Já antes da pandemia de COVID-19, as famílias, os professores e os profissionais de saúde se preocupavam com o aumento dos problemas de saúde mental das crianças e dos jovens. Os anos da pandemia vieram acentuar a necessidade de eleger a saúde mental e o bem-estar como uma prioridade de toda a comunidade escolar.

Atualmente, na Europa, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre os jovens. Uma em cada cinco crianças e jovens sofre de problemas de saúde mental, sendo a ansiedade e a depressão responsáveis por mais de metade dos casos. Destas, apenas um terço a metade recebe o tratamento necessário. Como na generalidade dos serviços de saúde europeus, a capacidade dos serviços de saúde mental em Portugal é limitada e muitas crianças e jovens só recebem algum tipo de apoio quando os problemas já evoluíram para situações graves ou crónicas. As intervenções de caráter preventivo, que poderiam levar à identificação precoce de problemas de saúde mental, são ainda escassas e pouco estruturadas.

Perante este preocupante cenário, o que pode ser feito para resolver esta situação?

Desde logo, é importante reconhecer que a saúde mental das crianças e jovens é um problema que não diz respeito apenas aos serviços de saúde e aos profissionais de saúde. A par das famílias, são os professores que mais tempo passam com as crianças e jovens. Por isso, podem contribuir decisivamente para criar um ambiente propício à saúde mental na escola. Podem também reconhecer, precocemente, os motivos que se escondem por detrás de problemas de comportamento ou de aprendizagem de um aluno e dar-lhe o apoio que ele necessita. Isso inclui compreender as vulnerabilidades do aluno a da família e, quando apropriado, pedir a colaboração de outros profissionais (como psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, médicos). Se esses aspetos forem ignorados, o aluno acabará apenas por ser repreendido ou alvo de medidas disciplinares, sem receber qualquer apoio, o que vai agravar a sua culpabilidade, desinteresse e desmotivação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas é possível pedir aos professores que, para além da enorme carga de trabalho que já têm, assumam esta responsabilidade?

Os professores já compreenderam, há muito tempo, que a saúde mental da comunidade escolar é um pressuposto essencial para que o processo de ensino-aprendizagem tenha sucesso. Contudo, a maioria dos professores recebe escassa formação sobre como identificar e compreender os problemas de saúde mental. Por isso, muitos professores não se sentem preparados para lidar com os problemas de saúde mental dos seus alunos.

É necessário melhorar a formação de professores na área da saúde mental, durante a sua formação pré-graduada e durante a sua formação contínua ao longo da vida. Os currículos para a formação dos professores devem prepará-los para que assumam a promoção da saúde mental e o apoio ao bem-estar dos seus alunos como parte integrante da sua profissão. Isso trará benefícios óbvios para o desempenho da sua profissão, para o sucesso dos alunos, para os serviços de saúde e para toda a sociedade.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

Uma parceria com:

Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento Hospital da Luz

Com a colaboração de:

Ordem dos Médicos Ordem dos Psicólogos