Setembro, mês dedicado aos cancros do sangue, caminha para o fim. As  doenças malignas do sangue são, numa explicação simplificada, um grupo  diversificado de cancros que afetam a medula óssea e o sistema linfático.  Embora algumas destas patologias, como é o caso da leucemia, do linfoma e  do mieloma múltiplo, sejam mais conhecidas do público, existem outras menos  comuns e, muitas vezes, com prognósticos menos favoráveis. São exemplo  disso a Síndrome Mielodisplásica e a Macroglobulinemia de Waldenström. No  rescaldo deste mês dedicado à sensibilização da população para os cancros do  sangue, também referidos como doenças hematológicas, importa refletir sobre  o caminho que está a ser traçado no âmbito da prevenção e acompanhamento  destes doentes.

Segundo os dados mais recentes para Portugal – da plataforma internacional  Globocan –, foram registados, em 2020, 60 mil novos casos de cancro, sendo  que, deste total, os cancros do sangue ou sistema linfático representam cercade oito por cento. São 4.700 pessoas a sofrer de patologias que passam  facilmente despercebidas, tendo em conta um estilo de vida cada vez mais  acelerado, propício à desvalorização de sintomas iniciais por serem  confundidos com outros problemas menos graves. Cansaço, perda de peso,  dores nas costas, falta de concentração, nódoas negras, febre, suores noturnos  ou nódulos no pescoço são alguns dos sinais de alerta que devem ser  investigados e ter acompanhamento adequado.

Consciencializar, sensibilizar – em suma, apostar na prevenção – é o primeiro  passo de um trabalho contínuo que deverá acompanhar os doentes desde o  diagnóstico, preferencialmente precoce, até ao tratamento. Além de alertar  para os sintomas iniciais, a divulgação no âmbito das doenças malignas do  sangue é fundamental para desmistificar informações, apresentando uma visão  clara e objetiva sobre as características destas patologias, e para garantir que  os doentes têm acesso a uma rede de apoio, que ofereça suporte prático e  emocional, assim como a possibilidade de partilhar e trocar experiências.

Face à disponibilidade limitada de soluções adaptadas para responder às  necessidades psicológicas e físicas dos doentes com cancros do sangue, o  papel das associações e comunidades dedicadas às doenças malignas do  sangue torna-se crucial no esforço para melhorar o bem-estar e a qualidade de  vida de todos os que passam pelo processo penoso que se inicia com o  diagnóstico, mas que não termina, necessariamente, na remissão. A  importância da reintegração social e a consciencialização para o impacto  psicossocial destas patologias, cuja raridade é frequentemente isoladora e o  tratamento tem fortes repercussões na capacidade de viver o dia a dia, pode e  deve ser reforçada.

Ao apoio à reabilitação física e psicológica dos doentes acresce, também, o  alívio do “fardo” financeiro, assente, por exemplo, no custo das deslocações e na perda de trabalho como consequência dos tratamentos. Os avanços na  hematologia têm proporcionado progressos significativos no tratamento das  doenças do sangue. Novas terapias e abordagens estão a ser constantemente  desenvolvidas, levando a melhorias significativas na qualidade de vida dos  doentes. Além da melhoria do prognóstico, os novos tratamentos têm vindo a  apostar na redução dos efeitos secundários, permitindo que os doentes  mantenham uma vida mais ativa durante o tratamento. Assegurar que todos os  doentes têm acesso às terapias necessárias, com o menor impacto possível no  quotidiano, é também parte de uma batalha que só pode ser enfrentada em  conjunto.

Setembro está perto do fim, mas o esforço de sensibilização e as  oportunidades que se abrem com a divulgação das doenças hematológicas não  podem ficar por aqui. A aposta na prevenção e apoio aos doentes é uma  missão de todos os dias, que envolve o esforço contínuo e o contributo de  todos. Quando a informação tem poder suficiente para salvar vidas, o trabalho  nunca está concluído.

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