Quando em 2015 saí do Parlamento ao fim de seis anos de mandato, obriguei-me a uma sabática que acabou por demorar muito mais tempo que pensara. Se numa primeira fase a vontade era reatar o que tinha ficado estacionado na vida familiar e profissional, rapidamente percebi que me estava a habituar melhor que o esperado à vida depois da política. Tinha passado então metade da minha vida adulta a dedicar-me diária e exclusivamente à política, no Parlamento, no CDS e na Juventude Popular, no Porto — e tinha adorado todos os momentos, não teria hesitado em continuar. Mas ao final de algum tempo do outro lado o CDS e eu fomo-nos afastando. E se hoje percebo que não fui o único que se viu afastando, vejo com alguma pena que o CDS avance para a questão da liderança sem se fazer a catarse do resultado eleitoral e a análise possível às suas causas. Está o CDS condenado a repetir os erros deste período? Penso que não, mas confesso que nem tenho a certeza de quais foram esses erros.

Não fui, é certo, em 2015 um grande fã da escolha do CDS para a liderança. Ainda assim, Assunção Cristas não era inexperiente, apesar de ter comparativamente poucos anos de militância, e juntava a isso manifesta inteligência. O seu percurso foi sempre acompanhado com um grande apoio dentro do partido e das suas organizações, e com bastante bonomia na opinião pública e imprensa. Perceber porque é que ainda assim o CDS descarrilou completamente não é tarefa fácil e o partido mereceria tempo para o fazer sem caças a bruxas ou autos-de-fé.

Se quiser apontar alguns momentos que me iam confirmando que não estava ali “o meu” CDS lembro-me logo da forma como se lidou internamente com o processo autárquico em vários locais do país (recordo Ponte Lima, Espinho ou Sintra, entre outros) ou de como se lidou com processos de eleição interna como no Concelho e no Distrito do Porto. A sede nacional apareceu em todos os casos com uma fúria centralista que levou a expulsões, desilusões ou afastamentos, e a feridas que ainda não sararam.

Fiquei ainda negativamente surpreendido com o apoio intempestivo a um segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa quando o próprio põe de cabelos de pé todos os apoiantes do CDS que conheço. Ou com serem votos do CDS e da sua líder a emprestar a maioria para uma lei que obriga empresas a definir os seus quadros de acordo com critérios do Estado e não dos de quem de facto arrisca o seu dia-a-dia no mercado.

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Foram estes momentos mais relevantes que outros e foi por eles que o CDS perdeu tantos votos? Não sei. Talvez tenha sido apenas um acumular em pouco tempo de pequenas questões, talvez tenha sido uma inábil gestão da comunicação, talvez tenha sido de tudo um pouco. O que me parece bastante claro, no entanto, é que o CDS não precisa de inventar nos conteúdos e nas políticas. O programa do partido às últimas eleições é um excelente documento e só pecou por ter sido pouco divulgado, até internamente, e por ficar por vezes a sensação de que acção nesta Legislatura não bateu certo com o seu conteúdo o que lhe tirou projecção.

Mas a verdade é que o momento é o de escolher a liderança. E eu vejo dois desafios importantes para o CDS: por um lado recuperar a situação administrativa e financeira do partido e reconquistar a confiança de funcionários, dirigentes e militantes locais; e por outro lado liderar o combate político de oposição ao Socialismo.

Em ambos os campos o João Almeida tem provas dadas. Tem o “defeito” de estar no CDS há muito tempo, dizem-me. E é verdade. Mas não é defeito. É assim que se acumula experiência: fazendo. Quando esteve na secretaria geral, recordo, teve um trabalho bicudo de recuperação dum partido delapidado e territorialmente mal implantado. E fê-lo com sucesso. À frente da Juventude Popular e no Parlamento liderou várias vezes as vozes que denunciaram medidas enviesadas e visões económicas desastrosas. E rodeou-se hoje, como o fez várias vezes no passado, de um grupo de pessoas que junta experientes e novatos na política, todos com provas dadas e sem regressos a passados que o CDS soube bem ultrapassar.

O CDS neste momento não precisa de refundações, de revoluções ou de messias. Precisa sim de alguma humildade (a que em 2015 talvez tenha faltado para que a coligação tivesse atingido a maioria absoluta) para se reconciliar com o seu eleitorado – humildade que tem transparecido nas intervenções do João nesta campanha interna. Precisa de experiência e mobilização dos seus quadros e de desenhar com tempo e sem precipitações uma estratégia para mostrar que a Direita em Portugal ganha mais em se apresentar unida, nas suas várias facetas e sabores democráticos, do que fraccionada. E precisa de mostrar que o CDS é alternativa para todos que acreditam no primado da pessoa contra o primado do colectivo. Afinal um grupo parlamentar plural, como em 2009 ou 2011, sempre soube mostrar um CDS diverso e representativo de todos os que estão contra o Socialismo em Portugal.

Já vão mais de dez anos desde que o CDS teve um Congresso Nacional disputado. Na altura muitos fugiram à responsabilidade de avançar num momento em que o CDS precisava de clarificação. O João Almeida avançou. Estive com ele nesse combate e volto a estar. O que nos unia e o que nos une é a certeza de que Portugal merece um CDS forte. Há uma alternativa de Direita, sem complexos e plural. E só há um voto para essa Direita.