A realização de grandes eventos no Parque das Nações tem sido um fator crucial para a atratividade e competitividade da freguesia. A Expo 98’, um marco histórico que transformou Lisboa e deu origem a um dos bairros mais vibrantes da cidade, é um exemplo claro do impacto positivo que estes eventos podem ter. Está na origem e ADN da freguesia receber momentos importantes para a cidade, momentos que impulsionam a economia local, atraem turistas e incentivam investimentos em infraestrutura urbana.
Nos passados fins-de-semana de 15, 16, 22 e 23 de junho, a freguesia onde vivo e tenho prazer de ser autarca recebeu mais um desses eventos: o Rock in Rio (RiR). O festival realizou-se na zona do Parque Tejo, zona essa que, depois de anos de inutilização, tinha já recebido a Jornada Mundial da Juventude em 2023. Estes grandes acontecimentos internacionais na freguesia, à semelhança de outros como a Web Summit, são importantes pelos motivos inicialmente mencionados. No entanto trazem consigo alguns desafios para quem os recebe, nomeadamente a gestão dos inevitáveis impactos que o enorme fluxo de pessoas acarreta.
O Rock in Rio, em particular, pelas suas características específicas e por se tratar de um festival de música, trouxe consigo problemas para quem aqui vive e trabalha. Esses problemas não devem ser negados ou menosprezados pelas entidades públicas responsáveis pelo bem-estar dos cidadãos, mas antes ouvidos e resolvidos.
Além dos relatos de poluição sonora para lá do permitido por lei – colocando em causa o descanso dos residentes – houve também muitas queixas relativas ao estacionamento indevido por toda a Zona Norte da freguesia e ao trânsito congestionado verificado no primeiro fim-de-semana – dificultando com isso a acessibilidade o que causou atrasos na vida das pessoas. Houve igualmente prejuízos para os comerciantes locais abrangidos pelos impedimentos de circulação verificados durante o RiR, nomeadamente os estabelecimentos comerciais e de restauração na Via do Oriente, que viram praticamente todas as suas vendas e reservas ficarem suspensas.
É responsabilidade conjunta da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e da Junta de Freguesia do Parque das Nações (JFPN) zelar pelo bem-estar de quem reside, trabalha ou simplesmente visita a freguesia, devendo, por isso, preparar atempadamente o seu território para os impactos e prejuízos que os grandes eventos possam ter, maximizando a sua mitigação junto da população.
As entidades públicas devem ter, por isso, um plano de atuação sistémica que assegure que os futuros eventos sejam geridos de maneira a maximizar os benefícios e minimizar os prejuízos para a comunidade local. Este plano deve incluir a possibilidade das entidades promotoras dos eventos se comprometerem com retornos diretos para a zona onde atuam.
No protocolo estabelecido em 2014 entre a CML e a entidade privada Better World (empresa que gere e organiza o RiR) estavam, aliás, previstos uma série de compromissos a serem cumpridos pela Better World como “contrapartida à realização do Rock in Rio Lisboa” no Parque da Bela Vista. Alguns desses compromissos e obrigações diziam respeito à requalificação da zona envolvente, tais como a revitalização da Casa Grande, um edifício que estava em ruínas junto ao Parque da Bela Vista. Hoje em dia, depois de um investimento de cerca de 800 mil euros pela equipa do Rock in Rio, a nova “Casa de Pedra” é um ótimo espaço cultural que funciona todos os dias (mesmo nos anos em que não há festival), e que serve de motor e dinamização daquela zona. Desta forma, o protocolo assinado entre as partes teve – para além de todos os benefícios acima referidos que um evento destas dimensões pode trazer – um impacto positivo para a comunidade da freguesia de Marvila. Uma vez que foi já anunciado pela organização oficial do Rock in Rio que a próxima edição do festival se voltará a realizar no Parque Tejo em 2026, isto é, no Parque das Nações, seria importante que a CML incluísse, no protocolo que se estabelecerá novamente para 2026, uma cláusula com compromissos para que a entidade promotora possa impulsionar a qualidade dos espaços e infraestruturas da freguesia do Parque das Nações.
O plano de atuação deve criar este enquadramento geral para os eventos, com ações tão básicas como a distribuição de avisos antecipados nas caixas de correio dos residentes das áreas afetadas, informando-os sobre os limites à circulação e outras mudanças temporárias, para que se possam preparar adequadamente. Devem também a JFPN e a CML colaborar em conjunto com a organização do evento e comerciantes locais para que os seus prejuízos face às restrições de circulação possam ser atenuados, através de iniciativas que permitam aos comerciantes locais beneficiarem diretamente do aumento do fluxo de pessoas durante os eventos.
O Parque das Nações tem o potencial de continuar a ser o epicentro de eventos marcantes para a cidade de Lisboa, mas isso só será possível se conseguirmos equilibrar as oportunidades com a responsabilidade para com residentes e trabalhadores. Precisamos de ter mais eventos, com menos impactos negativos.