Aquele dia 8 de maio jamais deixará de ser uma memória pesada. Acredito que todos os jovens que emigraram se lembram do dia em que partiram. Portugal passa a ser um lugar que está longe (mesmo que mais perto para uns do que para outros), e mais do que isso, quase um lugar que não nos quer ou não nos merece.
Costumo dizer que, por muito sucesso que tenhamos lá fora, por muito que tudo corra bem, nada apaga a dor de partir.
A emigração crescente de jovens portugueses qualificados é um tema que não pode passar ao lado de ninguém. Em primeiro lugar, da vida política nacional, ainda para mais, em contexto eleitoral, num cenário de deriva em que o país parece votado ao rumo de estar eternamente de mão estendida a Bruxelas, ultrapassado por todos os que vêm chegando.
Estamos a falar do futuro de todos, da sustentabilidade do nosso modelo económico e social. Como se equilibra a saída de tantos e tantos jovens, que acabam por se estabelecer lá fora, formar família e passar a ter em Portugal apenas um belo lugar para passar férias? Os novos emigrantes já não pensam em criar riqueza no país de origem, já não vivem comedidos onde se estabelecem a sonhar com o dia do regresso. É preciso que os governantes estejam preparados para dar resposta a isto. Aliás, era preciso que estivessem, porque a emigração desenfreada de quadros que fazem falta ao país já se arrasta há vários anos.
É preciso recuar mais de uma década. A fatura da “troika” chegou para quase todos, e continuará a chegar. Não vem atrasada, não. É assim mesmo que a realidade se desenrola. O PS de José Sócrates, que convenceu o país para uma maioria absoluta nas legislativas de 2005 e ainda venceu a eleição seguinte, foi o primeiro a ser cobrado. Veio o PSD de Passos Coelho, no papel de cobrador, e mesmo vencendo em 2015, viu os papéis inverter-se e pagou a fatura, agora cobrada pela “geringonça” à esquerda liderada por António Costa. Mas não foi a plataforma de esquerda que travou este movimento migratório que deixa um país por concretizar. E esse não é o único preço que pagamos.
Vamos celebrar 50 anos desde o 25 de abril de 1974. Já parámos para pensar como se sentem os pais e os avós destes jovens, que não conseguem impedir que os seus filhos e netos rumem a outras paragens? Este preço também existe e não se fala muito dele. Há uma ferida por sarar em milhares de famílias portuguesas. Quem passa por isso sabe. Tantos e tantos que partimos zangados, revoltados, de coração caído, porque nos roubaram a esperança.
Quem são os responsáveis por este cenário? Quem paga por estas lágrimas dos emigrantes e das suas famílias? Continuaremos a esperar que os partidos que alternam no poder, cheguem finalmente à conclusão que é preciso fazer diferente, que tenham um espírito verdadeiramente reformista?
A solução não está em discursos redondos, populistas, que fazem muito barulho, que prometem mundos e fundos sabe-se lá com que recursos. O grande desafio de Portugal está em devolver a esperança às pessoas. Devolver o brilho aos olhos dos jovens (e menos jovens), dos empreendedores, dos que não se conformam, dos que procuram criar o seu próprio emprego, que se desdobram em atividades extra, que se requalificam, mas que tantas e tantas vezes são desencorajados pelo próprio sistema e se sentem estrangulados por burocracias, taxas e taxinhas ou afogados em impostos.
Não haverá nada mais trágico do que tirar a alguém o mérito da sua ambição, como se fosse uma ousadia, um ato imperdoável.
Não haverá nada mais trágico do que continuarmos a ser um país que se compadece em ser um triste fado para os jovens, que frustra expectativas e que derrota o empenho de quem quer vencer… cá dentro.