A formação de cidadãos conscientes e com ambição de ter um impacto positivo no mundo começa logo nos primeiros anos de vida. Se apostarmos no desenvolvimento das crianças de hoje, teremos adultos trabalhadores e sustentáveis com conhecimento e capacidade para resolverem problemas e gerarem novas oportunidades nas suas comunidades. A questão que se levanta é se temos um sistema educativo preparado para desenvolver as competências do futuro. A transformação digital que tem fundido os mundos online e offline não irá abrandar e temos de avaliar se estaremos a dar as ferramentas e competências que serão necessárias aos profissionais do futuro.

Como podemos organizar o excesso de informação que existe atualmente, de forma a que se encaixe como peças de um puzzle em cada criança, desenvolvendo individualmente as suas capacidades, atitude, talento e sonhos únicos? Já não existe uma fórmula única para todas as crianças. Os métodos de ensino têm de mudar e dar espaço a uma aprendizagem contínua ao longo da vida.

Esta mudança exigirá tempo e vontade, exigirá que alunos e educadores trabalhem juntos para incutir uma mentalidade de crescimento, onde a curiosidade, a criatividade e a coragem de enfrentar o desconhecido se tornam os ingredientes para a aprendizagem das competências do futuro e formação dos inovadores de amanhã. Só quando tivermos alunos que se tornam inovadores é que os poderemos capacitar para serem os próximos geradores de inovação, abordando diretamente os problemas das suas comunidades locais e, como resultado, melhorando a qualidade de vida ao seu redor.

Acredito que as escolas são essenciais para as crianças, enquanto fonte de conhecimento e de crescimento. Os currículos escolares, indispensáveis à compreensão do mundo que nos rodeia, não são o único bem que uma escola pode proporcionar. É aqui que também se desenvolvem competências sociais para viver em sociedade, algo que não se adquire em casa, ou através de um computador. Com a pandemia, esta realidade social não foi transposta, revelando uma estagnação do setor que nos surpreendeu a todos. No entanto, como a otimista que sou, acredito que é nas alturas de maior dificuldade que nos tornamos mais fortes e numa melhor versão de nós próprios.

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Nos últimos anos, em conjunto com colegas, temos vindo a repensar os métodos de ensino e a refletir sobre a melhor forma de criar pessoas empáticas, bondosas, à procura de aprendizagem contínua e com uma mentalidade orientada para o crescimento e para a superação.  Devido à atual situação pandémica que vivemos, para as crianças e jovens em idade escolar é cada vez mais importante adotar um sistema de ensino híbrido, não apenas no formato, mas que complemente as lições da sala de aula com a experiência do mundo real de trabalho, e identificámos quatro pontos chave que devem ser tidos em conta:

  1. Bem-estar emocional e saber socializar no digital. A ética da comunicação online, onde abordamos o desenvolvimento de empatia e da compreensão do funcionamento das comunicações no mundo digital, é algo que deve ser ensinado às crianças. É fulcral motivar professores e crianças a comunicar para fortalecer uma relação que está marcada pela distância adjacente e que pode levar a interpretações erradas e afetar a criança no seu desenvolvimento emocional e psicológico.
  2. Devemos passar de um estado reativo a um estado criativo, utilizando as aprendizagens e erros do primeiro confinamento e para fazermos melhor agora. Devemos assumir que a educação como a conhecemos nunca mais será a mesma e colocar as nossas mentes criativas ao dispor deste setor, ajudando os professores na transição para um sistema de ensino híbrido.
  3. Não somos todos iguais e não devemos seguir todos o mesmo caminho. Por isso, devemos fomentar a passagem de um sistema generalizado de ensino para o desenvolvimento de mapas personalizados para cada aluno. Após captar os estilos de aprendizagem e capacidades únicas de cada criança, o professor pode definir o mapa de aprendizagem onde é possível desenvolver um processo de acompanhamento individual, proporcionando um acesso igualitário e justo à educação. Os recursos necessários para a implementação destes mapas são variados e complexos, existindo, assim, a necessidade de um apoio mais dedicado dos professores durante todo o processo. Contudo, esta mudança é possível, se houver uma vontade do atual sistema de ensino para aceitar evoluir para um sistema personalizado e se houver coragem para reestruturar todo o sistema de educação.
  4. Por fim, com a reabertura das escolas, devemos proporcionar uma continuidade no processo de aprendizagem com base nestas mesmas ferramentas, onde o foco é a cooperação. As crianças devem ter as ferramentas necessárias e perceber a melhor forma de as usarem, fomentando a motivação e o seu crescimento pessoal na construção do seu futuro.

Todas estas mudanças são, como me disse uma grande amiga, como alterar um avião enquanto está no ar. Não é impossível, mas certamente exigirá um enorme trabalho e dedicação. Acredito que o modelo de ensino deve providenciar uma educação contínua ao longo da vida, num formato mais curto e focado nas competências de cada pessoa. Toda esta determinação e foco necessários para fazer acontecer são motivados pela ideologia de que estamos a investir no futuro das nossas crianças e, consequentemente, do nosso planeta. Não estamos sozinhos na ambição de construir um novo sistema, muitos educadores trabalham diariamente neste âmbito e esperamos que ainda mais se juntem.