Precisamos de uma Europa mais assertiva, mais firme e mais confiante. Uma Europa que jogue pelas suas próprias regras e saiba para onde quer ir. Uma Europa que não espera de mão estendida e traça limites claros, cuidando da nossa segurança e garantindo o crescimento do bloco comunitário.

Foi essa opção de futuro que os Estados Unidos foram chamados a fazer esta semana. Mas estas eleições não são um momento crucial apenas para os americanos, são-no para o mundo. Especialmente para nós, europeus.

As sondagens projetavam uma derrota de Trump, com muitos analistas e sondagens a prever a vitória de Kamala Harris. Este erro de previsão não expõe só falhas metodológicas na análise da sociedade americana. Revela que, na melhor das hipóteses, as elites políticas e os media continuam a interpretar mal as necessidades e preferências de uma parcela significativa dos eleitores, um problema que aliás não acontece apenas do outro lado do oceano.

E essa imprevisibilidade não é apenas um reflexo de uma sociedade polarizada. É também da capacidade de comunicar com segmentos da população que, talvez por conveniência ou descuido, foram negligenciados. Uma coisa é certa: a cultura woke perdeu. E perdeu no voto popular!

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Harris, ao focar-se na lógica e na retórica de franjas e vangardas em temas mais polarizadores e simbólicos, como movimento sociais e ambientais, pareceu ignorar as preocupações de grande parte da população. Esse tipo de discurso pode agradar aos jovens politizados nas universidades de elite, como aquela em que instalou a sua sede de campanha, mas não quer dizer nada, no mínimo, e acentua a revolta, no máximo, daqueles que procuraram quem defendesse os empregos tradicionais e a valorização do trabalhador comum.

O regresso de Trump à Casa Branca traz um conjunto de políticas e abordagens que, no passado, provaram ser difíceis de conciliar com os interesses da Europa. O agora 47.º presidente americano reforçou o seu compromisso com o protecionismo económico, a autosuficiência energética e uma abordagem isolacionistanas relações internacionais. America First é o lema da abordagem trumpista, não o mote para as políticas setoriais na economia, energia ou diplomacia.

Para a União Europeia, este é o momento de agir de forma independente e ambiciosa. Com Trump na liderança americana, a Europa não pode mais contar com o apoio automático dos EUA nas questões de segurança e de defesa, e precisa de fortalecer a sua posição se quiser afirmar-se como uma potência global. Isto não é alarmismo ou catastrofismo. É levar a sério as palavras do presidente-eleito.

Este poder depende de economias mais robustas e resilientes. Se queremos uma Europa forte, precisamos de encorajar o desenvolvimento económico interno, impulsionar a inovação e fomentar a competitividade. Isto implica que, em vez de depender do Estado para agir a cada crise, as nossas sociedades e empresas devem estar prontas para choques externos e ter espaço para ser mais dinâmicas.

A Europa tem de ter mais capacidade própria, não mais dependência externa. Precisamos de investimentos em tecnologia, energia renovável e infraestrutura digital, que posicionem os 27 na liderança do cenário global. De pouco importa ser pioneiros na regulação se não houver quem esteja a trabalhar nas tecnologias do futuro. Além disso, a resposta da UE às ameaças, sejam elas económicas, militares ou ambientais, precisa de ser mais rápidas e eficazes: a “resposta” de esperar pela decisão americana já não é opção.

Em períodos de instabilidade externa temos de voltar a ter agenda própria e particularmente forte mostrando que os 31 anos de União Europeia nos prepararam para momentos que de outra forma seriam de divisões internas.

Em suma, a Europa deve ver na reeleição de Trump uma oportunidade para repensar a sua posição no mundo. Tivemos tempo para o fazer por opção. Agora, temos de o fazer por necessidade. Esta é a hora de avançarmos para uma União Europeia mais focada, com apoiar economias fortes e preparadas para as adversidades. A Europa, neste momento de incerteza global, tem a oportunidade de mostrar que é capaz de atuar de forma independente.

É tempo de termos uma Europa confiante: a Europa do futuro é nossa para construirmos!