Há um fenómeno a acontecer. Dois, aliás. O primeiro, para ser entendido, requer que abramos o ouvido e – caso queiram acompanhar a leitura deste escrito como o Cronista sugere — ponham uma música dos Capitão Fausto a tocar. Se já pôs e está a ouvi-la, então o fenómeno explicar-se-á por si. Vamos ao próximo.

O segundo requer que entendamos o que o ouvido aberto trouxe. Não no sentido de dissecar as letras; mas ir mais longe. Proponho-me a explicar o porquê de o sucesso desta banda ser relevante para uma análise sociológica da juventude portuguesa. Os Capitão Fausto estão a dar voz a uma geração muda através da sua arte. A banda torna-se, para alguns, um extensão deles próprios.

Isto, meus caros, acontece, pois, o ronronar dos instrumentos e as palavras do Tomás ecoam como os sinos de Pavlov nas almas dos jovens adultos portugueses. Quando os ouvem, sentem que na verdade estão é a ser lidos – e correm atrás. O porquê não é difícil entender. Os Capitão cantam – docemente — os dilemas peculiares de uma geração pensante. O facto de já termos crescido. As crises de identidade. A tristeza interrompida pela boémia. O medo de sair de casa. O conforto das saias da mãe. A pressão para encontrar trabalho. Ter de seguir uma carreira. O desleixo e a procrastinação. A clássica luta de sábado à noite entre o Carpe Diem e ter de ir trabalhar na segunda.

Há, por isso, uma bandeira de irreverência e irresponsabilidade altamente hasteada, o que – se tivermos em conta a insustentável leveza do ser – não é necessariamente condenável e pode ser vista de forma poética. Procuramos adiar o “corpo de homem feito, fruta para o jantar” e vamo-nos, entre cervejas, arrastando. A minha mãe chamar-nos-ia mimados. Talvez sejamos mesmo. Contudo, não acredito que seja apenas mimo o que os Capitão Fausto espelham por nós. Há mais. Devemos olhar para eles e procurar entender o porquê de serem tão ouvidos e queridos. O porquê de termos uma geração de jovens incompreendidos, preguiçosos e sem perspetivas de futuro — os mesmos que com 18 anos começam a ler Nietzsche e Simone de Beauvoir. Não estamos a falar de acéfalos. Estamos a falar de potenciais intelectos que simplesmente não tem vontade de fazer nada. Qual é a razão do desenquadramento? Qual é a razão para o desinteresse e a procrastinação serem as epidemias da Geração Capitão Fausto? Serão questões existenciais, ou – e dando razão ao instinto maternal – trata-se efetivamente de mimo em demasia? Deixo as questões e, não tendo autoridade moral para condenar alguém, noto apenas uma coisa que os Capitão Fausto estão a fazer há muito: espelhar este sentimento.

O fenómeno Capitão Fausto não deve ser balizado a uma faixa etária. Afinal, os problemas que eles expõem são transcendentes – quer no âmbito intergeracional, quer no âmbito humanístico. A questão da morte. A questão da procura pelo amor. O procurar distrair a tristeza. As questões triviais do dia a dia. Eles materializam estes sentimentos e transformam-nos em arte. Não falam só por uma geração, mas por todos os que pensam e estranham a vida de vez em quando. As suas letras, e a necessidade da sensibilidade para seu entendimento, balizam automaticamente os seus ouvintes: gente pensante, culta e que se questiona.

É por isso que são tão importantes. São o espelho da sociedade de amanhã. Quem os ouve são os desconhecidos do agora e os conhecidos do futuro. São os escritores, políticos, engenheiros e jornalistas do agora. São os desempregados e os médicos do futuro. Quem os ouve são o futuro e o presente do país, e é importante saber qual é a mensagem que molda o pensamento intelectual destas pessoas. É, por isso, nosso dever, ouvir os Capitão Fausto para se poder ler esta geração.

21 anos, estudante universitário de  Relações Internacionais

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