O mundo gira em torno do sol enquanto gira sobre si mesmo. Hoje sabemo-lo, porque há 500 anos, um cientista, Nicolau Copérnico o descobriu e o escreveu no livro Sobre a Revolução dos Corpos Celestes. Nós, na verdade, também giramos com este mundo e aí não precisamos que nenhum cientista nos diga. Vemos isso todos os dias, nas mil e uma voltas que damos durante 24 horas. No meio desta giratória, os cientistas são aqueles que mais giram e ao mesmo tempo aqueles que mais param. Giram no meio de laboratórios e computadores. Param no meio de pensamentos e perguntas.
É isso mesmo que, sem pensarmos, exigimos dos cientistas, que girem como loucos na procura de respostas a perguntas. A falha vem depois, quando após todo esse rodopio a sociedade não para para os valorizar. Assim, os cientistas cumprem o seu dever perante a sociedade. No entanto, o contrário não acontece, a sociedade não cumpre o seu dever perante os cientistas.
2020 teria sido o ano ideal para anularmos essa dívida. Nesse ano, um vírus abalou todo o mundo e tudo passou a girar à volta da palavra COVID. Em nome científico, Orthocoronavirinae assustou até mesmo os cientistas. Mas, enquanto o mundo girou uma única vez à volta do sol, os cientistas giraram milhões e milhões de vezes em torno de moléculas de RNA e PCRs.
Em menos de um ano, o desconhecido virou rotina, sabemos o que é o Covid, sabemos como viver com ele e estamos a começar a saber como nos libertar dele. Assim, o mundo mudou e desta vez nós apercebemo-nos, ao contrário de tantas outras em que a ciência também o fez para nós. O que não aconteceu, novamente, foi a valorização dessa mudança revolucionária que a ciência foi capaz de fazer no mundo. Não os valorizamos, aos cientistas e ao seu trabalho transformador.
Se, como diz a OMS, a solução acontecesse em 2022 – embora pareça distante – seria um grande sucesso, considerando o tempo que se levou para obter outras vacinas e aplicá-las em grande parte da população mundial. O tempo normal para o desenvolvimento de uma vacina eram 15-20 anos. Os cientistas de hoje fizeram-no em 10 meses. E fizeram-no bem, sem avançar caminhos nos projetos, nos testes ou na fabricação. E ainda o fizeram melhor! Porque o fizeram na base de uma técnica nunca antes utilizada para prevenir infeções. O mundo está constantemente em experimentação e, graças aos cientistas, em constante melhoria. O fascínio pelo desconhecido move cada dia de um cientista e o mundo insiste em nos fascinar e desafiar ainda mais a cada minuto que passa.
Em 2020, não o fizemos, mas podemos fazê-lo após 2021 anos. Podemos este ano, talvez até hoje, dedicar um minuto das nossas vidas apressadas para parar. Nesse momento, olhemos para tudo o que gira à nossa volta e, se calhar, podemos ver um bocadinho de ciência naquilo que nos rodeia. É aí que podemos pensar e questionar, mas não nos precisamos de preocupar porque nesse preciso momento algum cientista neste mundo está a trabalhar para nos responder. Depois, só temos que o valorizar. Só temos que lhe agradecer. E isso bastará para que esse cientista sinta que todas as voltas e voltas valeram a pena.
É certo que não há nada mais giro do que girar. O incerto está na paragem desse constante movimento. E acreditem, nesse momento incerto de pausa surgirá muitas certezas que nos farão girar melhor.
Andreia Pinho é estudante de Doutoramento em Ciências da Saúde e fundadora da página de comunicação de ciência Science Wave. É ainda voluntária em instituições como a Re-Food e por tudo isto não é de estranhar que viva na base do desafio, da possibilidade de crescimento todos os dias. Ama o sol e o mar, fotografar e amar.
O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.