importância para a aprendizagem da Matemática e da Língua Portuguesa é tão ou mais importante do que estas áreas disciplinares. No 2º Ciclo do ensino básico, separam duas disciplinas indissociáveis (aliás, todo o currículo assim o deveria ser) e eliminam o par pedagógico de professores de uma das poucas áreas práticas, onde o aluno tem tempo e espaço para o cinestésico. Falo de Educação Visual e Tecnológica. No 3º Ciclo, esquecemos que estamos a formar futuros adultos. Provavelmente quem pensa a Educação, também pensou que um aluno com 12, 13 ou 14 anos de idade já é adulto. Estas disciplinas, bem como as disciplinas de Educação Musical e as artes, passaram a ser residuais, comparadas com as disciplinas ditas teóricas (continuam a ser débito de informação, quando hoje a informação está à distância de um “click”).

Nos últimos anos, com a febre da transição digital e do investimento no mundo virtual, tudo se agravou. Um exemplo disso são os resultados das provas e exames nacionais e internacionais. Embora, desprezem uma grande percentagem das inteligências múltiplas das nossas crianças e jovens, são indicadores do nosso fracasso em termos de estratégia nacional para a Educação. Já refletiram um pouco… Porque será que os nossos alunos apresentam desempenho positivo nas provas de Educação Física? Na verdade é aquela disciplina dita prática, onde o aluno ainda tem hipótese e tempo semanal para aliar as suas capacidades motoras/cinestésicas (inerentes aos ser criança) à sua aprendizagem. Depois, ficamos todos escandalizados quando numa prova de História e Geografia de Portugal, apenas 0,7% dos alunos conseguem identificar onde fica a Península Ibérica quando, nos dias de hoje, são poucos os pais que têm no automóvel um mapa físico (de papel), não faltando o dispositivo GPS, com uma voz sexy, que lhes indica o caminho.

O Nosso Sistema Educativo nunca teve tanto potencial de qualidade, como nos dias de hoje! Desde a formação de professores (atenção que aqui estamos a começar a regredir porque o número de professores profissionalizados está a diminuir drasticamente), até aos equipamentos e ao potencial de informação que cada aluno tem disponível… Nunca tivemos tanto! Em 2017, quando saiu o documento orientador “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória” fiquei com alguma esperança que a mudança se iniciasse, pois dele constam os princípios e valores herdados dos nossos avós. Contudo, o próprio nome do documento, nunca me agradou. Para além disso, associado a provas de aferição e exames nacionais iguais para todos como avaliação externa do Sistema, sempre me “cheirou” a linha de montagem. Vejamos, por exemplo, uma fábrica de fazer parafusos… O perfil de saída de cada parafuso é de enroscar para a direita e desenroscar para a esquerda! E lá no fim da linha de montagem, há uns senhores que mandam para o lixo aqueles que não cumprem com este perfil, colocando em causa todos aqueles que não nasceram para ser parafuso, cortando as asas e os sonhos dos que quiseram e treinaram o voar.

Quando nascemos, é-nos atribuído um pedacinho de mundo para transformar. “Cabe a cada um de nós transformar os bocados de mundo que estão à nossa guarda” (Idália Sá Chaves). Cada pessoa ao transformar o seu pedacinho, está a moldar a sua peça do puzzle para se encaixar no próximo e descobrir a sua posição neste “minúsculo” Universo em que vivemos. Está a ser inspiração para todos os que fazem parte do seu puzzle social. Sermos donos de um “pedacinho de mundo”, já nos torna líderes! O valor da Liberdade para transformar esse “pedacinho de mundo” e para sermos líderes de nós próprios, deve ser entregue aos nossos filhos e alunos. Mandela, nos seus quase trinta anos de cativeiro, inspirou-se no escritor Hernest Henley: “Sou Mestre do meu destino! Sou Capitão da minha alma”. Por mais correntes que surjam, é precioso que cada aluno sinta o líder que vive dentro de si.

Pedem-nos a nós, professores, para motivarmos os nossos alunos. Nunca houve ideia mais descabida! Podemos inspirar os nossos alunos e os nossos filhos, mas jamais os conseguiremos motivar. Motivação é um processo interior e sai de dentro para fora! Citando Rubem Alves, que tive a sorte de conhecer pessoalmente em vida… “A vida tem sua própria sabedoria. Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar o broto a sair da semente o destrói. Há coisas que têm de acontecer de dentro para fora”. O Sistema Educativo de hoje, mais do que nunca, não cria condições para que este Milagre da Vida, que faz parte de cada criança, aconteça. Com programas curriculares obsoletos, por vezes extensíssimos e desenquadrados do nível etário dos alunos a que se destinam, queremos tanto ajudar os nossos alunos com planos, adequações, adaptações e tantas coisas mais, regulamentadas por decreto, que não damos tempo para que a motivação surja, de dentro para fora! O que fazemos a uma semente quando a lançamos à terra? Apenas temos de a tapar com uma nesga de terra, e sendo inspiração, dedicando-lhe o tempo de que necessita, criar todas as condições para que aquela sementinha descubra o seu interruptor da motivação! Quando o aluno o descobre, passa a ser ele a nossa inspiração, que por sua vez também nos leva a descobrir o nosso interruptor da motivação.

Para tudo isto, é fundamental partilharmos o bem mais precioso que temos: TEMPO! Tempo é o mais valioso bem que podemos oferecer a um filho ou a um aluno, pois é o único que, nas nossas vidas, jamais teremos a hipótese de recuperar! É esta a nossa grande dádiva nesta nossa passagem de Vida… Oferecer do nosso tempo ao próximo… Na verdade, tudo o que recebemos em troca por cada segundo partilhado, com base no Amor, é sempre exponencialmente maior!