Agora que entramos na “silly season” da política e considerando o que nos trouxe até aqui, tivemos um ano bastante atribulado em Portugal. Foram muitos e desafiantes momentos para o país, que enfrentou eleições nacionais, regionais e europeias.

Os eleitores foram chamados a votar em todos os atos, expressando o reforço do parlamentarismo e obrigando os partidos a negociar as principais soluções políticas. Mesmo com a frequência das eleições neste início de ano, os portugueses têm cumprido a sua parte, e a abstenção não tem evidenciado grandes oscilações. Nas eleições para a Assembleia da República, a abstenção baixou cerca de cinco pontos percentuais relativamente às eleições de 2022. Nos Açores, houve uma diminuição da abstenção de cerca de 5% em relação a 2020. Na Madeira, entre o ato de 2023 e 2024, a abstenção manteve-se nos 46%. No caso das europeias, a abstenção foi de 64%, dentro do habitual.

É evidente que os portugueses estão cansados do ruído em torno das eleições, da paralisia provocada pelos contextos eleitorais, dos gastos envolvidos, da discrepância entre o que se discursa e o que se pratica e do adiamento da introdução do voto eletrónico seguro, que facilitaria o exercício do voto.

Não há dúvida de que os que mais temem novas eleições — e, portanto, estão mais cansados delas — são os partidos políticos e os seus representantes.

Os enquadramentos parlamentares têm colocado a vida política portuguesa em suspenso, com a ameaça de novas eleições pairando sobre todos os documentos estratégicos e na imposição de opções políticas fora do comando de quem governa.

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No plano nacional, se os partidos tivessem indicadores que mudassem o contexto, as dificuldades de governação ou até mesmo reforçassem a votação, designadamente a AD, que atualmente tem 78 deputados, o PS com 77 ou o CH com 50, o país seria levado para novas eleições legislativas nacionais.

O PSD, liderado por Luís Montenegro, tem tido um bom desempenho, apesar da governação em minoria e da esforçada negociação, embora ainda não se tenha refletido positivamente nas sondagens.

O PS, sob a liderança de Pedro Nuno Santos, abdicou, logo após as últimas eleições, de ser parte do problema e de impedir a formação do governo. Tem exercido uma pressão parlamentar assinalável e, embora algumas sondagens o coloquem à frente do PSD, não tem margem para desejar eleições.

Por sua vez, o CH, liderado por André Ventura, é o partido que terá mais motivos para resistir a eleições. Os seus últimos posicionamentos e o indicador das eleições europeias não foram animadores.

As negociações sobre o Orçamento do Estado para 2025 começaram antes das férias, mas não sabemos se resultarão em estratégia ou efetividade da negociação parlamentar, cabendo ao PS e ao CH serem os fiéis da balança.

Nos Açores, a coligação liderada pelo PSD conseguiu ver aprovados os seus documentos estratégicos para a governação da região, apesar de um governo minoritário.

Na Madeira, após o impasse político, que não passou de meros episódios propagandísticos, a governação está assegurada, mas exige um olhar atento para o que aí vem.

Perante este estado de comprometimento e da necessidade de diálogo constante e de consensos interpartidários, será curioso acompanhar os próximos tempos da política do país e das Regiões Autónomas.

Os portugueses desejam que o país avance com ideias de governação que se reflitam num país de futuro e moderno, justo e solidário, amigo dos jovens, das famílias e das empresas, que resolva os problemas da habitação, das sobrecargas fiscais, e que seja gerido com transparência e responsabilidade.

Em contrapartida, os objetivos dos partidos políticos são mais estratégicos, o que tantas vezes confunde o superior interesse público com o oportunismo político, levando ao afastamento dos cidadãos.

Os portugueses estão cansados de estratégias, da falta de palavra de alguns políticos, da falta de empatia e da incapacidade dos políticos de lerem os sinais dos tempos. Mesmo que usem os números eleitorais para lhes assegurar garantias que na prática não têm, agir em política exige uma visão que vá além do imediato.

Que na “silly season” os partidos se preparem para a rentrée política com energia renovada e humildade para enfrentar os desafios, o escrutínio e as negociações que serão permanentes e exigentes. Em política, só é certo o momento, porque as circunstâncias, contextos e acordos mudam, até porque foi inédito o que aconteceu no início deste ano e não existem garantias de como terminará.