A evolução histórica do ser humano é muito curiosa. Diz-se que o mais antigo fóssil Homo tem cerca de 2,98 milhões de anos, uma quantidade de tempo que é inimaginável. Ao longo destes quase três milhões de anos, o ser humano passou por milhares de mudanças significativas, até chegar aos dias de hoje. Iniciou o seu percurso num contexto extremamente primitivo, ainda sem saber muito bem o que estava por cá a fazer – tinha de caçar para sobreviver, como sabemos. Depois, começou a fazer pinturas rupestres em cavernas e esta seria a sua forma de comunicar e explicar aos seus pares algumas dinâmicas do quotidiano. Plantou ainda algumas espécies e criou mecanismos para facilitar a sua vida e, daqui, seguiu-se o desenvolvimento de tecnologias que, de repente, impulsionaram a Revolução Industrial. A tecnologia foi evoluindo e evoluindo até hoje. Sem dúvida que esta é uma forma muito macro de olhar para as coisas, mas o meu objetivo, na verdade, é explicar que existe um fator comum em todos os momentos da nossa evolução: a reflexão sobre o nosso ser e a sua redefinição, a partir da busca da resposta às perguntas “quem sou eu?”, “como me relaciono com os outros?” e, claro, “o que é que eu quero representar?”.

O ser humano tende a repensar sobre o seu papel, sempre que passa por uma mudança representativa. E, hoje, estamos a passar por esta transição, ao entrarmos numa nova era. O futuro parece mais perto do que nunca, porque já o estamos a viver. Estamos a presenciar alterações significativas no nosso quotidiano, na forma como nos vemos a nós próprios e no nosso comportamento. Ouvimos falar de “humanos digitais”, “experiências imersivas”, “metaverso”, “NFTs”, “Blockchain” e tantas outras expressões, muitas delas carecendo ainda de alguma materialização, e vamo-nos adaptando a elas. Não deixa de ser curioso que, à medida que vamos tornando o nosso mundo um pouco mais tecnológico, procuramos fazê-lo de uma forma a que este se torne um pouco mais humano, perguntando-nos: como é que asseguramos que a nossa representação digital é mesmo uma extensão do nosso self? De que maneira vamos criando relações interpessoais? E o que significa ter uma identidade digital?

O humano é um ser de relações. Precisamos de comunicar, de criar elos de ligação com outras pessoas, seja através de sinais de fogo, do pombo-correio, do papel e da caneta ou, mais recentemente, dos aparelhos tecnológicos. De acordo com o relatório “DIGITAL 2022 – Global Overview”, divulgado no início deste ano, passamos quase sete horas online por dia, ou seja, estamos profundamente submersos naquilo que as empresas nos têm para oferecer através das redes sociais. A nossa identidade já é digital – e plural. Temos várias identidades, porque já temos diferentes representações nossas nos variados suportes que a tecnologia oferece.

É normal ler isto e pensar “passar muito tempo online não significa que tenho várias representações, ou que a minha forma de me relacionar é diferente daquilo

que foi outrora”. Mas basta olhar para a forma como nos relacionamos connosco próprios, quando estamos a utilizar algum tipo de serviço tecnológico. Queremos sempre mostrar uma determinada característica através das nossas redes sociais, mais do que o pretendemos fazer no “mundo físico”. Vamos testando aquilo que é mais aceite por quem nos segue, por quem deixa gostos nas nossas fotos, por quem comenta os nossos status.

Estamos imersos na tecnologia e esta evolução tecnológica está a levar-nos a uma era de 3D e a um momento em que não só olharemos para um ecrã como vamos estar, de facto, lá dentro, a presenciar e a sentir a 100% aquilo que está a acontecer nesse local online. A nossa identidade digital vai ser 3D. E nós vamos querer, cada vez mais, que ela seja, também, humana. Digitalmente humana. Caminhamos num sentido de humanizar a tecnologia. E só o podemos fazer se a(s) nossa(s) representação(ões) em 3D forem autênticas, genuínas e quebrarem barreiras que o offline tantas vezes coloca. Se possibilitarem que tenhamos uma extensão digital do nosso self.

Ao que tudo indica, somos vários a “remar” para o mesmo lugar. As empresas desta área estão a trabalhar para responder a estas novas questões que os consumidores colocam e necessidades que procuram preencher, criando experiências imersivas, em várias indústrias diferentes, como Gaming ou Moda. Querer uma identidade digital o mais humana possível não é um contrassenso. É o futuro. Ou melhor, o presente.

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