É já no próximo dia 21 de Março em Bruxelas que vai decorrer a Nuclear Energy Summit. Neste evento, vários líderes mundiais irão marcar a sua presença para discutirão o “papel da energia nuclear na resposta aos desafios globais para reduzir a utilização de combustíveis fósseis, aumentar a segurança energética e impulsionar o desenvolvimento económico”.

Em Lisboa, e no mesmo dia, a Associação Industrial Portuguesa (AIP) organiza a conferência “Nuclear – Uma opção para Portugal?”. A indústria europeia encontra-se esmagada entre a capacidade produtora da China e o Inflation Reduction Act dos USA. Grandes empresas e milhares de empregos migram para as duas super-potências, onde energia e matérias primas são mais baratas. A Europa atravessa uma fase de desindustrialização devido a políticas energéticas mais ideológicas do que científicas. A Alemanha investiu mais de 500 mil milhões de euros em solar e eólico nos últimos 20 anos. Estimativas recentes apontam para que o investimento em falta seja significativamente maior. A Alemanha perde indústria e não avança nos seus objetivos climáticos, pois continua a expansão das suas minas de carvão. A sua transição energética está em risco mesmo após tanto investimento. É este o modelo que Portugal copia.

No texto final da COP28, a energia nuclear aparece incluída como uma opção de descarbonização, a par das energias renováveis.  Uma promessa de triplicar a capacidade nuclear até 2050 foi assinada por 22 países. O número pode parecer pequeno, mas os signatários representam 44% do PIB mundial. China e Rússia, outros 19% do PIB mundial, não assinaram esta promessa, mas são neste momento os principais construtores de energia nuclear mundiais (a Índia também não assinou, mas tem um plano nuclear interno ambicioso, outros 9% do PIB mundial). Aliás, a capacidade Chinesa de construção de reatores nucleares não tem rival, conseguindo finalizar 5 reatores desde o início de 2022. A mesma China é responsável pela quase totalidade da cadeia de abastecimento de solar fotovoltaico e é a recordista de investimento nesta indústria.

Na Europa deixámos a energia para a Rússia, a defesa para os EUA e a produção para a China. É necessária uma revitalização urgente. Não construímos solar nem eólico competitivo e urge voltar a aprender a construir nuclear como o fez França nos anos 70 ou o fazem atualmente os Emiratos Árabes Unidos. Estes construíram quatro reatores de 1400MW dentro do prazo e do orçamento, descarbonizando mais depressa do que Portugal ou Dinamarca com os seus projetos renováveis.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Eis então a Declaração de Antuérpia, talvez a maior declaração de intenções da indústria europeia deste século. Os 10 pontos da declaração poder-se-ão resumir a duas bases: a Europa deve voltar a ser competitiva e é fundamental assegurar uma produção de “eletrões e moléculas verdes”. O tecido industrial europeu apela aos próximos governos e organismos europeus que torne a Europa novamente soberana das suas cadeias de abastecimento e que aposte em energia de baixo de carbono, onde se inclui a energia nuclear.

A Europa começa assim a reagir. O Banco Europeu de Investimento apela a um investimento sem precedentes em novos projetos nucleares para que a Europa não fique novamente para trás. Há toda uma aliança nuclear europeia que almeja mais resiliência e autonomia energética. A União Europeia criou também uma aliança industrial europeia para o desenvolvimento de Reatores Modulares Pequenos (Small Modular Reactors), também para não perder terreno. O Parlamento Europeu votou favoravelmente o Net Zero Industry Act, onde a energia nuclear aparece como tecnologia estratégica para atingir os objetivos de descarbonização europeus. No lado da opinião pública, dois estudos recentes vêem a popularidade da energia nuclear em máximos históricos.

Urge repensar o que queremos da Europa e de Portugal. O que nos trouxe até aqui não funciona.