– Não sabes isso? Vai ao ChatGPT.

– Já sei como resolver o problema! Descobri no ChatGPT.

Ultimamente, só se ouve isto. Por que será?

Há 30 anos, íamos para as bibliotecas à procura da resposta. Atualmente, à distância de um clique, de um enter, de uma palavra, temos a resposta. Nunca o conhecimento esteve tão disponível e imediato. Para os nossos pais, tios, avós, esta evolução é inacreditável! E, quem já lhes tentou explicar o ChatGPT, ou o que é uma Alexa, percebe do que estou a falar.

Nos últimos anos, a inteligência artificial tem evoluído rapidamente e está cada vez mais presente nas nossas vidas. Esta veio revolucionar os dias de hoje, desde assistentes virtuais, telemóvel, relógio, carro, sistemas de vigilância, comunicação online, automação em fábricas, prevenção de ataques cibernéticos, pesquisa de informação e até reconhecimento de imagem na área da saúde. Podia estar aqui mais de meia hora a enumerar, pois há uma grande variedade de aplicações no nosso dia-a-dia que nem sequer imaginamos.

A forma como interagimos com as pessoas está a ser alterada pela inteligência artificial. Já não ligamos à tia a pedir a receita de um prato de bacalhau, vamos a um motor de busca, ou a uma aplicação de receitas onde apenas escrevemos os ingredientes que temos em casa, ou então pedimos à assistente virtual. Já não pegamos num papel para escrever a lista de compras, dizemos à assistente virtual para nos apontar na lista e enviar para quem for às compras. Já não esperamos pela meteorologia na televisão, perguntamos à assistente virtual, ou pesquisamos num motor de busca, ou então vemos numa aplicação. Já não temos a D.ª Laurinda que vinha aspirar a casa, temos o robot que aspira às terças e quintas às 9h.

Como o mundo evoluiu com a tecnologia! Programamos à distância a máquina de lavar roupa, o aquecimento e as luzes, e sabemos no telemóvel quem nos está a tocar à campainha. A inteligência artificial impactou nas nossas vidas de tal forma que nem nos apercebemos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Porém, algum de nós parou para pensar que a nossa privacidade pode estar a ser violada? Os nossos passos digitais a serem controlados, ou decisões baseadas em inteligência artificial serem erradas? Provavelmente, valorizamos tanto as vantagens que nem ponderamos no reverso, nem na necessidade de regulamentação, implicações éticas e de privacidade.

Será que vamos confiar completamente em tudo o que a inteligência artificial nos providencia? E daqui a uns anos, será que conseguiremos ter decisões autónomas, assentes em conhecimento e opinião verdadeiramente nossos? Ou, estaremos tão dependentes da ajuda da inteligência artificial e já nem temos capacidade de discernir por nós próprios? Estas perguntas pairam nas nossas mentes, juntamente com o potencial de revolucionar o modo como vivemos e trabalhamos.

No entanto, até isso acontecer, vamos continuar a “ser felizes” e a usufruir o hoje! Oferecemos uma assistente virtual àquele familiar que está só para ter companhia, um telemóvel à bisavó para fazer chamadas com vídeo aos bisnetos, um relógio inteligente ao tio que sofre de uma doença rara do coração identificada pela inteligência artificial, e continuamos a pedir sugestões personalizadas de restaurantes do nosso gosto.

Não haja dúvida que a inteligência artificial tem impactado significativamente a nossa vida do quotidiano, estando assim a moldar a sociedade de hoje e, por sua vez, o futuro. Assim sendo, deve ser usada de forma consciente, sem corromper os nossos valores morais, princípios, crenças, decisões, liberdade individual e do livre-arbítrio, nem prejudicar inclusive a sociedade. Urge então, estabelecer diretrizes claras para garantir que o uso da inteligência artificial seja feito de forma responsável e ética, para proteger os direitos, liberdades e a inteligência humana. A sua utilização pode até ser vista como um enriquecimento de inteligências, encontrando uma solução equilibrada e apropriada para que o seu impacto seja positivo para a sociedade e que continue a melhorar as nossas vidas.

Carolina Trigo é gestora de projetos de IT da DevScope desde 2018. Com background em Hotelaria e Marketing Digital, Carolina Trigo já passou por Espanha e Moçambique. É ávida de conhecimento, estando em constante busca de aprendizagem. Recentemente, foi nomeada para o prémio Portuguese Women in Tech na categoria “Product Manager”, que anteriormente tinha ganho em 2020, e também detém outros prémios na área de gestão de projeto. Nos tempos livres, adora estar com os amigos, viajar, ler, ouvir música e cozinhar.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.