Possivelmente, depois de ter lido o título deste artigo está a questionar-se sobre a relação entre ensino superior e comunidade. Para complicar o raciocínio deixo outra questão: o que é uma “Universidade Cívica”? Na verdade, este é um tema ainda pouco explorado, mas que merece toda a atenção, uma vez que é essencial que se compreenda e reforce o papel que o ensino superior tem na nossa sociedade.
De uma forma prática, para se criar uma universidade cívica é preciso delinear uma estratégia que assente na contínua envolvência, promoção e desenvolvimento da comunidade a nível nacional e internacional, em determinado setor. Quando um Instituto Universitário atinge este tipo de perfil, podemos afirmar que é uma instituição voltada para a sociedade, ou seja, que utiliza o conhecimento ou até as próprias infraestruturas com o objetivo de ter um impacto positivo na vida dos cidadãos. Mas como é que se chega até aqui?
A resposta é também simples, o setor da educação tem um conjunto de ferramentas que pode utilizar em prol da sociedade, como por exemplo: projetos de intervenção local, clínicas e laboratórios universitários abertos ao público, ações que permitam aumentar a literacia da população, iniciativas de responsabilidade social sobre temas fraturantes e, por último, contribuir para a promoção de determinada região potenciando a inovação, investigação, excelência científica e o empreendedorismo. Um dos exemplos que revela a importância do ensino superior na comunidade em Portugal, são os hospitais e as clínicas universitárias abertas ao público. Estes funcionam como um serviço de apoio ao setor da saúde e, na maioria dos casos, desempenham uma função de inclusão de comunidades mais vulneráveis através de um serviço personalizado. Além disso, também existem outros projetos, como a intervenção psicossocial, que têm a missão de promover o bem-estar físico, psicológico e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Por último, mas não menos importante, o papel dos alunos na construção de uma universidade cívica é a peça-chave nesta estratégia. É a partir da comunidade estudantil que se consegue promover uma melhor sociedade global, mas para isso é preciso fornecer-lhes todas as ferramentas, experiências a nível profissional e aprendizagens para estarem preparados na hora de fazer a diferença, num mundo que está em constante mudança. O foco deve estar no estudante, nas suas competências e na sensibilização para que possam perpetuar na sociedade em que se inserem. Neste aspeto, a grande diferença de uma universidade cívica é que a formação dos alunos vai muito além do conteúdo lecionado, porque todos estes projetos em que há interação com a comunidade são uma mais-valia para que o dever cívico seja desenvolvido.
Assim, diria que o ensino de mãos dadas com a comunidade é o segredo para o futuro do setor da educação. Precisamos de nos adaptar e acelerar esta transformação com foco no cidadão para conseguir responder às necessidades e lacunas da nossa sociedade. Para além disso, entender que este contacto permanente com situações reais contribui para um ensino mais prático, longe do tradicionalismo, e fortalece a cooperação com a sociedade civil como um todo.