Nos últimos anos, Portugal tem estado a afirmar-se como um centro de inovação tecnológica na Europa. O ecossistema de startups tem vindo a crescer e temos empresas que não só competem a uma escala global mas que são líderes nos seus mercados.

Existem inúmeros incentivos, vc’s, investidores, incubadoras e aceleradoras prontos a ajudar qualquer pessoa que queira começar a sua startup. Não é incomum ler-se sobre unicórnios, rondas de investimento milionárias, ideias disruptivas, crescimento e escala, e do “move fast and break things” em exemplos portugueses.

No entanto, a ideia de um estilo de vida frenético e sempre ligado, muitas vezes associada às startups, em que para se vingar no mercado é preciso passar noite e dia a trabalhar, pode não ser atrativa para todos. Mas há boas notícias.

A realidade é que nem só de startups vive o mundo empresarial. É possível criar uma empresa, ter crescimento sustentável e alcançar sucesso sem assentar o negócio em modelos disruptivos, investidores ou ter de dominar o ecossistema.

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Existem vários exemplos de empresas portuguesas de sucesso, que optaram pelo bootstrapping, não recorrendo a financiamento externo e usando antes as suas poupanças e lucro para operar e expandir o seu negócio. Num modelo alternativo ao das startups, conseguem também criar empresas de sucesso e alcance global, com um ritmo de vida possivelmente mais sustentável.

A um nível pessoal, confesso que nunca gostei do termo “empreendedor”. Parece-me demasiado pomposo e talvez por isso nunca me identifiquei como tal. No entanto, há quatro anos abri uma empresa de design de produtos digitais. As motivações para começar a minha empresa eram simples. Queria a possibilidade de trabalhar como, quando e onde quisesse e ter a capacidade escolher os meus projetos e trabalhar em causas que acredito.

A vontade de ter um projeto próprio já existia há muito tempo, mas só em 2016 tirei finalmente a ideia do papel, escolhi um nome, formei equipa e comecei a trabalhar. Até lá, a ideia de deixar para trás um emprego estável e com possibilidades de crescimento para agarrar a incerteza de criar a minha empresa causava-me medo.

E se falhar? E se não tiver clientes? E se mudar de ideias? E se… e se… e se.

Em todos os cenários que fiz do que poderia correr mal, o cenário de uma pandemia global que obriga toda a gente a ficar em casa durante meses, onde morrem milhares de pessoas e há um crash da economia global, não foi um deles.

Mas abrir uma empresa é isso mesmo. É não saber o que vai acontecer a seguir e uma necessidade de adaptação constante. De um momento para o outro, os nossos objetivos, OKR’s e métricas podem mudar. É planear para o pior, esperar o melhor e continuar a trabalhar.

Portugal precisa de mais empreendedores. Para fazermos face à grande recessão que aí vem precisamos de pessoas dispostas a tomar a iniciativa, capazes de identificar oportunidades, enfrentar adversidades e arriscar. Temos a geração com mais formação de sempre do país. Tivemos oportunidade de estudar, viajar e ver o que melhor se faz cá dentro e lá fora. E agora temos também oportunidade de pôr as nossas ideias em prática.

Quer seja com startups ou negócios tradicionais, com uma pessoa ou mil, precisamos de mais pessoas a empreender. O nosso futuro depende de termos coragem para arriscar e correr atrás dos nossos sonhos.

Leihla Pinho é a fundadora e diretora de design da Major, um estúdio de design de produtos digitais com sede em Lisboa. É mentora na comunidade Portuguese Woman in Tech e na The New Digital School. Foi professora de Design de Interfaces e User Experience Design na pós-graduação em Digital Experience Design da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.